Na iminência da queda de Michel Temer, precisamos ter em
mente que esse golpe dentro do golpe é apenas uma estratégia para acelerar as
reformas conservadoras. Esta última fase, que pretende descarregar o golpe de
misericórdia em um sistema agonizante, partiu das delações do empresário da
JBS, Joesley Batista, que, em seguida, publicou um pedido de desculpas no qual,
se analisado atentamente, é possível identificar o projeto de poder que
impulsionou toda essa crise política na qual o Brasil se encontra.
A “carta aberta” foi uma tentativa explícita do empresário
de não cair no que a filósofa judia Hannah Arendt chamou de “banalidade do
mal”. Além de usar elementos retóricos fundamentais no que tange a virtude do
orador, afirma-se que foi necessário burlar os seus valores para atingir um bem
maior: “Nosso espírito empreendedor e a imensa vontade de realizar, quando
deparados com um sistema brasileiro que muitas vezes cria dificuldades para
vender facilidades, nos levaram a optar por pagamentos indevidos a agentes
públicos”.
Mas será que Joesley teve que realmente se corromper? E para
quê, já que é tão bem sucedido mundialmente? Ele foi forçado a violar seus
princípios éticos para obter mais lucros e ficar ainda mais rico?
Por Raphael Silva Fagundes, doutorando do Programa de
Pós-Graduação em História Política da UERJ e professor da rede municipal do Rio
de Janeiro e de Itaguaí.
Fonte : Le Monde Diplomatique Brasil
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