"Outra afirmação nociva, sincera em alguns, mas que,
para outros, é apenas desculpa, é que o meio social atual não permite que se
seja moral, e que, conseqüentemente, é inútil tentar esforços destinados a
permanecerem sem sucesso; o melhor a fazer, é tirar das circunstâncias atuais o
máximo possível para si mesmo sem se preocupar com o próximo, exceto a mudar de
vida quando a organização social tiver também mudado. Certamente, todo
anarquista, todo socialista compreende as fatalidades econômicas que, hoje,
obrigam o homem a lutar contra o homem; e ele vê, como bom observador, a
impotência da revolta pessoal contra a força preponderante do meio social. Mas
é igualmente verdade que, sem a revolta do indivíduo, associando-se a outros
indivíduos revoltados para resistir ao meio e procurar transformá-lo, este meio
nunca mudará.
Somos, todos sem exceção, obrigados a viver, mais ou menos,
em contradição com nossas idéias; mas somos socialistas e anarquistas
precisamente na medida em que sofremos esta contradição e que procuramos, tanto
quanto possível, torná-la menor. No dia em que nos adaptássemos ao meio, não
mais teríamos, é óbvio, vontade de transformá-lo, e nos tornaríamos simples
burgueses; burgueses sem dinheiro, talvez, mas não menos burgueses nos atos e
nas intenções."
Errico Malatesta
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