Cercherò lontana terra,
Dove gemer sconosciuto,
Là vivrò col cuore in guerra,
Deplorando il ben perduto!
Ma, nè sorte a me nemica,
Nè frapposti monti, e mar,
Ti potranno, dolce amica,
Dal mio core cancellar,
Non ti potranno dal mio core cancellar!
E se fia che ad altro oggetto
Tu rivolga un giorno il core,
Se mai fia che un nuovo affetto
Spenga in te l'antico ardore,
Non temer che un infelice,
Te spergiura accusi, al ciel,
Se tu sei, ben mio felice,
Sarà pago il tuo fedel!
sábado, 30 de abril de 2011
Águas de Forestier
Águas de Forestier
desperta o pecado
em um pobre pagão
que sonha com o paraíso,
onde todas as águas
se transformam em vinho,
dos rios, lagos, marés e cachoeiras,
salgadas, doces, porém todas vermelhas.
Lavando seus pés,
molhando os seus seios,
escorrendo sobre todo seu corpo
o doce veneno,
que nos embriaga a sede de outras paixões.
Pequenos Bacos
brincando de serem anões,
e todo pecado será desculpado
por todo motivo impulsionado por prazer.
Toda musa será deusa,
todo ateu será José,
e o pecado é não beber
da fonte das águas de Forestier.
Cristiane Neder
desperta o pecado
em um pobre pagão
que sonha com o paraíso,
onde todas as águas
se transformam em vinho,
dos rios, lagos, marés e cachoeiras,
salgadas, doces, porém todas vermelhas.
Lavando seus pés,
molhando os seus seios,
escorrendo sobre todo seu corpo
o doce veneno,
que nos embriaga a sede de outras paixões.
Pequenos Bacos
brincando de serem anões,
e todo pecado será desculpado
por todo motivo impulsionado por prazer.
Toda musa será deusa,
todo ateu será José,
e o pecado é não beber
da fonte das águas de Forestier.
Cristiane Neder
Doce amargura
Amor bandido
Tempo perdido
Selva de pedra
Noites sem fim
Amo você e sempre foi assim
O amor no meu peito
Nunca vai ter fim
Você me adora
E me devora
E eu no meu canto
Espantando o pranto
Vivo aguardando o grande fim
Gisele Mazzonetto
Tempo perdido
Selva de pedra
Noites sem fim
Amo você e sempre foi assim
O amor no meu peito
Nunca vai ter fim
Você me adora
E me devora
E eu no meu canto
Espantando o pranto
Vivo aguardando o grande fim
Gisele Mazzonetto
Primeira Carta de Rainer Maria Rilke
Paris, 17 de fevereiro de 1903
Prezadíssimo Senhor,
Sua carta alcançou-me apenas há poucos dias. Quero agradecer-lhe a grande e
amável confiança. Pouco mais posso fazer. Não posso entrar em considerações
acerca da feição de seus versos, pois sou alheio a toda e qualquer intenção
crítica. Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que
palavras de crítica, que sempre resultam em mal entendidos mais ou menos
felizes. As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto
se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é
inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos
suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, -
seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera.
Depois de feito este reparo, dir-lhe-ei ainda que seus versos não possuem
feição própria somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que
sinto com maior clareza no último poema, "Minha Alma". Aí, algo de peculiar
procura expressão e forma. No belo poema "A Leopardi" talvez uma espécie de
parentesco com esse grande solitário esteja apontando. No entanto, as
poesias nada têm ainda de próprio e de independente, nem mesmo a última, nem
mesmo a dirigida a Leopardi. Sua amável carta que as acompanha não deixou de
me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos, sem que a
pudesse definir explicitamente. Pergunta se os seus versos são bons.
Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a
periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas
tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem - usando da
licença que me deu de aconselhá-lo - peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor
está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste
momento.
Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, - ninguém. Não há senão um caminho.
Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever;
examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma;
confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de
tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo
forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for
afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples
"sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida,
até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o
testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure,
como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não
escreva poesias de amor. Evite de início as formas usuais e demasiado
comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e
amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram
tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos
gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece;
relate tudo isso com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se
exprimir, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos
de suas lembranças. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não
a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para
extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem
lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas
paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não
lhe ficaria sempre sua infância, essa esplêndida e régia riqueza, esse
tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as
sensações submersas desse longínquo passado: sua personalidade há de
reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar- se numa habitação
entre lusco e fusco diante da qual o ruído dos outros passa longe, sem nela
penetrar. Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem
versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão
pouco tentará interessar as revistas por esses trabalhos, pois há de ver
neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma
obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem
está o seu critério, - o único existente. Também, meu prezado senhor, não
lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as
profundidades de onde jorra a sua vida; na fonte desta é que encontrará a
resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe
apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha
significar que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o
destino e carregue-o com seu peso e sua grandeza, sem nunca se preocupar com
recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo
para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou. Mas
talvez se dê o caso de, após essa descida em si mesmo e em seu âmago
solitário, ter o senhor de renunciar a se tornar poeta.
(Basta, como já disse, sentir que se poderia viver sem escrever para não
mais se ter o direito de fazê-lo). Mesmo assim, o exame de consciência que
lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir desse momento, há de
encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe
desejo, muito mais do que lhe posso exprimir.
Que mais lhe devo dizer? Parece-me que tudo foi acentuado segundo convinha.
Afinal de contas, queria apenas sugerir-lhe que se deixasse chegar com
discrição e gravidade ao termo de sua evolução. Nada a poderia perturbar
mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas e perguntas a que
talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais
silenciosa.
Foi com alegria que encontrei em sua carta o nome do professor Hoaracek;
guardo por esse amável sábio uma grande
estima e uma gratidão que desafia os anos. Fale-lhe, por favor, neste
sentimento. É bondade dele lembrar-se ainda de mim; e eu sei apreciá-la.
Restituo-lhe ao mesmo tempo os versos que me veio confiar amigavelmente.
Agradeço-lhe mais uma vez a grandeza e a cordialidade de sua confiança.
Procurei por meio desta resposta sincera, feita o melhor que pude, tornar-me
um pouco mais digno dela do que realmente sou, em minha qualidade de
estranho.
Com todo o devotamento e toda a simpatia,
Rainer Maria Rilke
Rainer Maria Rilke
In: Cartas a um jovem poeta
Trad.: Cecília Meireles
Paris, 17 de fevereiro de 1903
Prezadíssimo Senhor,
Sua carta alcançou-me apenas há poucos dias. Quero agradecer-lhe a grande e
amável confiança. Pouco mais posso fazer. Não posso entrar em considerações
acerca da feição de seus versos, pois sou alheio a toda e qualquer intenção
crítica. Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que
palavras de crítica, que sempre resultam em mal entendidos mais ou menos
felizes. As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto
se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é
inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos
suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, -
seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera.
Depois de feito este reparo, dir-lhe-ei ainda que seus versos não possuem
feição própria somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que
sinto com maior clareza no último poema, "Minha Alma". Aí, algo de peculiar
procura expressão e forma. No belo poema "A Leopardi" talvez uma espécie de
parentesco com esse grande solitário esteja apontando. No entanto, as
poesias nada têm ainda de próprio e de independente, nem mesmo a última, nem
mesmo a dirigida a Leopardi. Sua amável carta que as acompanha não deixou de
me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos, sem que a
pudesse definir explicitamente. Pergunta se os seus versos são bons.
Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a
periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas
tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem - usando da
licença que me deu de aconselhá-lo - peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor
está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste
momento.
Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, - ninguém. Não há senão um caminho.
Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever;
examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma;
confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de
tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo
forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for
afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples
"sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida,
até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o
testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure,
como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não
escreva poesias de amor. Evite de início as formas usuais e demasiado
comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e
amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram
tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos
gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece;
relate tudo isso com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se
exprimir, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos
de suas lembranças. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não
a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para
extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem
lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas
paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não
lhe ficaria sempre sua infância, essa esplêndida e régia riqueza, esse
tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as
sensações submersas desse longínquo passado: sua personalidade há de
reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar- se numa habitação
entre lusco e fusco diante da qual o ruído dos outros passa longe, sem nela
penetrar. Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem
versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão
pouco tentará interessar as revistas por esses trabalhos, pois há de ver
neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma
obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem
está o seu critério, - o único existente. Também, meu prezado senhor, não
lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as
profundidades de onde jorra a sua vida; na fonte desta é que encontrará a
resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe
apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha
significar que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o
destino e carregue-o com seu peso e sua grandeza, sem nunca se preocupar com
recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo
para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou. Mas
talvez se dê o caso de, após essa descida em si mesmo e em seu âmago
solitário, ter o senhor de renunciar a se tornar poeta.
(Basta, como já disse, sentir que se poderia viver sem escrever para não
mais se ter o direito de fazê-lo). Mesmo assim, o exame de consciência que
lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir desse momento, há de
encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe
desejo, muito mais do que lhe posso exprimir.
Que mais lhe devo dizer? Parece-me que tudo foi acentuado segundo convinha.
Afinal de contas, queria apenas sugerir-lhe que se deixasse chegar com
discrição e gravidade ao termo de sua evolução. Nada a poderia perturbar
mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas e perguntas a que
talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais
silenciosa.
Foi com alegria que encontrei em sua carta o nome do professor Hoaracek;
guardo por esse amável sábio uma grande
estima e uma gratidão que desafia os anos. Fale-lhe, por favor, neste
sentimento. É bondade dele lembrar-se ainda de mim; e eu sei apreciá-la.
Restituo-lhe ao mesmo tempo os versos que me veio confiar amigavelmente.
Agradeço-lhe mais uma vez a grandeza e a cordialidade de sua confiança.
Procurei por meio desta resposta sincera, feita o melhor que pude, tornar-me
um pouco mais digno dela do que realmente sou, em minha qualidade de
estranho.
Com todo o devotamento e toda a simpatia,
Rainer Maria Rilke
Rainer Maria Rilke
In: Cartas a um jovem poeta
Trad.: Cecília Meireles
MAHMUD DARWISH
( Al Birwa, Palestina 1941-2008)
Traducción del árabe por
María Luisa Prieto
LA MUERTE DE FÉNIX
En los himnos que cantamos
hay una flauta,
en la flauta que nos habita
un fuego
y en el fuego que encendemos
un Fénix verde.
En su elegía no he distinguido
mi ceniza de tu polvo.
Una nube de lilas basta para ocultarnos la
jaima del pescador.
Camina, pues, sobre las aguas como el Señor.
Ella me ha dicho:
El recuerdo que llevo de ti no está
desierto
y ya no hay enemigos para las rosas que
surgen de los escombros de tu casa.
Un anillo de agua rodeaba la elevada
montaña
y el Tiberíades era el patio trasero del primer
Paraíso.
Le dije: la imagen del universo se ha completado
en unos ojos verdes.
Ella me respondió: Oh, mi príncipe y mi cautivo,
guarda mis vinos en tus jarras.
Los dos extraños que se han consumido en
nosotros son
esos que hace un instante han intentado
matarnos,
los que volverán a sus espadas dentro de poco,
los que nos preguntan: ¿Quiénes sois?
- Dos sombras de lo que fuimos aquí,
dos nombres del trigo que crecen en el pan de
las batallas.
No quiero regresar ahora, como
los Cruzados de mi casa. Soy
todo este silencio entre los dioses y los que
se inventaron un nombre.
Soy la sombra que camina sobre las aguas,
la escena y el testigo,
el adorador y el templo
en la tierra de mi asedio y del tuyo.
Sé mi amado entre dos guerras
en el espejo -dijo ella-.
No quiero regresar ahora a la
fortaleza de mi padre.
Llévame a tu viña y reúneme con
tu madre.
Perfúmame con agua de albahaca, espárceme
sobre la vasija de plata, péiname,
enciérrame en la cárcel de tu nombre, mátame
de amor. Cásate conmigo.
Despósame por los ritos agrarios,
adiéstrame en la flauta y quémame para que
nazca
como el Fénix, de mi fuego y del tuyo.
Una forma semejaba al Fénix llorando
ensangrentado
antes de caer al agua
cerca de la jaima del pescador.
¿De qué sirve mi espera y la tuya?
http://www.danielmontoly.blogspot.com/
( Al Birwa, Palestina 1941-2008)
Traducción del árabe por
María Luisa Prieto
LA MUERTE DE FÉNIX
En los himnos que cantamos
hay una flauta,
en la flauta que nos habita
un fuego
y en el fuego que encendemos
un Fénix verde.
En su elegía no he distinguido
mi ceniza de tu polvo.
Una nube de lilas basta para ocultarnos la
jaima del pescador.
