Tendo tudo
Por sua causa eu disse que iria cantar a lua,
dizer a cor dos rios,
encontrar novas palavras para a agonia
e o êxtase das gaivotas.
Por você estar perto,
tudo que o homem faz, contempla
ou cultiva está perto, é meu:
as gaivotas se contorcendo lentamente, cantando
lentamente
nas lanças do vento;
o portal de ferro sobre o rio;
a ponte segurando entre dedos de pedra
seu luminoso e impassível colar de pérolas.
Os ramos das árvores à margem,
tal como o desenho trêmulo dos rios,
tomam a lua como aliada
a fim de reclamar jornadas exatas
do céu escuro,
mas nesse céu nada responde.
Os ramos fornecem somente um som
para as distâncias do vento.
Com sua voz e seu corpo
você falou por tudo,
despojou-me de minhas esquivanças,
me tornou uno
com a raiz e a gaivota e a pedra,
e por eu dormir tão perto de você
não posso abraçar
ou manter meu amor secreto por elas.
Você teme que eu te deixe.
Não irei te deixar.
Somente os estranhos partem.
Tendo tudo,
não tenho que ir para lugar algum.
poema: Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski
do livro "ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU
AMOR" (7 letras)
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