''(...) Acredito que a teoria — pelo menos alguma teoria ou
expectativa rudimentar — vem sempre primeiro; que precede sempre a observação:
e que o papel fundamental das observações e dos testes experimentais é mostrar
que algumas das nossas teorias são falsas e, assim, estimular-nos a produzir
outras melhores.
Conseqüentemente, afirmo que não partimos de observações,
mas sempre de problemas — de problemas práticos ou de uma teoria que caiu em
dificuldades. Uma vez que defrontemos um problema, podemos começar a trabalhar
nele. Podemos fazê-lo por meio de tentativas de duas espécies: podemos
prosseguir tentando primeiro supor ou conjecturar uma solução para o nosso
problema; e podemos depois tentar criticar a nossa suposição, habitualmente
fraca. Às vezes, uma suposição ou uma conjectura podem suportar por certo tempo
a nossa crítica e os nossos testes experimentais. Mas, via de regra, logo
descobrimos que as nossas conjecturas podem ser refutadas ou que não resolvem o
nosso problema ou que só o solucionam em parte; e verificamos que mesmo as
melhores soluções — aquelas capazes de resistir à crítica mais severa das
mentes mais brilhantes e engenhosas — logo dão origem a novas dificuldades, a
novos problemas. Assim, podemos dizer que o crescimento do conhecimento avança
de velhos problemas para novos problemas, por meio de conjecturas e
refutações.''
-- Karl Popper; A lógica da pesquisa científica.
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