Camina, pues, sobre las aguas como el Señor.
Ella me ha dicho:
El recuerdo que llevo de ti no está
desierto
y ya no hay enemigos para las rosas que
surgen de los escombros de tu casa.
Un anillo de agua rodeaba la elevada
montaña
y el Tiberíades era el patio trasero del primer
Paraíso.
Le dije: la imagen del universo se ha completado
en unos ojos verdes.
Ella me respondió: Oh, mi príncipe y mi cautivo,
guarda mis vinos en tus jarras.
Los dos extraños que se han consumido en
nosotros son
esos que hace un instante han intentado
matarnos,
los que volverán a sus espadas dentro de poco,
los que nos preguntan: ¿Quiénes sois?
- Dos sombras de lo que fuimos aquí,
dos nombres del trigo que crecen en el pan de
las batallas.
No quiero regresar ahora, como
los Cruzados de mi casa. Soy
todo este silencio entre los dioses y los que
se inventaron un nombre.
Soy la sombra que camina sobre las aguas,
la escena y el testigo,
el adorador y el templo
en la tierra de mi asedio y del tuyo.
Sé mi amado entre dos guerras
en el espejo -dijo ella-.
No quiero regresar ahora a la
fortaleza de mi padre.
Llévame a tu viña y reúneme con
tu madre.
Perfúmame con agua de albahaca, espárceme
sobre la vasija de plata, péiname,
enciérrame en la cárcel de tu nombre, mátame
de amor. Cásate conmigo.
Despósame por los ritos agrarios,
adiéstrame en la flauta y quémame para que
nazca
como el Fénix, de mi fuego y del tuyo.
Una forma semejaba al Fénix llorando
ensangrentado
antes de caer al agua
cerca de la jaima del pescador.
¿De qué sirve mi espera y la tuya?
http://www.danielmontoly.blogspot.com/
La tristeza
La capital está envuelta en las penumbras vespertinas. La nieve cae lentamente en gruesos copos, gira alrededor de los faroles encendidos, se extiende, en fina, blanda capa, sobre los tejados, sobre los lomos de los caballos, sobre los hombros humanos, sobre los sombreros.
El cochero Yona está todo blanco, como un aparecido. Sentado en el pescante de su trineo, encorvado el cuerpo cuanto puede estarlo un cuerpo humano, permanece inmóvil. Diríase que ni un alud de nieve que le cayese encima lo sacaría de su quietud.
Su caballo está también blanco e inmóvil. Por su inmovilidad, por las líneas rígidas de su cuerpo, por la tiesura de palos de sus patas, parece, aun mirado de cerca, un caballo de dulce de los que se les compran a los chiquillos por un copec. Hállase sumido en sus reflexiones: un hombre o un caballo, arrancados del trabajo campestre y lanzados al infierno de una gran ciudad, como Yona y su caballo, están siempre entregados a tristes pensamientos. Es demasiado grande la diferencia entre la apacible vida rústica y la vida agitada, toda ruido y angustia, de las ciudades relumbrantes de luces.
Hace mucho tiempo que Yona y su caballo permanecen inmóviles. Han salido a la calle antes de almorzar; pero Yona no ha ganado nada.
Las sombras se van adensando. La luz de los faroles se va haciendo más intensa, más brillante. El ruido aumenta.
- ¡Cochero! -oye de pronto Yona-. ¡Llévame a Viborgskaya!
Yona se estremece. A través de las pestañas cubiertas de nieve ve a un militar con impermeable.
- ¿Oyes? ¡A Viborgskaya! ¿Estás dormido?
Yona le da un latigazo al caballo, que se sacude la nieve del lomo. El militar toma asiento en el trineo. El cochero arrea al caballo, estira el cuello como un cisne y agita el látigo. El caballo también estira el cuello, levanta las patas, y, sin apresurarse, se pone en marcha.
- ¡Ten cuidado! -grita otro cochero invisible, con cólera-. ¡Nos vas a atropellar, imbécil! ¡A la derecha!
- ¡Vaya un cochero! -dice el militar-. ¡A la derecha!
Siguen oyéndose los juramenitos del cochero invisible. Un transeúnte que tropieza con el caballo de Yona gruñe amenazador. Yona, confuso, avergonzado, descarga algunos latigazos sobre el lomo del caballo. Parece aturdido, atontado, y mira alrededor como si acabara de despertar de un sueño profundo.
- ¡Se diría que todo el mundo ha organizado una conspiración contra ti! -dice con tono irónico el militar-. Todos procuran fastidiarte, meterse entre las patas de tu caballo. ¡Una verdadera conspiración!
Yona vuelve la cabeza y abre la boca. Se ve que quiere decir algo; pero sus labios están como paralizados, y no puede pronunciar una palabra.
El cliente advierte sus esfuerzos y pregunta:
- ¿Qué hay?
Yona hace un nuevo esfuerzo y contesta con voz ahogada:
- Ya ve usted, señor... He perdido a mi hijo... Murió la semana pasada...
- ¿De veras?... ¿Y de qué murió?
Yona, alentado por esta pregunta, se vuelve aún más hacia el cliente y dice:
- No lo sé... De una de tantas enfermedades... Ha estado tres meses en el hospital y a la postre... Dios que lo ha querido.
- ¡A la derecha! -óyese de nuevo gritar furiosamente-. ¡Parece que estás ciego, imbécil!
- ¡A ver! -dice el militar-. Ve un poco más aprisa. A este paso no llegaremos nunca. ¡Dale algún latigazo al caballo!
Yona estira de nuevo el cuello como un cisne, se levanta un poco, y de un modo torpe, pesado, agita el látigo.
Se vuelve repetidas veces hacia su cliente, deseoso de seguir la conversación; pero el otro ha cerrado los ojos y no parece dispuesto a escucharle.
Por fin, llegan a Viborgskaya. El cochero se detiene ante la casa indicada; el cliente se apea. Yona vuelve a quedarse solo con su caballo. Se estaciona ante una taberna y espera, sentado en el pescante, encorvado, inmóvil. De nuevo la nieve cubre su cuerpo y envuelve en un blanco cendal caballo y trineo.
Una hora, dos... ¡Nadie! ¡Ni un cliente!
Mas he aquí que Yona torna a estremecerse: ve detenerse ante él a tres jóvenes. Dos son altos, delgados; el tercero, bajo y chepudo.
- ¡Cochero, llévanos al puesto de policía! ¡Veinte copecs por los tres!
Yona coge las riendas, se endereza. Veinte copecs es demasiado poco; pero, no obstante, acepta; lo que a él le importa es tener clientes.
Los tres jóvenes, tropezando y jurando, se acercan al trineo. Como sólo hay dos asientos, discuten largamente cuál de los tres ha de ir de pie. Por fin se decide que vaya de pie el jorobado.
- ¡Bueno; en marcha! -le grita el jorobado a Yona, colocándose a su espalda-. ¡Qué gorro llevas, muchacho! Me apuesto cualquier cosa a que en toda la capital no se puede encontrar un gorro más feo...
- ¡El señor está de buen humor! -dice Yona con risa forzada-. Mi gorro...
- ¡Bueno, bueno! Arrea un poco a tu caballo. A este paso no llegaremos nunca. Si no andas más aprisa te administraré unos cuantos sopapos.
- Me duele la cabeza -dice uno de los jóvenes-. Ayer, yo y Vaska nos bebimos en casa de Dukmasov cuatro botellas de caña.
- ¡Eso no es verdad! -responde el otro- Eres un embustero, amigo, y sabes que nadie te cree.
- ¡Palabra de honor!
- ¡Oh, tu honor! No daría yo por él ni un céntimo.
Yona, deseoso de entablar conversación, vuelve la cabeza, y, enseñando los dientes, ríe atipladamente.
- ¡Ji, ji, ji!... ¡Qué buen humor!
- ¡Vamos, vejestorio! -grita enojado el chepudo-. ¿Quieres ir más aprisa o no? Dale de firme al gandul de tu caballo. ¡Qué diablo!
Yona agita su látigo, agita las manos, agita todo el cuerpo. A pesar de todo, está contento; no está solo. Le riñen, lo insultan; pero, al menos, oye voces humanas. Los jóvenes gritan, juran, hablan de mujeres. En un momento que se le antoja oportuno, Yona se vuelve de nuevo hacia los clientes y dice:
- Y yo, señores, acabo de perder a mi hijo. Murió la semana pasada...
- ¡Todos nos hemos de morir!-contesta el chepudo-. ¿Pero quieres ir más aprisa? ¡Esto es insoportable! Prefiero ir a pie.
- Si quieres que vaya más aprisa dale un sopapo -le aconseja uno de sus camaradas.
- ¿Oye, viejo, estás enfermo?-grita el chepudo-. Te la vas a ganar si esto continúa.
Y, hablando así, le da un puñetazo en la espalda.
- ¡Ji, ji, ji! -ríe, sin ganas, Yona-. ¡Dios les conserve el buen humor, señores!
- Cochero, ¿eres casado? -pregunta uno de los clientes.
- ¿Yo? !Ji, ji, ji! ¡Qué señores más alegres! No, no tengo a nadie... Sólo me espera la sepultura... Mi hijo ha muerto; pero a mí la muerte no me quiere. Se ha equivocado, y en lugar de cargar conmigo ha cargado con mi hijo.
Y vuelve de nuevo la cabeza para contar cómo ha muerto su hijo; pero en este momento el chepudo, lanzando un suspiro de satisfacción, exclama:
- ¡Por fin, hemos llegado!
Yona recibe los veinte copecs convenidos y los clientes se apean. Les sigue con los ojos hasta que desaparecen en un portal.
Torna a quedarse solo con su caballo. La tristeza invade de nuevo, más dura, más cruel, su fatigado corazón. Observa a la multitud que pasa por la calle, como buscando entre los miles de transeúntes alguien que quiera escucharle. Pero la gente parece tener prisa y pasa sin fijarse en él.
Su tristeza a cada momento es más intensa. Enorme, infinita, si pudiera salir de su pecho inundaría al mundo entero.
Yona ve a un portero que se asoma a la puerta con un paquete y trata de entablar con él conversación.
- ¿Qué hora es? -le pregunta, melifluo.
- Van a dar las diez -contesta el otro-. Aléjese un poco: no debe usted permanecer delante de la puerta.
Yona avanza un poco, se encorva de nuevo y se sume en sus tristes pensamientos. Se ha convencido de que es inútil dirigirse a la gente.
Pasa otra hora. Se siente muy mal y decide retirarse. Se yergue, agita el látigo.
- No puedo más -murmura-. Hay que irse a acostar.
El caballo, como si hubiera entendido las palabras de su viejo amo, emprende un presuroso trote.
Una hora después Yona está en su casa, es decir, en una vasta y sucia habitación, donde, acostados en el suelo o en bancos, duermen docenas de cocheros. La atmósfera es pesada, irrespirable. Suenan ronquidos.
Yona se arrepiente de haber vuelto tan pronto. Además, no ha ganado casi nada. Quizá por eso -piensa- se siente tan desgraciado.
En un rincón, un joven cochero se incorpora. Se rasca el seno y la cabeza y busca algo con la mirada.
- ¿Quieres beber? -le pregunta Yona.
- Sí.
- Aquí tienes agua... He perdido a mi hijo... ¿Lo sabías?... La semana pasada, en el hospital... ¡Qué desgracia!
Pero sus palabras no han producido efecto alguno. El cochero no le ha hecho caso, se ha vuelto a acostar, se ha tapado la cabeza con la colcha y momentos después se le oye roncar.
Yona exhala un suspiro. Experimenta una necesidad imperiosa, irresistible, de hablar de su desgracia. Casi ha transcurrido una semana desde la muerte de su hijo; pero no ha tenido aún ocasión de hablar de ella con una persona de corazón. Quisiera hablar de ella largamente, contarla con todos sus detalles. Necesita referir cómo enfermó su hijo, lo que ha sufrido, las palabras que ha pronunciado al morir. Quisiera también referir cómo ha sido el entierro... Su difunto hijo ha dejado en la aldea una niña de la que también quisiera hablar. ¡Tiene tantas cosas que contar! ¡Qué no daría él por encontrar alguien que se prestase a escucharlo, sacudiendo compasivamente la cabeza, suspirando, compadeciéndolo! Lo mejor sería contárselo todo a cualquier mujer de su aldea; a las mujeres, aunque sean tontas, les gusta eso, y basta decirles dos palabras para que viertan torrentes de lágrimas.
Yona decide ir a ver a su caballo.
Se viste y sale a la cuadra.
El caballo, inmóvil, come heno.
- ¿Comes? -le dice Yona, dándole palmaditas en el lomo-. ¿Qué se le va a hacer, muchacho? Como no hemos ganado para comprar avena hay que contentarse con heno... Soy ya demasiado viejo para ganar mucho... A decir verdad, yo no debía ya trabajar; mi hijo me hubiera reemplazado. Era un verdadero, un soberbio cochero; conocía su oficio como pocos. Desgraciadamente, ha muerto...
Tras una corta pausa, Yona continúa:
- Sí, amigo..., ha muerto... ¿Comprendes? Es como si tú tuvieras un hijo y se muriera... Naturalmente, sufrirías, ¿verdad?...
El caballo sigue comiendo heno, escucha a su viejo amo y exhala un aliento húmedo y cálido.
Yona, escuchado al cabo por un ser viviente, desahoga su corazón contándoselo todo.
Anton Chejov
Fonte : Biblioteca Digital Ciudad Seva
El cochero Yona está todo blanco, como un aparecido. Sentado en el pescante de su trineo, encorvado el cuerpo cuanto puede estarlo un cuerpo humano, permanece inmóvil. Diríase que ni un alud de nieve que le cayese encima lo sacaría de su quietud.
Su caballo está también blanco e inmóvil. Por su inmovilidad, por las líneas rígidas de su cuerpo, por la tiesura de palos de sus patas, parece, aun mirado de cerca, un caballo de dulce de los que se les compran a los chiquillos por un copec. Hállase sumido en sus reflexiones: un hombre o un caballo, arrancados del trabajo campestre y lanzados al infierno de una gran ciudad, como Yona y su caballo, están siempre entregados a tristes pensamientos. Es demasiado grande la diferencia entre la apacible vida rústica y la vida agitada, toda ruido y angustia, de las ciudades relumbrantes de luces.
Hace mucho tiempo que Yona y su caballo permanecen inmóviles. Han salido a la calle antes de almorzar; pero Yona no ha ganado nada.
Las sombras se van adensando. La luz de los faroles se va haciendo más intensa, más brillante. El ruido aumenta.
- ¡Cochero! -oye de pronto Yona-. ¡Llévame a Viborgskaya!
Yona se estremece. A través de las pestañas cubiertas de nieve ve a un militar con impermeable.
- ¿Oyes? ¡A Viborgskaya! ¿Estás dormido?
Yona le da un latigazo al caballo, que se sacude la nieve del lomo. El militar toma asiento en el trineo. El cochero arrea al caballo, estira el cuello como un cisne y agita el látigo. El caballo también estira el cuello, levanta las patas, y, sin apresurarse, se pone en marcha.
- ¡Ten cuidado! -grita otro cochero invisible, con cólera-. ¡Nos vas a atropellar, imbécil! ¡A la derecha!
- ¡Vaya un cochero! -dice el militar-. ¡A la derecha!
Siguen oyéndose los juramenitos del cochero invisible. Un transeúnte que tropieza con el caballo de Yona gruñe amenazador. Yona, confuso, avergonzado, descarga algunos latigazos sobre el lomo del caballo. Parece aturdido, atontado, y mira alrededor como si acabara de despertar de un sueño profundo.
- ¡Se diría que todo el mundo ha organizado una conspiración contra ti! -dice con tono irónico el militar-. Todos procuran fastidiarte, meterse entre las patas de tu caballo. ¡Una verdadera conspiración!
Yona vuelve la cabeza y abre la boca. Se ve que quiere decir algo; pero sus labios están como paralizados, y no puede pronunciar una palabra.
El cliente advierte sus esfuerzos y pregunta:
- ¿Qué hay?
Yona hace un nuevo esfuerzo y contesta con voz ahogada:
- Ya ve usted, señor... He perdido a mi hijo... Murió la semana pasada...
- ¿De veras?... ¿Y de qué murió?
Yona, alentado por esta pregunta, se vuelve aún más hacia el cliente y dice:
- No lo sé... De una de tantas enfermedades... Ha estado tres meses en el hospital y a la postre... Dios que lo ha querido.
- ¡A la derecha! -óyese de nuevo gritar furiosamente-. ¡Parece que estás ciego, imbécil!
- ¡A ver! -dice el militar-. Ve un poco más aprisa. A este paso no llegaremos nunca. ¡Dale algún latigazo al caballo!
Yona estira de nuevo el cuello como un cisne, se levanta un poco, y de un modo torpe, pesado, agita el látigo.
Se vuelve repetidas veces hacia su cliente, deseoso de seguir la conversación; pero el otro ha cerrado los ojos y no parece dispuesto a escucharle.
Por fin, llegan a Viborgskaya. El cochero se detiene ante la casa indicada; el cliente se apea. Yona vuelve a quedarse solo con su caballo. Se estaciona ante una taberna y espera, sentado en el pescante, encorvado, inmóvil. De nuevo la nieve cubre su cuerpo y envuelve en un blanco cendal caballo y trineo.
Una hora, dos... ¡Nadie! ¡Ni un cliente!
Mas he aquí que Yona torna a estremecerse: ve detenerse ante él a tres jóvenes. Dos son altos, delgados; el tercero, bajo y chepudo.
- ¡Cochero, llévanos al puesto de policía! ¡Veinte copecs por los tres!
Yona coge las riendas, se endereza. Veinte copecs es demasiado poco; pero, no obstante, acepta; lo que a él le importa es tener clientes.
Los tres jóvenes, tropezando y jurando, se acercan al trineo. Como sólo hay dos asientos, discuten largamente cuál de los tres ha de ir de pie. Por fin se decide que vaya de pie el jorobado.
- ¡Bueno; en marcha! -le grita el jorobado a Yona, colocándose a su espalda-. ¡Qué gorro llevas, muchacho! Me apuesto cualquier cosa a que en toda la capital no se puede encontrar un gorro más feo...
- ¡El señor está de buen humor! -dice Yona con risa forzada-. Mi gorro...
- ¡Bueno, bueno! Arrea un poco a tu caballo. A este paso no llegaremos nunca. Si no andas más aprisa te administraré unos cuantos sopapos.
- Me duele la cabeza -dice uno de los jóvenes-. Ayer, yo y Vaska nos bebimos en casa de Dukmasov cuatro botellas de caña.
- ¡Eso no es verdad! -responde el otro- Eres un embustero, amigo, y sabes que nadie te cree.
- ¡Palabra de honor!
- ¡Oh, tu honor! No daría yo por él ni un céntimo.
Yona, deseoso de entablar conversación, vuelve la cabeza, y, enseñando los dientes, ríe atipladamente.
- ¡Ji, ji, ji!... ¡Qué buen humor!
- ¡Vamos, vejestorio! -grita enojado el chepudo-. ¿Quieres ir más aprisa o no? Dale de firme al gandul de tu caballo. ¡Qué diablo!
Yona agita su látigo, agita las manos, agita todo el cuerpo. A pesar de todo, está contento; no está solo. Le riñen, lo insultan; pero, al menos, oye voces humanas. Los jóvenes gritan, juran, hablan de mujeres. En un momento que se le antoja oportuno, Yona se vuelve de nuevo hacia los clientes y dice:
- Y yo, señores, acabo de perder a mi hijo. Murió la semana pasada...
- ¡Todos nos hemos de morir!-contesta el chepudo-. ¿Pero quieres ir más aprisa? ¡Esto es insoportable! Prefiero ir a pie.
- Si quieres que vaya más aprisa dale un sopapo -le aconseja uno de sus camaradas.
- ¿Oye, viejo, estás enfermo?-grita el chepudo-. Te la vas a ganar si esto continúa.
Y, hablando así, le da un puñetazo en la espalda.
- ¡Ji, ji, ji! -ríe, sin ganas, Yona-. ¡Dios les conserve el buen humor, señores!
- Cochero, ¿eres casado? -pregunta uno de los clientes.
- ¿Yo? !Ji, ji, ji! ¡Qué señores más alegres! No, no tengo a nadie... Sólo me espera la sepultura... Mi hijo ha muerto; pero a mí la muerte no me quiere. Se ha equivocado, y en lugar de cargar conmigo ha cargado con mi hijo.
Y vuelve de nuevo la cabeza para contar cómo ha muerto su hijo; pero en este momento el chepudo, lanzando un suspiro de satisfacción, exclama:
- ¡Por fin, hemos llegado!
Yona recibe los veinte copecs convenidos y los clientes se apean. Les sigue con los ojos hasta que desaparecen en un portal.
Torna a quedarse solo con su caballo. La tristeza invade de nuevo, más dura, más cruel, su fatigado corazón. Observa a la multitud que pasa por la calle, como buscando entre los miles de transeúntes alguien que quiera escucharle. Pero la gente parece tener prisa y pasa sin fijarse en él.
Su tristeza a cada momento es más intensa. Enorme, infinita, si pudiera salir de su pecho inundaría al mundo entero.
Yona ve a un portero que se asoma a la puerta con un paquete y trata de entablar con él conversación.
- ¿Qué hora es? -le pregunta, melifluo.
- Van a dar las diez -contesta el otro-. Aléjese un poco: no debe usted permanecer delante de la puerta.
Yona avanza un poco, se encorva de nuevo y se sume en sus tristes pensamientos. Se ha convencido de que es inútil dirigirse a la gente.
Pasa otra hora. Se siente muy mal y decide retirarse. Se yergue, agita el látigo.
- No puedo más -murmura-. Hay que irse a acostar.
El caballo, como si hubiera entendido las palabras de su viejo amo, emprende un presuroso trote.
Una hora después Yona está en su casa, es decir, en una vasta y sucia habitación, donde, acostados en el suelo o en bancos, duermen docenas de cocheros. La atmósfera es pesada, irrespirable. Suenan ronquidos.
Yona se arrepiente de haber vuelto tan pronto. Además, no ha ganado casi nada. Quizá por eso -piensa- se siente tan desgraciado.
En un rincón, un joven cochero se incorpora. Se rasca el seno y la cabeza y busca algo con la mirada.
- ¿Quieres beber? -le pregunta Yona.
- Sí.
- Aquí tienes agua... He perdido a mi hijo... ¿Lo sabías?... La semana pasada, en el hospital... ¡Qué desgracia!
Pero sus palabras no han producido efecto alguno. El cochero no le ha hecho caso, se ha vuelto a acostar, se ha tapado la cabeza con la colcha y momentos después se le oye roncar.
Yona exhala un suspiro. Experimenta una necesidad imperiosa, irresistible, de hablar de su desgracia. Casi ha transcurrido una semana desde la muerte de su hijo; pero no ha tenido aún ocasión de hablar de ella con una persona de corazón. Quisiera hablar de ella largamente, contarla con todos sus detalles. Necesita referir cómo enfermó su hijo, lo que ha sufrido, las palabras que ha pronunciado al morir. Quisiera también referir cómo ha sido el entierro... Su difunto hijo ha dejado en la aldea una niña de la que también quisiera hablar. ¡Tiene tantas cosas que contar! ¡Qué no daría él por encontrar alguien que se prestase a escucharlo, sacudiendo compasivamente la cabeza, suspirando, compadeciéndolo! Lo mejor sería contárselo todo a cualquier mujer de su aldea; a las mujeres, aunque sean tontas, les gusta eso, y basta decirles dos palabras para que viertan torrentes de lágrimas.
Yona decide ir a ver a su caballo.
Se viste y sale a la cuadra.
El caballo, inmóvil, come heno.
- ¿Comes? -le dice Yona, dándole palmaditas en el lomo-. ¿Qué se le va a hacer, muchacho? Como no hemos ganado para comprar avena hay que contentarse con heno... Soy ya demasiado viejo para ganar mucho... A decir verdad, yo no debía ya trabajar; mi hijo me hubiera reemplazado. Era un verdadero, un soberbio cochero; conocía su oficio como pocos. Desgraciadamente, ha muerto...
Tras una corta pausa, Yona continúa:
- Sí, amigo..., ha muerto... ¿Comprendes? Es como si tú tuvieras un hijo y se muriera... Naturalmente, sufrirías, ¿verdad?...
El caballo sigue comiendo heno, escucha a su viejo amo y exhala un aliento húmedo y cálido.
Yona, escuchado al cabo por un ser viviente, desahoga su corazón contándoselo todo.
Anton Chejov
Fonte : Biblioteca Digital Ciudad Seva
La nariz
No hay nadie, en todo Ike-no-wo, que no conozca la nariz de Zenchi Naigu. Medirá unos 16 centímetros, y es como un colgajo que desciende hasta más abajo del mentón. Es de grosor parejo desde el comienzo al fin; en una palabra, una cosa larga, con aspecto de embutido, que le cae desde el centro de la cara.
Naigu tiene más de 50 años, y desde sus tiempos de novicio, y aun encontrándose al frente de los seminarios de la corte, ha vivido constantemente preocupado por su nariz. Por cierto que simula la mayor indiferencia, no ya porque su condición de sacerdote "que aspira a la salvación en la Tierra Pura del Oeste" le impida abstraerse en tales problemas, sino más bien porque le disgusta que los demás piensen que a él le preocupa. Naigu teme la aparición de la palabra nariz en las conversaciones cotidianas.
Existen dos razones para que a Naigu le moleste su nariz. La primera de ellas: la gran incomodidad que provoca su tamaño. Esto no le permitió nunca comer solo, pues la nariz se le hundía en las comidas. Entonces Naigu hacía sentar mesa por medio a un discípulo, a quien le ordenaba sostener la nariz con una tablilla de unos cuatro centímetros de ancho y sesenta y seis centímetros de largo mientras duraba la comida. Pero comer en esas condiciones no era tarea fácil ni para el uno ni para el otro. Cierta vez, un ayudante que reemplazaba a ese discípulo estornudó, y al perder el pulso, la nariz que sostenía se precipitó dentro de la sopa de arroz; la noticia se propaló hasta llegar a Kyoto. Pero no eran esas pequeñeces la verdadera causa del pesar de Naigu. Le mortificaba sentirse herido en su orgullo a causa de la nariz.
La gente del pueblo opinaba que Naigu debía de sentirse feliz, ya que al no poder casarse, se beneficiaba como sacerdote; pensaban que con esa nariz ninguna mujer aceptaría unirse a él. También se decía, maliciosamente, que él había decidido su vocación justamente a raíz de esa desgracia. Pero ni el mismo Naigu pensó jamás que el tomar los hábitos le aliviara esa preocupación. Empero, la dignidad de Naigu no podía ser turbada por un hecho tan accesorio como podía ser el de tomar una mujer. De ahí que tratara, activa o pasivamente, de restaurar su orgullo mal herido.
En primer lugar, pensó en encontrar algún modo de que la nariz aparentara ser más corta. Cuando se encontraba solo, frente al espejo, estudiaba su cara detenidamente desde diversos ángulos. Otras veces, no satisfecho con cambiar de posiciones, ensayaba pacientemente apoyar la cara entre las manos, o sostener con un dedo el centro del mentón. Pero lamentablemente, no hubo una sola vez en que la nariz se viera satisfactoriamente más corta de lo que era. Ocurría, además, que cuando más se empeñaba, más larga la veía cada vez. Entonces guardaba el espejo y, suspirando hondamente, volvía descorazonado a la mesa de oraciones. De allí en adelante mantuvo fija su atención en la nariz de los demás.
En el templo de lke-no-wo funcionaban frecuentemente seminarios para los sacerdotes; en el interior del templo existen numerosas habitaciones destinadas a alojamiento, y las salas de baños se habilitan en forma permanente. De modo que allí el movimiento de sacerdotes era continuo. Naigu escrutaba pacientemente la cara de todos ellos con la esperanza de encontrar siquiera una persona que tuviera una nariz semejante a la suya. Nada le importaban los lujosos hábitos que vestían, sobre todo porque estaba habituado a verlos. Naigu no miraba a la gente, miraba las narices. Pero aunque las había aguileñas, no encontraba ninguna como la suya; y cada vez que comprobaba esto, su mal humor iba creciendo. Si al hablar con alguien inconscientemente se tocaba el extremo de su enorme nariz y se le veía enrojecer de vergüenza a pesar de su edad, ello denunciaba su mal humor.
Recurrió entonces a los textos budistas en busca de alguna hipertrofia. Pero para desconsuelo de Naigu, nada le decía si el famoso sacerdote japonés Nichiren, o Sãriputra, uno de los diez discípulos de Buda, habían tenido narices largas. Seguramente tanto Nãgãrjuna, el conocido filósofo budista del siglo II, como Bamei, otro ilustre sacerdote, tenían una nariz normal. Cuando Naigu supo que Ryugentoku, personaje legendario del país Shu, de China, había tenido grandes orejas, pensó cuánto lo habría consolado si, en lugar de esas orejas, se hubiese tratado de la nariz.
Pero no es de extrañar que, a pesar de estos lamentos, Naigu intentara en toda forma reducir el tamaño de su nariz. Hizo cuanto le fue dado hacer, desde beber una cocción de uñas de cuervo hasta frotar la nariz con orina de ratón. Pero nada. La nariz seguía colgando lánguidamente.
Hasta que un otoño, un discípulo enviado en una misión a Kyoto, reveló que había aprendido de un médico su tratamiento para acortar narices. Sin embargo, Naigu, dando a entender que no le importaba tener esa nariz, se negó a poner en práctica el tratamiento de ese médico de origen chino, si bien, por otra parte, esperaba que el discípulo insistiera en ello, y a la hora de las comidas decía ante todos, intencionalmente, que no deseaba molestar al discípulo por semejante tontería. El discípulo, advirtiendo la maniobra, sintió más compasión que desagrado, y tal como Naigu lo esperaba, volvió a insistir para que ensayara el método. Naturalmente, Naigu accedió.
El método era muy simple, y consistía en hervir la nariz y pisotearla después. El discípulo trajo del baño un balde de agua tan caliente que no podía introducirse en ella el dedo. Como había peligro de quemarse con el vapor, el discípulo abrió un agujero en una tabla redonda, y tapando con ella el balde hizo a Naigu introducir su nariz en el orificio. La nariz no experimentó ninguna sensación al sumergirse en el agua caliente. Pasado un momento dijo el discípulo:
-Creo que ya ha hervido.
Naigu sonrió amargamente; oyendo sólo estas palabras nadie hubiera imaginado que lo que se estaba hirviendo era su nariz. Le picaba intensamente. El discípulo la recogió del balde y empezó a pisotear el promontorio humeante. Acostado y con la nariz sobre una tabla, Naigu observaba cómo los pies del discípulo subían y bajaban delante de sus ojos. Mirando la cabeza calva del maestro aquél le decía de vez en cuando, apesadumbrado:
-¿No te duele? ¿Sabes?... el médico me dijo que pisara con fuerza. Pero, ¿no te duele?
En verdad, no sentía ni el más mínimo dolor, puesto que le aliviaba la picazón en el lugar exacto.
Al cabo de un momento unos granitos empezaron a formarse en la nariz. Era como si se hubiera asado un pájaro desplumado. Al ver esto, el discípulo dejó de pisar y dijo como si hablara consigo mismo: "El médico dijo que había que sacar los granos con una pinza".
Expresando en el rostro su disconformidad con el trato que le daba el discípulo, Naigu callaba. No dejaba de valorar la amabilidad de éste. Pero tampoco podía tolerar que tratase su nariz como una cosa cualquiera. Como el paciente que duda de la eficacia de un tratamiento, Naigu miraba con desconfianza cómo el discípulo arrancaba los granos de su nariz.
Al término de esta operación, el discípulo le anunció con cierto alivio:
-Tendrás que hervirla de nuevo.
La segunda vez comprobaron que se había acortado mucho más que antes. Acariciándola aún, Naigu se miró avergonzado en el espejo que le tendía el discípulo. La nariz, que antes le llegara a la mandíbula, se había reducido hasta quedar sólo a la altura del labio superior. Estaba, naturalmente, enrojecida a consecuencia del pisoteo.
"En adelante ya nadie podrá burlarse de mi nariz". El rostro reflejado en el espejo contemplaba satisfecho a Naigu.
Pasó el resto del día con el temor de que la nariz recuperara su tamaño anterior. Mientras leía los sutras, o durante las comidas, en fin, en todo momento, se tanteaba la nariz para poder desechar sus dudas. Pero la nariz se mantenía respetuosamente en su nuevo estado. Cuando despertó al día siguiente, de nuevo se llevó la mano a la nariz, y comprobó que no había vuelto a sufrir ningún cambio. Naigu experimentó un alivio y una satisfacción sólo comparables a los que sentía cada vez que terminaba de copiar los sutras.
Pero después de dos o tres días comprobó que algo extraño ocurría. Un conocido samurai que de visita al templo lo había entrevistado, no había hecho otra cosa que mirar su nariz y, conteniendo la risa, apenas le había hablado. Y para colmo, el ayudante que había hecho caer la nariz dentro de la sopa de arroz, al cruzarse con Naigu fuera del recinto de lectura, había bajado la cabeza, pero luego, sin poder contenerse más, se había reído abiertamente. Los practicantes que recibían de él alguna orden lo escuchaban ceremoniosamente, pero una vez que él se alejaba rompían a reír. Eso no ocurrió ni una ni dos veces. Al principio Naigu lo interpretó como una consecuencia natural del cambio de su fisonomía. Pero esta explicación no era suficiente; aunque el motivo fuera ése, el modo de burlarse era "diferente" al de antes, cuando ostentaba su larga nariz. Si en Naigu la nariz corta resultaba más cómica que la anterior, ésa era otra cuestión; al parecer, ahí había algo más que eso...
"Pero si antes no se reían tan abiertamente..." Así cavilaba Naigu, dejando de leer el sutra e inclinando su cabeza calva. Contemplando la pintura de Samantabliadra, recordó su larga nariz de días atrás, y se quedó meditando como "aquel ser repudiado y desterrado que recuerda tristemente su glorioso pasado". Naigu no poseía, lamentablemente, la inteligencia suficiente para responder a este problema.
En el hombre conviven dos sentimientos opuestos. No hay nadie, por ejemplo, que ante la desgracia del prójimo, no sienta compasión. Pero si esa misma persona consigue superar esa desgracia ya no nos emociona mayormente. Exagerando, nos tienta a hacerla caer de nuevo en su anterior estado. Y sin darnos cuenta sentimos cierta hostilidad hacia ella. Lo que Naigu sintió en la actitud de todos ellos fue, aunque él no lo supiera con exactitud, precisamente ese egoísmo del observador ajeno ante la desgracia del prójimo.
Día a día Naigu se volvía más irritable e irascible. Se enfadaba por cualquier insignificancia. El mismo discípulo que le había practicado la cura con la mejor voluntad, empezó a decir que Naigu recibiría el castigo de Buda. Lo que enfureció particularmente a Naigu fue que, cierto día, escuchó agudos ladridos y al asomarse para ver qué ocurría, se encontró con que el ayudante perseguía a un perro de pelos largos con una tabla de unos setenta centímetros de largo, gritando: "La nariz, te pegaré en la nariz".
Naigu le arrebató el palo y le pegó en la cidra al ayudante. Era la misma tabla que había servido antes para sostener su nariz cuando comía.
Naigu lamentó lo sucedido, y se arrepintió más que nunca de haber acortado su nariz.
Una noche soplaba el viento y se escuchaba el tañido de la campana del templo. El anciano Naigu trataba de dormir, pero el frío que comenzaba a llegar se lo impedía. Daba vueltas en el lecho tratando de conciliar el sueño, cuando sintió una picazón en la nariz. Al pasarse la mano la notó algo hinchada e incluso afiebrada.
-Debo haber enfermado por el tratamiento.
En actitud de elevar una ofrenda, ceremoniosamente, sujetó la nariz con ambas manos. A la mañana. siguiente, al levantarse temprano como de costumbre, vio el jardín del templo cubierto por las hojas muertas de las breneas y los castaños, caídas en la noche anterior. El jardín brillaba como si fuera de oro por las hojas amarillentas. El sol empezaba a asomarse. Naigu salió a la galería que daba al jardín y aspiró profundamente.
En ese momento, sintió retornar una sensación que había estado a punto de olvidar. Instintivamente se llevó las manos a la nariz. ¡Era la nariz de antes, con sus 16 centímetros! Naigu volvió a sentirse tan lleno de júbilo como cuando comprobó su reducción.
-Desde ahora nadie volverá a burlarse de mí.
Así murmuró para sí mismo, haciendo oscilar con delicia la larga nariz en la brisa matinal del otoño.
Ryunosuke Akutagawa
Fonte : Biblioteca Digital Ciudad Seva
Naigu tiene más de 50 años, y desde sus tiempos de novicio, y aun encontrándose al frente de los seminarios de la corte, ha vivido constantemente preocupado por su nariz. Por cierto que simula la mayor indiferencia, no ya porque su condición de sacerdote "que aspira a la salvación en la Tierra Pura del Oeste" le impida abstraerse en tales problemas, sino más bien porque le disgusta que los demás piensen que a él le preocupa. Naigu teme la aparición de la palabra nariz en las conversaciones cotidianas.
Existen dos razones para que a Naigu le moleste su nariz. La primera de ellas: la gran incomodidad que provoca su tamaño. Esto no le permitió nunca comer solo, pues la nariz se le hundía en las comidas. Entonces Naigu hacía sentar mesa por medio a un discípulo, a quien le ordenaba sostener la nariz con una tablilla de unos cuatro centímetros de ancho y sesenta y seis centímetros de largo mientras duraba la comida. Pero comer en esas condiciones no era tarea fácil ni para el uno ni para el otro. Cierta vez, un ayudante que reemplazaba a ese discípulo estornudó, y al perder el pulso, la nariz que sostenía se precipitó dentro de la sopa de arroz; la noticia se propaló hasta llegar a Kyoto. Pero no eran esas pequeñeces la verdadera causa del pesar de Naigu. Le mortificaba sentirse herido en su orgullo a causa de la nariz.
La gente del pueblo opinaba que Naigu debía de sentirse feliz, ya que al no poder casarse, se beneficiaba como sacerdote; pensaban que con esa nariz ninguna mujer aceptaría unirse a él. También se decía, maliciosamente, que él había decidido su vocación justamente a raíz de esa desgracia. Pero ni el mismo Naigu pensó jamás que el tomar los hábitos le aliviara esa preocupación. Empero, la dignidad de Naigu no podía ser turbada por un hecho tan accesorio como podía ser el de tomar una mujer. De ahí que tratara, activa o pasivamente, de restaurar su orgullo mal herido.
En primer lugar, pensó en encontrar algún modo de que la nariz aparentara ser más corta. Cuando se encontraba solo, frente al espejo, estudiaba su cara detenidamente desde diversos ángulos. Otras veces, no satisfecho con cambiar de posiciones, ensayaba pacientemente apoyar la cara entre las manos, o sostener con un dedo el centro del mentón. Pero lamentablemente, no hubo una sola vez en que la nariz se viera satisfactoriamente más corta de lo que era. Ocurría, además, que cuando más se empeñaba, más larga la veía cada vez. Entonces guardaba el espejo y, suspirando hondamente, volvía descorazonado a la mesa de oraciones. De allí en adelante mantuvo fija su atención en la nariz de los demás.
En el templo de lke-no-wo funcionaban frecuentemente seminarios para los sacerdotes; en el interior del templo existen numerosas habitaciones destinadas a alojamiento, y las salas de baños se habilitan en forma permanente. De modo que allí el movimiento de sacerdotes era continuo. Naigu escrutaba pacientemente la cara de todos ellos con la esperanza de encontrar siquiera una persona que tuviera una nariz semejante a la suya. Nada le importaban los lujosos hábitos que vestían, sobre todo porque estaba habituado a verlos. Naigu no miraba a la gente, miraba las narices. Pero aunque las había aguileñas, no encontraba ninguna como la suya; y cada vez que comprobaba esto, su mal humor iba creciendo. Si al hablar con alguien inconscientemente se tocaba el extremo de su enorme nariz y se le veía enrojecer de vergüenza a pesar de su edad, ello denunciaba su mal humor.
Recurrió entonces a los textos budistas en busca de alguna hipertrofia. Pero para desconsuelo de Naigu, nada le decía si el famoso sacerdote japonés Nichiren, o Sãriputra, uno de los diez discípulos de Buda, habían tenido narices largas. Seguramente tanto Nãgãrjuna, el conocido filósofo budista del siglo II, como Bamei, otro ilustre sacerdote, tenían una nariz normal. Cuando Naigu supo que Ryugentoku, personaje legendario del país Shu, de China, había tenido grandes orejas, pensó cuánto lo habría consolado si, en lugar de esas orejas, se hubiese tratado de la nariz.
Pero no es de extrañar que, a pesar de estos lamentos, Naigu intentara en toda forma reducir el tamaño de su nariz. Hizo cuanto le fue dado hacer, desde beber una cocción de uñas de cuervo hasta frotar la nariz con orina de ratón. Pero nada. La nariz seguía colgando lánguidamente.
Hasta que un otoño, un discípulo enviado en una misión a Kyoto, reveló que había aprendido de un médico su tratamiento para acortar narices. Sin embargo, Naigu, dando a entender que no le importaba tener esa nariz, se negó a poner en práctica el tratamiento de ese médico de origen chino, si bien, por otra parte, esperaba que el discípulo insistiera en ello, y a la hora de las comidas decía ante todos, intencionalmente, que no deseaba molestar al discípulo por semejante tontería. El discípulo, advirtiendo la maniobra, sintió más compasión que desagrado, y tal como Naigu lo esperaba, volvió a insistir para que ensayara el método. Naturalmente, Naigu accedió.
El método era muy simple, y consistía en hervir la nariz y pisotearla después. El discípulo trajo del baño un balde de agua tan caliente que no podía introducirse en ella el dedo. Como había peligro de quemarse con el vapor, el discípulo abrió un agujero en una tabla redonda, y tapando con ella el balde hizo a Naigu introducir su nariz en el orificio. La nariz no experimentó ninguna sensación al sumergirse en el agua caliente. Pasado un momento dijo el discípulo:
-Creo que ya ha hervido.
Naigu sonrió amargamente; oyendo sólo estas palabras nadie hubiera imaginado que lo que se estaba hirviendo era su nariz. Le picaba intensamente. El discípulo la recogió del balde y empezó a pisotear el promontorio humeante. Acostado y con la nariz sobre una tabla, Naigu observaba cómo los pies del discípulo subían y bajaban delante de sus ojos. Mirando la cabeza calva del maestro aquél le decía de vez en cuando, apesadumbrado:
-¿No te duele? ¿Sabes?... el médico me dijo que pisara con fuerza. Pero, ¿no te duele?
En verdad, no sentía ni el más mínimo dolor, puesto que le aliviaba la picazón en el lugar exacto.
Al cabo de un momento unos granitos empezaron a formarse en la nariz. Era como si se hubiera asado un pájaro desplumado. Al ver esto, el discípulo dejó de pisar y dijo como si hablara consigo mismo: "El médico dijo que había que sacar los granos con una pinza".
Expresando en el rostro su disconformidad con el trato que le daba el discípulo, Naigu callaba. No dejaba de valorar la amabilidad de éste. Pero tampoco podía tolerar que tratase su nariz como una cosa cualquiera. Como el paciente que duda de la eficacia de un tratamiento, Naigu miraba con desconfianza cómo el discípulo arrancaba los granos de su nariz.
Al término de esta operación, el discípulo le anunció con cierto alivio:
-Tendrás que hervirla de nuevo.
La segunda vez comprobaron que se había acortado mucho más que antes. Acariciándola aún, Naigu se miró avergonzado en el espejo que le tendía el discípulo. La nariz, que antes le llegara a la mandíbula, se había reducido hasta quedar sólo a la altura del labio superior. Estaba, naturalmente, enrojecida a consecuencia del pisoteo.
"En adelante ya nadie podrá burlarse de mi nariz". El rostro reflejado en el espejo contemplaba satisfecho a Naigu.
Pasó el resto del día con el temor de que la nariz recuperara su tamaño anterior. Mientras leía los sutras, o durante las comidas, en fin, en todo momento, se tanteaba la nariz para poder desechar sus dudas. Pero la nariz se mantenía respetuosamente en su nuevo estado. Cuando despertó al día siguiente, de nuevo se llevó la mano a la nariz, y comprobó que no había vuelto a sufrir ningún cambio. Naigu experimentó un alivio y una satisfacción sólo comparables a los que sentía cada vez que terminaba de copiar los sutras.
Pero después de dos o tres días comprobó que algo extraño ocurría. Un conocido samurai que de visita al templo lo había entrevistado, no había hecho otra cosa que mirar su nariz y, conteniendo la risa, apenas le había hablado. Y para colmo, el ayudante que había hecho caer la nariz dentro de la sopa de arroz, al cruzarse con Naigu fuera del recinto de lectura, había bajado la cabeza, pero luego, sin poder contenerse más, se había reído abiertamente. Los practicantes que recibían de él alguna orden lo escuchaban ceremoniosamente, pero una vez que él se alejaba rompían a reír. Eso no ocurrió ni una ni dos veces. Al principio Naigu lo interpretó como una consecuencia natural del cambio de su fisonomía. Pero esta explicación no era suficiente; aunque el motivo fuera ése, el modo de burlarse era "diferente" al de antes, cuando ostentaba su larga nariz. Si en Naigu la nariz corta resultaba más cómica que la anterior, ésa era otra cuestión; al parecer, ahí había algo más que eso...
"Pero si antes no se reían tan abiertamente..." Así cavilaba Naigu, dejando de leer el sutra e inclinando su cabeza calva. Contemplando la pintura de Samantabliadra, recordó su larga nariz de días atrás, y se quedó meditando como "aquel ser repudiado y desterrado que recuerda tristemente su glorioso pasado". Naigu no poseía, lamentablemente, la inteligencia suficiente para responder a este problema.
En el hombre conviven dos sentimientos opuestos. No hay nadie, por ejemplo, que ante la desgracia del prójimo, no sienta compasión. Pero si esa misma persona consigue superar esa desgracia ya no nos emociona mayormente. Exagerando, nos tienta a hacerla caer de nuevo en su anterior estado. Y sin darnos cuenta sentimos cierta hostilidad hacia ella. Lo que Naigu sintió en la actitud de todos ellos fue, aunque él no lo supiera con exactitud, precisamente ese egoísmo del observador ajeno ante la desgracia del prójimo.
Día a día Naigu se volvía más irritable e irascible. Se enfadaba por cualquier insignificancia. El mismo discípulo que le había practicado la cura con la mejor voluntad, empezó a decir que Naigu recibiría el castigo de Buda. Lo que enfureció particularmente a Naigu fue que, cierto día, escuchó agudos ladridos y al asomarse para ver qué ocurría, se encontró con que el ayudante perseguía a un perro de pelos largos con una tabla de unos setenta centímetros de largo, gritando: "La nariz, te pegaré en la nariz".
Naigu le arrebató el palo y le pegó en la cidra al ayudante. Era la misma tabla que había servido antes para sostener su nariz cuando comía.
Naigu lamentó lo sucedido, y se arrepintió más que nunca de haber acortado su nariz.
Una noche soplaba el viento y se escuchaba el tañido de la campana del templo. El anciano Naigu trataba de dormir, pero el frío que comenzaba a llegar se lo impedía. Daba vueltas en el lecho tratando de conciliar el sueño, cuando sintió una picazón en la nariz. Al pasarse la mano la notó algo hinchada e incluso afiebrada.
-Debo haber enfermado por el tratamiento.
En actitud de elevar una ofrenda, ceremoniosamente, sujetó la nariz con ambas manos. A la mañana. siguiente, al levantarse temprano como de costumbre, vio el jardín del templo cubierto por las hojas muertas de las breneas y los castaños, caídas en la noche anterior. El jardín brillaba como si fuera de oro por las hojas amarillentas. El sol empezaba a asomarse. Naigu salió a la galería que daba al jardín y aspiró profundamente.
En ese momento, sintió retornar una sensación que había estado a punto de olvidar. Instintivamente se llevó las manos a la nariz. ¡Era la nariz de antes, con sus 16 centímetros! Naigu volvió a sentirse tan lleno de júbilo como cuando comprobó su reducción.
-Desde ahora nadie volverá a burlarse de mí.
Así murmuró para sí mismo, haciendo oscilar con delicia la larga nariz en la brisa matinal del otoño.
Ryunosuke Akutagawa
Fonte : Biblioteca Digital Ciudad Seva
segunda-feira, 25 de abril de 2011
A arte de demolir clichês
Libanesa luta contra estereótipos ocidentais sobre a mulher árabe
Luiz Zanin Oricchio
Uma jornalista estrangeira julgou que fazia um cumprimento a Joumana Haddad ao dizer que não sabia como ela conseguiu publicar uma revista erótica em sua língua materna. Joumana, editora da revista Jasad, ofendeu-se. E a coisa piorou quando a sueca completou: “No Ocidente não estamos familiarizados com a possibilidade de existirem mulheres árabes liberadas como você”, disse. Joumana deu uma resposta malcriada, alguma coisa sobre como não se sentir tão excepcional assim e que a jornalista, na verdade, exibia uma visão preconceituosa sobre o Oriente em geral, e sobre a mulher árabe, de maneira particular.
Mas tarde, e um pouco mais calma, a libanesa Joumana Haddad, nascida em 1970, arrependeu-se da irritação e começou a escrever tentando entender sua reação um tanto destemperada. O resultado, depois de vários rascunhos e textos parciais, é o livro Eu Matei Sherazade, que contém o conveniente subtítulo Confissões de Uma Árabe Enfurecida.
Seu primeiro trabalho é desfazer preconceitos: “Não moro numa tenda, não ando de camelo e não pratico a dança do ventre”, avisa. Ao contar parte de sua própria vida, Joumana fornece retrato bem diferente à nossa consideração. Ela mesma filha de uma família culta e conservadora, diz que se formou a partir da leitura de livros tirados da ótima biblioteca paterna.
O volume que mais a influenciou na adolescência? Nada menos que Justine, ou os Malefícios da Virtude, do Marquês de Sade, que leu na flor dos 12 anos. Antes, a garota havia atravessado As Ilusões Perdidas e ela mesma se pergunta como não naufragou no imenso abismo existente entre Balzac e o Divino Marquês. Na prateleira libertina do pai colheu ainda Henry Miller e autores árabes, que alternava com Hugo, Nabokov, Flaubert, Stendhal e Proust. Não admira que tanta variedade, dentro da qualidade, tenha forjado um espírito livre.
Ou melhor, um espírito por se libertar, porque Joumana sabe que a liberdade é um trabalho e muitas vezes se sente como ave a se debater entre grades. Seu espírito voa, mas é consciente de pertencer a uma cultura opressiva à qual não se rende.
O relato dessa luta tem muita beleza e encantamento. Poderia mostrar, talvez, um pouco mais de profundidade, qualidade que costuma vir acompanhada de serenidade. Talvez isso fique para depois. Há um tempo para a raiva e outro para a reflexão. Joumana estará na Fliporto, em Olinda, entre 11 e 15 de novembro. Promete incendiar os debates.
EU MATEI SHERAZADE
Autora: Joumana Haddad
Tradução: Dinah Azevedo
Editora: Record
(144 págs., R$ 29,90)
Fonte : O Estado de São Paulo 23/04/2011
Luiz Zanin Oricchio
Uma jornalista estrangeira julgou que fazia um cumprimento a Joumana Haddad ao dizer que não sabia como ela conseguiu publicar uma revista erótica em sua língua materna. Joumana, editora da revista Jasad, ofendeu-se. E a coisa piorou quando a sueca completou: “No Ocidente não estamos familiarizados com a possibilidade de existirem mulheres árabes liberadas como você”, disse. Joumana deu uma resposta malcriada, alguma coisa sobre como não se sentir tão excepcional assim e que a jornalista, na verdade, exibia uma visão preconceituosa sobre o Oriente em geral, e sobre a mulher árabe, de maneira particular.
Mas tarde, e um pouco mais calma, a libanesa Joumana Haddad, nascida em 1970, arrependeu-se da irritação e começou a escrever tentando entender sua reação um tanto destemperada. O resultado, depois de vários rascunhos e textos parciais, é o livro Eu Matei Sherazade, que contém o conveniente subtítulo Confissões de Uma Árabe Enfurecida.
Seu primeiro trabalho é desfazer preconceitos: “Não moro numa tenda, não ando de camelo e não pratico a dança do ventre”, avisa. Ao contar parte de sua própria vida, Joumana fornece retrato bem diferente à nossa consideração. Ela mesma filha de uma família culta e conservadora, diz que se formou a partir da leitura de livros tirados da ótima biblioteca paterna.
O volume que mais a influenciou na adolescência? Nada menos que Justine, ou os Malefícios da Virtude, do Marquês de Sade, que leu na flor dos 12 anos. Antes, a garota havia atravessado As Ilusões Perdidas e ela mesma se pergunta como não naufragou no imenso abismo existente entre Balzac e o Divino Marquês. Na prateleira libertina do pai colheu ainda Henry Miller e autores árabes, que alternava com Hugo, Nabokov, Flaubert, Stendhal e Proust. Não admira que tanta variedade, dentro da qualidade, tenha forjado um espírito livre.
Ou melhor, um espírito por se libertar, porque Joumana sabe que a liberdade é um trabalho e muitas vezes se sente como ave a se debater entre grades. Seu espírito voa, mas é consciente de pertencer a uma cultura opressiva à qual não se rende.
O relato dessa luta tem muita beleza e encantamento. Poderia mostrar, talvez, um pouco mais de profundidade, qualidade que costuma vir acompanhada de serenidade. Talvez isso fique para depois. Há um tempo para a raiva e outro para a reflexão. Joumana estará na Fliporto, em Olinda, entre 11 e 15 de novembro. Promete incendiar os debates.
EU MATEI SHERAZADE
Autora: Joumana Haddad
Tradução: Dinah Azevedo
Editora: Record
(144 págs., R$ 29,90)
Fonte : O Estado de São Paulo 23/04/2011
domingo, 24 de abril de 2011
O artista inconfessável
Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer.
mais vale o inútil do fazer.
Mas não fazer para esquecer
que é inútil; nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil , e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais dificil-
mente se poderás dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.
João Cabral de Mello Neto.
in: O artista inconfessável, Rio de Janero .Objetiva, 2007
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer.
mais vale o inútil do fazer.
Mas não fazer para esquecer
que é inútil; nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil , e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais dificil-
mente se poderás dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.
João Cabral de Mello Neto.
in: O artista inconfessável, Rio de Janero .Objetiva, 2007
Parâmetro
Deus é mais belo que eu.
E não é jovem.
Isto ,sim, é consolo.
Adélia Prado
in:A faca no peito.Rio de Janeiro:2007, p29
E não é jovem.
Isto ,sim, é consolo.
Adélia Prado
in:A faca no peito.Rio de Janeiro:2007, p29
quinta-feira, 21 de abril de 2011
domingo, 17 de abril de 2011
Loucura
teu medo em minhas entranhas
meu cheiro em teus pesadelos
teu gosto em minhas façanhas
meu seio te lambe os cabelos
teu dedo em minha ferida
meu tempo em tua salada
tua voz, minha chaga parida
minha vida, tua encruzilhada
meus dentes em tua paixão
teu cetro vertendo meu dia
meu luto em tua aspiração
teu riso em minha alforria
teu nome em minha doença
meu corpo em tua desdita
teu hálito em minha crença
minha alma sempre maldita
meus vales em teu caminho
teu rio me deságua em mar
minha lava te banha de cio
teu pólen me faz aflorar
meu sonho e meu dia se fundem
tua noite vagueia sem pejo
os versos em nós se confundem
e a dor se transforma em desejo
loucura é esse amor sem perdão
perdido entre os tantos que somos
rescaldo de entrega e explosão
a cura do mal que não fomos.
Lílian Maial
– Escritoras Suicidas
meu cheiro em teus pesadelos
teu gosto em minhas façanhas
meu seio te lambe os cabelos
teu dedo em minha ferida
meu tempo em tua salada
tua voz, minha chaga parida
minha vida, tua encruzilhada
meus dentes em tua paixão
teu cetro vertendo meu dia
meu luto em tua aspiração
teu riso em minha alforria
teu nome em minha doença
meu corpo em tua desdita
teu hálito em minha crença
minha alma sempre maldita
meus vales em teu caminho
teu rio me deságua em mar
minha lava te banha de cio
teu pólen me faz aflorar
meu sonho e meu dia se fundem
tua noite vagueia sem pejo
os versos em nós se confundem
e a dor se transforma em desejo
loucura é esse amor sem perdão
perdido entre os tantos que somos
rescaldo de entrega e explosão
a cura do mal que não fomos.
Lílian Maial
– Escritoras Suicidas
quinta-feira, 14 de abril de 2011
terça-feira, 12 de abril de 2011
Birouk
Iván Turgueniev
Regresaba de cazar, solo, en drochka. Para llegar a mi casa faltaban aún ocho verstas. Mi buena yegua recorría con paso igual y rápido el camino polvoriento, aguzaba las orejas y de vez en cuando soltaba un relincho en seguida sofocado.
Mi perro nos seguía a medio paso de las ruedas traseras. En el aire se olía la tormenta.
Lentamente, frente a mí, se levantaba una nube violácea, por encima del bosque; vapores grises corrían a mi encuentro, las hojas de los sauces se removían susurrantes.
El calor, hasta entonces sofocante, dejó paso a una frescura húmeda, penetrante.
Espoleé a la yegua, descendí al barranco, atravesé el lecho desecado, cubierto de espinos, y al cabo de algunos minutos me interné en el bosque.
El camino serpenteaba entre masas de nogales y avellanos; reinaba profunda oscuridad, y yo avanzaba al azar.
Mi pequeño vehículo chocaba contra las raíces nudosas de tilos y encinas centenarias, o bien se hundía en las huellas dejadas por otros carros.
La yegua empezó a sentir miedo.
Un viento impetuoso vino a penetrar en el bosque, ruidosamente, y sobre las hojas caían gruesas gotas de agua. Un relámpago cruzó el firmamento y le siguió el estampido de un trueno.
La lluvia se convirtió en un verdadero torrente, que me obligó a reducir la marcha; mi yegua se embarraba; yo no veía a dos pasos de mí.
Me guarecí en el follaje.
Acurrucado, tapada la cara, me armé de paciencia para aguardar el fin de la tormenta.
Al resplandor de un relámpago, distinguí a un hombre en el camino. Venía hacia donde yo me hallaba.
-¿Quién eres? -me preguntó con voz atronadora.
-¿Y tú?
-Soy el guardabosque.
Y cuando me hube identificado:
-¡Ah!, ya sé, ibas a tu casa -dijo.
-¿Oyes la tormenta?
-Es tremenda -respondió la voz.
En ese momento, el destello de un relámpago iluminó a mi interlocutor, y pude verlo claramente. Al repentino resplandor siguió un trueno y arreció la lluvia.
-Hay para rato -dijo el guardabosque.
-¿Qué se puede hacer?
-¿Quieres que te lleve a mi isba?
-Con mucho gusto.
-Sube, pues, a tu drochka.
El guardabosque tomó mi yegua por la brida y sacó el vehículo de la huella pantanosa donde nos habíamos detenido.
Me agarré al almohadón del vehículo, que se balanceaba como un barco en un mar tempestuoso.
La yegua resbalaba y a cada momento estaba a punto de caer... La espoleaba Birouk pegándole con el látigo, ya a la derecha, ya a la izquierda.
Avanzaba en la sombra, como un espectro, y una vez atravesado el bosque nos detuvo junto a su choza.
-Es aquí, mi amo.
Miré. A la luz de los relámpagos alcancé a ver una pequeña isba en medio de un recinto de césped.
Después de atar el animal a la reja, el guardabosque fue a llamar a la puerta. Por una de las estrechas ventanas se filtraba un débil hilo de luz.
-¡Ya! -gritó una voz infantil, apenas hubo llamado el hombre.
Escuché unos pasitos precipitados de pies descalzos. Movieron el picaporte y una chiquilla de doce años abrió la puerta.
-Alumbra al amo -dijo Birouk-, mientras llevo el coche al cobertizo.
La niña levantó los ojos y me hizo señas de que la siguiera.
Constaba la cabaña del guarda de una sola habitación baja, llena de humo y sin ningún tabique. Del muro colgaba una vieja manta desgarrada. Sobre un taburete había un fusil y dos líos de trapos. Una claridad vacilante alumbraba triste y miserablemente la habitación.
En medio de la estancia, una cuna se hallaba sujeta mediante una larga percha. Tras apagar la linterna, la niña se sentó en un taburete y se puso a mover la cunita con suave balanceo.
Observé este cuadro con el corazón oprimido. Solamente la ansiosa respiración de la criatura adormecida turbaba el silencio sepulcral.
-¿Estás sola? -pregunté a la chiquilla.
-Sola -me respondió, temerosa.
-¿Eres la hija del guardabosque?
-Sí -dijo balbuceando.
Se abrió la puerta y Birouk entró.
Al ver la linterna en el suelo frotó una cerilla y encendió una vela que había sobre la mesa.
Rara vez había tenido ocasión de ver a un tipo tan fuerte. Grande, poderoso de espaldas y de pecho, y bien plantado de talle. Sus vigorosos músculos resaltaban bajo la remendada camisa. Una negra barba le cubría masculino y duro el mentón, cejas tupidas sombreaban sus negros ojos, de mirada viva. Se plantó frente a mí, las manos en la cintura.
Agradecí su ayuda y le pregunté su nombre.
-Foma -dijo-, y Birouk, por sobrenombre.
Lo examiné con atención. Muchas veces Jermolai y los paisanos me habían hablado de este guardabosque; le temían como al rayo, a causa de la eficaz diligencia que ponía en sus funciones.
Con él, era imposible robar ni un pequeño haz de leña. Hiciera el tiempo que hiciera, siempre estaba al acecho, dispuesto a caer sobre el merodeador. Con frecuencia le habían tendido emboscadas. Pero él siempre se había alzado con la victoria.
-¡Ah! -dije después de recordar-, ¡Eres Birouk! He oído decir que eres implacable.
-Sencillamente cumplo con mi deber -repuso bruscamente-. Debo ganarme honradamente el pan que me da mi amo.
-Así, pues, ¿no tienes mujer?
-No -dijo tristemente-, mi pobre amiga ha muerto; pronto hará tres meses que nos dejó.
-¡Pobres niños! -murmuré.
Pero él ya había desechado sus dolorosos pensamientos y salió, dando un portazo.
Examiné la isba, que me pareció aún más triste. Un olor acre de humo se me metía en la garganta. La chiquilla, sin moverse del taburete, seguía balanceando la mísera cuna.
-¿Cómo te llamas?
-Aulita -respondió débilmente.
-La tormenta remite -dijo entrando el guardabosque-. Si el amo lo dispone, yo lo conduciré a la linde del bosque.
Me dispuse a partir.
Pero Birouk tomó su fusil y examinó la batería.
-¿Y para qué esa arma?
-Ahí, en el barranco de Kabouyl, apostaría a que están cortando leña.
-No podrías oírlo desde aquí.
-De aquí no, pero sí desde el patio.
Partimos. Ya no llovía. En el horizonte se prolongaba una espesa cortina de nubes, que era surcada por relámpagos. Sobre nosotros, el cielo tenía un sombrío color azul, y las coquetas estrellas procuraban atravesar con su brillo las húmedas nubes.
Respiré con placer el olor penetrante del bosque mojado, y escuché el ruido ligero de las gotas que caían de las hojas.
Birouk me sacó del ensueño.
-Allí es -dijo, señalando hacia el oeste.
Yo nada oía, sino el dulce susurro de la brisa al pasar y de las hojas al caer.
-Ya les daré- dijo mientras me traía el coche.
-Dejemos aquí mi drochka. Permíteme que vaya contigo al barranco.
-Bien, mi amo. A la vuelta te acompañaré.
Fuimos.
El guardabosque iba delante, yo lo seguía dificultosamente a través de los matorrales y de la crecida maleza. De trecho en trecho se detenía para decirme: «¿Oyes los hachazos?» Pero a mis oídos no llegaba ruido alguno.
Minutos más tarde ya estábamos en el barranco; amainó el viento, y alcancé a oír nítidamente los hachazos.
Seguimos nuestro camino atravesando por entre la maleza; el musgo, rebosante de agua, cedía bajo nuestros pies como una esponja cuando la aprietan.
Me llegó al oído el rumor de algo que se quiebra, sorda y prolongadamente.
-Se acabó -rezongó Birouk-, lo cortaron.
Ya menos oscuro el cielo, nos hallábamos en la extremidad del barranco.
-Quédate aquí -me dijo el guardabosque. Con paso furioso se agachó, manteniendo en alto el fusil, y se arrastró entre los matorrales.
Yo escuchaba con atención. Se oían unos golpecitos rápidos, el hacha que desbroza de ramas el árbol caído. Después, el ruido rechinante de las ruedas de un carro. Asomó el caballo.
-¡Alto ahí! ¡Eh! ¡Para! -vociferó Birouk. A estas palabras siguió una queja lastimera.
-¡No te escaparás, viejo! -gritó el guarda-. ¡Espera!
Me precipité hacia el lugar de donde salían los gritos, y después de tropezar varias veces llegué junto al árbol derribado.
Birouk tenía tendido en tierra y fuertemente sujeto al paisano. Al verme lo dejó incorporarse. Era un pobre hombre, de sucia cara y barba revuelta. A pocos pasos se hallaba el carro y un viejo jamelgo.
El guardabosque, con la manaza siempre agarrada al cuello del ladrón, tomó al animal por la brida.
-Adelante, Corneja -dijo vivamente.
-El hacha, recójala -le pidió el paisano.
-Cierto -murmuró Birouk-, puede servir. Y levantó el hacha.
Volvíamos, yo tras ellos. Durante el camino comenzó de nuevo la lluvia y aguantamos un chaparrón. Después de una penosa marcha llegamos a la choza.
Birouk dejó el caballo en medio del patio, sujetó los perros y nos hizo entrar en la isba.
Cuando el guardabosque le hubo desatado las muñecas, el prisionero se sentó en el banco.
-¡Qué aguacero! -dijo Birouk-. Ahora no puedes partir. Descansa, por favor, yo enjaularé a este pájaro al otro lado.
-Gracias, pero no le causes daño.
El paisano me miró con agradecimiento. Me prometí gastar toda mi influencia en conseguir apaciguar la severidad del guardabosque.
En un rincón estaba quieto el infeliz, pálida y ensombrecida la cara, la desolación en los ojos.
Los niños estaban dormidos. Sentándose a la mesa, Birouk tomó su cabeza entre las manos. En medio de un absoluto silencio, un grillo comenzó a cantar.
-¡Foma Birouk! -exclamó el paisano-. ¡Foma, Foma!
-¿Qué hay?
-Deja que me vaya.
El guardabosque permaneció callado.
-Te lo suplico..., el hambre... ya ves... déjame libre.
-Te conozco -dijo el guarda con sequedad-, tu vida es robar, después robar, robar siempre.
-Deja que me vaya -prosiguió el palurdo-, sabes..., ¡ah!, el intendente tiene la culpa, ¡él nos arruinó a todos!
-Esa no es razón para robar.
Suspiró el paisano; movimientos febriles lo sacudían y agitaban su respiración.
-¡Piedad! -clamó con desesperación-. ¡Mis hijitos se mueren de hambre, suéltame!
-No robes.
-Pobre caballo mío, no tengo otra cosa.
-Basta, cállate y permanece quieto, porque aquí hay un señor.
Birouk se acomodó tranquilamente de codos en la mesa. Seguía lloviendo. Yo esperaba ansioso el fin de semejante escena.
De repente, el paisano se incorporó, con un esfuerzo supremo, y gritó:
-¡Ah, tigre sediento de sangre! ¿Crees que no vas a morir, lobo rabioso?
-¿Estás borracho? -dijo el guardabosque.
-Sí, estoy borracho, ¿he bebido por cuenta tuya, devorador de hombres? ¡Sí, quédate mi caballo, tú te irás también! ¡Tigre!... Está bien, ¡pega!
El guardabosque se había puesto en pie.
-¡Pega de una vez! -gritó furioso el paisano.
La pequeña Aulita se había levantado y estaba delante del desgraciado.
-Ahora, silencio -dijo el guarda. Y caminando tomó al ladrón por los hombros como si lo fuese a sacudir con violencia.
Corrí en defensa del infeliz.
-¡No te muevas, señor! -me gritó Birouk.
Pero nada me intimidó y ya tenía cerrados los puños, cuando con gran sorpresa mía, Birouk desató la cuerda que ataba los brazos del ladrón; luego, agarrándolo por el cuello, abrió la puerta y lo lanzó fuera.
-¡Vete al diablo con tu caballo!
Silencioso, el guarda entró de nuevo en la isba.
-Bien -dije a Birouk-, me has asombrado; eres un buen hombre.
-Dejemos eso, amo -rezongó-, y no lo cuentes a nadie. Puesto que ya no llueve, ahora puedo acompañarte.
-¡Ah, cómo corre! -dije escuchando el ruido de un carro que pasaba.
Una hora después me despedía de Birouk en la linde del bosque.
FIN
Fonte : Noticuento
Regresaba de cazar, solo, en drochka. Para llegar a mi casa faltaban aún ocho verstas. Mi buena yegua recorría con paso igual y rápido el camino polvoriento, aguzaba las orejas y de vez en cuando soltaba un relincho en seguida sofocado.
Mi perro nos seguía a medio paso de las ruedas traseras. En el aire se olía la tormenta.
Lentamente, frente a mí, se levantaba una nube violácea, por encima del bosque; vapores grises corrían a mi encuentro, las hojas de los sauces se removían susurrantes.
El calor, hasta entonces sofocante, dejó paso a una frescura húmeda, penetrante.
Espoleé a la yegua, descendí al barranco, atravesé el lecho desecado, cubierto de espinos, y al cabo de algunos minutos me interné en el bosque.
El camino serpenteaba entre masas de nogales y avellanos; reinaba profunda oscuridad, y yo avanzaba al azar.
Mi pequeño vehículo chocaba contra las raíces nudosas de tilos y encinas centenarias, o bien se hundía en las huellas dejadas por otros carros.
La yegua empezó a sentir miedo.
Un viento impetuoso vino a penetrar en el bosque, ruidosamente, y sobre las hojas caían gruesas gotas de agua. Un relámpago cruzó el firmamento y le siguió el estampido de un trueno.
La lluvia se convirtió en un verdadero torrente, que me obligó a reducir la marcha; mi yegua se embarraba; yo no veía a dos pasos de mí.
Me guarecí en el follaje.
Acurrucado, tapada la cara, me armé de paciencia para aguardar el fin de la tormenta.
Al resplandor de un relámpago, distinguí a un hombre en el camino. Venía hacia donde yo me hallaba.
-¿Quién eres? -me preguntó con voz atronadora.
-¿Y tú?
-Soy el guardabosque.
Y cuando me hube identificado:
-¡Ah!, ya sé, ibas a tu casa -dijo.
-¿Oyes la tormenta?
-Es tremenda -respondió la voz.
En ese momento, el destello de un relámpago iluminó a mi interlocutor, y pude verlo claramente. Al repentino resplandor siguió un trueno y arreció la lluvia.
-Hay para rato -dijo el guardabosque.
-¿Qué se puede hacer?
-¿Quieres que te lleve a mi isba?
-Con mucho gusto.
-Sube, pues, a tu drochka.
El guardabosque tomó mi yegua por la brida y sacó el vehículo de la huella pantanosa donde nos habíamos detenido.
Me agarré al almohadón del vehículo, que se balanceaba como un barco en un mar tempestuoso.
La yegua resbalaba y a cada momento estaba a punto de caer... La espoleaba Birouk pegándole con el látigo, ya a la derecha, ya a la izquierda.
Avanzaba en la sombra, como un espectro, y una vez atravesado el bosque nos detuvo junto a su choza.
-Es aquí, mi amo.
Miré. A la luz de los relámpagos alcancé a ver una pequeña isba en medio de un recinto de césped.
Después de atar el animal a la reja, el guardabosque fue a llamar a la puerta. Por una de las estrechas ventanas se filtraba un débil hilo de luz.
-¡Ya! -gritó una voz infantil, apenas hubo llamado el hombre.
Escuché unos pasitos precipitados de pies descalzos. Movieron el picaporte y una chiquilla de doce años abrió la puerta.
-Alumbra al amo -dijo Birouk-, mientras llevo el coche al cobertizo.
La niña levantó los ojos y me hizo señas de que la siguiera.
Constaba la cabaña del guarda de una sola habitación baja, llena de humo y sin ningún tabique. Del muro colgaba una vieja manta desgarrada. Sobre un taburete había un fusil y dos líos de trapos. Una claridad vacilante alumbraba triste y miserablemente la habitación.
En medio de la estancia, una cuna se hallaba sujeta mediante una larga percha. Tras apagar la linterna, la niña se sentó en un taburete y se puso a mover la cunita con suave balanceo.
Observé este cuadro con el corazón oprimido. Solamente la ansiosa respiración de la criatura adormecida turbaba el silencio sepulcral.
-¿Estás sola? -pregunté a la chiquilla.
-Sola -me respondió, temerosa.
-¿Eres la hija del guardabosque?
-Sí -dijo balbuceando.
Se abrió la puerta y Birouk entró.
Al ver la linterna en el suelo frotó una cerilla y encendió una vela que había sobre la mesa.
Rara vez había tenido ocasión de ver a un tipo tan fuerte. Grande, poderoso de espaldas y de pecho, y bien plantado de talle. Sus vigorosos músculos resaltaban bajo la remendada camisa. Una negra barba le cubría masculino y duro el mentón, cejas tupidas sombreaban sus negros ojos, de mirada viva. Se plantó frente a mí, las manos en la cintura.
Agradecí su ayuda y le pregunté su nombre.
-Foma -dijo-, y Birouk, por sobrenombre.
Lo examiné con atención. Muchas veces Jermolai y los paisanos me habían hablado de este guardabosque; le temían como al rayo, a causa de la eficaz diligencia que ponía en sus funciones.
Con él, era imposible robar ni un pequeño haz de leña. Hiciera el tiempo que hiciera, siempre estaba al acecho, dispuesto a caer sobre el merodeador. Con frecuencia le habían tendido emboscadas. Pero él siempre se había alzado con la victoria.
-¡Ah! -dije después de recordar-, ¡Eres Birouk! He oído decir que eres implacable.
-Sencillamente cumplo con mi deber -repuso bruscamente-. Debo ganarme honradamente el pan que me da mi amo.
-Así, pues, ¿no tienes mujer?
-No -dijo tristemente-, mi pobre amiga ha muerto; pronto hará tres meses que nos dejó.
-¡Pobres niños! -murmuré.
Pero él ya había desechado sus dolorosos pensamientos y salió, dando un portazo.
Examiné la isba, que me pareció aún más triste. Un olor acre de humo se me metía en la garganta. La chiquilla, sin moverse del taburete, seguía balanceando la mísera cuna.
-¿Cómo te llamas?
-Aulita -respondió débilmente.
-La tormenta remite -dijo entrando el guardabosque-. Si el amo lo dispone, yo lo conduciré a la linde del bosque.
Me dispuse a partir.
Pero Birouk tomó su fusil y examinó la batería.
-¿Y para qué esa arma?
-Ahí, en el barranco de Kabouyl, apostaría a que están cortando leña.
-No podrías oírlo desde aquí.
-De aquí no, pero sí desde el patio.
Partimos. Ya no llovía. En el horizonte se prolongaba una espesa cortina de nubes, que era surcada por relámpagos. Sobre nosotros, el cielo tenía un sombrío color azul, y las coquetas estrellas procuraban atravesar con su brillo las húmedas nubes.
Respiré con placer el olor penetrante del bosque mojado, y escuché el ruido ligero de las gotas que caían de las hojas.
Birouk me sacó del ensueño.
-Allí es -dijo, señalando hacia el oeste.
Yo nada oía, sino el dulce susurro de la brisa al pasar y de las hojas al caer.
-Ya les daré- dijo mientras me traía el coche.
-Dejemos aquí mi drochka. Permíteme que vaya contigo al barranco.
-Bien, mi amo. A la vuelta te acompañaré.
Fuimos.
El guardabosque iba delante, yo lo seguía dificultosamente a través de los matorrales y de la crecida maleza. De trecho en trecho se detenía para decirme: «¿Oyes los hachazos?» Pero a mis oídos no llegaba ruido alguno.
Minutos más tarde ya estábamos en el barranco; amainó el viento, y alcancé a oír nítidamente los hachazos.
Seguimos nuestro camino atravesando por entre la maleza; el musgo, rebosante de agua, cedía bajo nuestros pies como una esponja cuando la aprietan.
Me llegó al oído el rumor de algo que se quiebra, sorda y prolongadamente.
-Se acabó -rezongó Birouk-, lo cortaron.
Ya menos oscuro el cielo, nos hallábamos en la extremidad del barranco.
-Quédate aquí -me dijo el guardabosque. Con paso furioso se agachó, manteniendo en alto el fusil, y se arrastró entre los matorrales.
Yo escuchaba con atención. Se oían unos golpecitos rápidos, el hacha que desbroza de ramas el árbol caído. Después, el ruido rechinante de las ruedas de un carro. Asomó el caballo.
-¡Alto ahí! ¡Eh! ¡Para! -vociferó Birouk. A estas palabras siguió una queja lastimera.
-¡No te escaparás, viejo! -gritó el guarda-. ¡Espera!
Me precipité hacia el lugar de donde salían los gritos, y después de tropezar varias veces llegué junto al árbol derribado.
Birouk tenía tendido en tierra y fuertemente sujeto al paisano. Al verme lo dejó incorporarse. Era un pobre hombre, de sucia cara y barba revuelta. A pocos pasos se hallaba el carro y un viejo jamelgo.
El guardabosque, con la manaza siempre agarrada al cuello del ladrón, tomó al animal por la brida.
-Adelante, Corneja -dijo vivamente.
-El hacha, recójala -le pidió el paisano.
-Cierto -murmuró Birouk-, puede servir. Y levantó el hacha.
Volvíamos, yo tras ellos. Durante el camino comenzó de nuevo la lluvia y aguantamos un chaparrón. Después de una penosa marcha llegamos a la choza.
Birouk dejó el caballo en medio del patio, sujetó los perros y nos hizo entrar en la isba.
Cuando el guardabosque le hubo desatado las muñecas, el prisionero se sentó en el banco.
-¡Qué aguacero! -dijo Birouk-. Ahora no puedes partir. Descansa, por favor, yo enjaularé a este pájaro al otro lado.
-Gracias, pero no le causes daño.
El paisano me miró con agradecimiento. Me prometí gastar toda mi influencia en conseguir apaciguar la severidad del guardabosque.
En un rincón estaba quieto el infeliz, pálida y ensombrecida la cara, la desolación en los ojos.
Los niños estaban dormidos. Sentándose a la mesa, Birouk tomó su cabeza entre las manos. En medio de un absoluto silencio, un grillo comenzó a cantar.
-¡Foma Birouk! -exclamó el paisano-. ¡Foma, Foma!
-¿Qué hay?
-Deja que me vaya.
El guardabosque permaneció callado.
-Te lo suplico..., el hambre... ya ves... déjame libre.
-Te conozco -dijo el guarda con sequedad-, tu vida es robar, después robar, robar siempre.
-Deja que me vaya -prosiguió el palurdo-, sabes..., ¡ah!, el intendente tiene la culpa, ¡él nos arruinó a todos!
-Esa no es razón para robar.
Suspiró el paisano; movimientos febriles lo sacudían y agitaban su respiración.
-¡Piedad! -clamó con desesperación-. ¡Mis hijitos se mueren de hambre, suéltame!
-No robes.
-Pobre caballo mío, no tengo otra cosa.
-Basta, cállate y permanece quieto, porque aquí hay un señor.
Birouk se acomodó tranquilamente de codos en la mesa. Seguía lloviendo. Yo esperaba ansioso el fin de semejante escena.
De repente, el paisano se incorporó, con un esfuerzo supremo, y gritó:
-¡Ah, tigre sediento de sangre! ¿Crees que no vas a morir, lobo rabioso?
-¿Estás borracho? -dijo el guardabosque.
-Sí, estoy borracho, ¿he bebido por cuenta tuya, devorador de hombres? ¡Sí, quédate mi caballo, tú te irás también! ¡Tigre!... Está bien, ¡pega!
El guardabosque se había puesto en pie.
-¡Pega de una vez! -gritó furioso el paisano.
La pequeña Aulita se había levantado y estaba delante del desgraciado.
-Ahora, silencio -dijo el guarda. Y caminando tomó al ladrón por los hombros como si lo fuese a sacudir con violencia.
Corrí en defensa del infeliz.
-¡No te muevas, señor! -me gritó Birouk.
Pero nada me intimidó y ya tenía cerrados los puños, cuando con gran sorpresa mía, Birouk desató la cuerda que ataba los brazos del ladrón; luego, agarrándolo por el cuello, abrió la puerta y lo lanzó fuera.
-¡Vete al diablo con tu caballo!
Silencioso, el guarda entró de nuevo en la isba.
-Bien -dije a Birouk-, me has asombrado; eres un buen hombre.
-Dejemos eso, amo -rezongó-, y no lo cuentes a nadie. Puesto que ya no llueve, ahora puedo acompañarte.
-¡Ah, cómo corre! -dije escuchando el ruido de un carro que pasaba.
Una hora después me despedía de Birouk en la linde del bosque.
FIN
Fonte : Noticuento
Estaciones de la vida
En algunas estaciones de la vida, vas a ser intimado
a dejar lo que vino contigo desde el pasado
¿quien sabe?..., seguir solo por el camino
o con algo u otra vez de alguien acompañado
Y tú sigues tu viaje, hacia un nuevo destino
por nuevas estaciones por nuevos caminos
lejos de todo aquello que habías planeado
fuera de los sueños que habías soñado
En nuevos sueños embarcado
en las alas de nuevas ilusiones volado
en las seducciones mágicas de brillantes fantasías
de la mano con nuevas esperanzas
Y allá vas tú en meio de los cambios
ellos que hacen parte de todas las andanzas
que se diseminan hasta en las esperanzas
que pueblan nuestros recuerdos
Que por todos los caminos siempre pasa
dejando muchos pasados hacia atrás
engañando mucho de nuestro futuro
con sueños que no acontecerán jamás
Y todo lo del pasado que por las estaciones se quedaron
los dolores en los desenlaces en quién fué o quién se quedó
cicatrices en muchos corazones, marcas em tantas recordaciones
que la inexorabilidad del acaso provocó
Tanta carga cargada, por el camino dejada
tanta cosa de muchoo o de poco valor,
a su propio destino abandonada
tanta vida contenida o cultivada que de tí se distanció
Y la vida como una locomotiva y su gran composición
sus marchas engrenó, y en ella te llevó
si miras hacia atrás, solamente recuerdos, nada más
Si miras hacia delante, son tantas las nubes que se disipan...
Joe'A
©Traducción al español por Meg*
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a dejar lo que vino contigo desde el pasado
¿quien sabe?..., seguir solo por el camino
o con algo u otra vez de alguien acompañado
Y tú sigues tu viaje, hacia un nuevo destino
por nuevas estaciones por nuevos caminos
lejos de todo aquello que habías planeado
fuera de los sueños que habías soñado
En nuevos sueños embarcado
en las alas de nuevas ilusiones volado
en las seducciones mágicas de brillantes fantasías
de la mano con nuevas esperanzas
Y allá vas tú en meio de los cambios
ellos que hacen parte de todas las andanzas
que se diseminan hasta en las esperanzas
que pueblan nuestros recuerdos
Que por todos los caminos siempre pasa
dejando muchos pasados hacia atrás
engañando mucho de nuestro futuro
con sueños que no acontecerán jamás
Y todo lo del pasado que por las estaciones se quedaron
los dolores en los desenlaces en quién fué o quién se quedó
cicatrices en muchos corazones, marcas em tantas recordaciones
que la inexorabilidad del acaso provocó
Tanta carga cargada, por el camino dejada
tanta cosa de muchoo o de poco valor,
a su propio destino abandonada
tanta vida contenida o cultivada que de tí se distanció
Y la vida como una locomotiva y su gran composición
sus marchas engrenó, y en ella te llevó
si miras hacia atrás, solamente recuerdos, nada más
Si miras hacia delante, son tantas las nubes que se disipan...
Joe'A
©Traducción al español por Meg*
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quinta-feira, 7 de abril de 2011
Nictofagia
Se eu pudesse beber-te, ó noite,
Até encontrar o teu gosto,
Ou mordendo a ponta do açoite
Da tua treva no meu rosto,
Achasse a planície de lume
De que és uma aresta de estrelas
E sonhando sem peso e volume
Fosse um sonho de chão a tecê-las
E na praia de um trilo sem flauta,
Instrumento das harpas do fundo
Duma água escorrida da pauta
Da manhã mais antiga do mundo,
Me estendesses, ó noite florida
Das sementes que trazes no punho,
Uma adolescência impelida
Pelo arco das brisas de junho !
Natália Correia
Até encontrar o teu gosto,
Ou mordendo a ponta do açoite
Da tua treva no meu rosto,
Achasse a planície de lume
De que és uma aresta de estrelas
E sonhando sem peso e volume
Fosse um sonho de chão a tecê-las
E na praia de um trilo sem flauta,
Instrumento das harpas do fundo
Duma água escorrida da pauta
Da manhã mais antiga do mundo,
Me estendesses, ó noite florida
Das sementes que trazes no punho,
Uma adolescência impelida
Pelo arco das brisas de junho !
Natália Correia
domingo, 3 de abril de 2011
sábado, 2 de abril de 2011
Belos olhos que fingem não me ver
Mornos suspiros, lágrimas jorradas
Tantas noite em vão desperdiçadas
Tantos dias que em vão vi renascer;
Queixas febris, vontades obstinadas
Tempo perdido, penas sem dizer,
Mil mortes me aguardando em mil ciladas
Que o destino me armou por me perder.
Risos, fronte, cabelos, mãos e dedos
Viola, alaúde, voz que diz segredos
À fêmea em cujo peito a chama nasce!
E quanto mais me queima, mas lamento
Que desse fogo que arde tão violento
Nem uma só fagulha te alcançasse.
Louise Labé / traducão de Sergio Duarte
Três mulheres apaixonadas,Companhia das Letras, 1999 -SP, Brasil
Mornos suspiros, lágrimas jorradas
Tantas noite em vão desperdiçadas
Tantos dias que em vão vi renascer;
Queixas febris, vontades obstinadas
Tempo perdido, penas sem dizer,
Mil mortes me aguardando em mil ciladas
Que o destino me armou por me perder.
Risos, fronte, cabelos, mãos e dedos
Viola, alaúde, voz que diz segredos
À fêmea em cujo peito a chama nasce!
E quanto mais me queima, mas lamento
Que desse fogo que arde tão violento
Nem uma só fagulha te alcançasse.
Louise Labé / traducão de Sergio Duarte
Três mulheres apaixonadas,Companhia das Letras, 1999 -SP, Brasil
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