domingo, 31 de julho de 2016
O único plano pérfido dos atuais golpistas e picaretas no
Congresso de Cunha-Temer é a tentativa de destruição e saque dos legados de
Getúlio Vargas (CLT, legislação trabalhista), JK (desenvolvimentismo), João
Goulart (agenda social e sindicalização rural), Geisel (infraestrutura
petrolífera nacional ), Ulisses Guimarães (Constituição Cidadã) e Lula-Dilma
(Estado de Bem-Estar Social). Desde já todas as medidas políticas e jurídicas
neste governo ilegítimo de golpistas, com justiça de exceção, devem ser vistas
com suspeição, ilegalidade e estas medidas dos golpistas devem ser revertidas
no retorno ao regime legal da democracia, cuja legitimidade e respeitabilidade
são fundamentadas nos resultados das eleições pelo voto popular.
RCO
Cobardía
Amado Nervo
Pasó con su madre. ¡Qué rara belleza!
¡Qué rubios cabellos de trigo garzul!
¡Qué ritmo en el paso! ¡Qué innata realeza
de porte! ¡Qué formas bajo el fino tul…!
Pasó con su madre. Volvió la cabeza:
¡me clavó muy hondo su mirar azul!
Quedé como en éxtasis…
Con febril premura,
«¡Síguela!», gritaron cuerpo y alma al par.
…Pero tuve miedo de amar con locura,
de abrir mis heridas, que suelen sangrar,
¡y no obstante toda mi sed de ternura,
cerrando los ojos, la dejé pasar!
MÁS POEMAS DE AMADO NERVO
Biblioteca Digital Ciudad Seva
sábado, 30 de julho de 2016
Vivemos fenômenos globais de superficialidade xenófoba
demencial. O tal Trump elabora todo um discurso contra imigrantes e o sujeito é
neto de um imigrante alemão, filho de uma escocesa e casado com uma imigrante
eslovena. Da mesma maneira no Sul do Brasil alguns bisnetos de imigrantes
elaboram um discurso minoritário, separatista e racista. Só não é imigrante
quem tem genealogia na sociedade desde a sua formação colonial, os seus
antepassados já estavam no país na época da independência, a sua língua étnica
é a língua nacional e oficial do país. Fundadores e povoadores nunca precisaram
de passaportes porque eles criaram o país a partir deles mesmos em primeiro
lugar, ainda que com pesadas violências contra nativos e cativos. Não há mais
lugar para racismos, preconceitos e xenofobia na contemporaneidade.
Ricardo Costa de Oliveira
Reflexo
Olha: vem sobre os olhos
Tua imagem contemplar,
Como as madonas do céu
Vão refletir-se no mar
Pelas noites de verão
Ao transparente luar!
Olha e crê que a mesma imagem
Com mais ardente expressão
Como as madonas no mar
Pelas noites de verão,
Vão refletir-se bem fundo,
Bem fundo — no coração!
.
- Machado de Assis, em “Marmota, 23 mar. 1858”. In: ASSIS,
Machado. “Toda poesia de Machado de Assis”.[Organização Cláudio Murilo Leal].
Rio de Janeiro: Editora Record, 2008.
sexta-feira, 29 de julho de 2016
MARX E O COMUNISMO
"O comunismo para Karl Marx não se trata nem do paraíso
em terra nem da construção de um novo ser humano, mas sim da superação das
exigências capitalistas feitas ao ser humano, de um final das catástrofes
sociais produzidas pelo capitalismo. Nem mais nem menos. O fato de isto só ser
viável, se for superada toda a história acontecida até o presente como uma
história de fetiches, não reside na arrogância da crítica, mas sim na
arrogância do próprio capitalismo. Mesmo após o capitalismo, continuará havendo
doença e morte, dor-de-cotovelo e gente calhorda. Só que não haverá mais nenhuma
pobreza paradoxal em massa, produzida através de produção abstrata de riqueza;
não haverá mais um sistema autonomizado de relações fetichistas nem formas
sociais dogmáticas. O objetivo é grande, exatamente porque, medido pela
exaltação utopística, mostra-se relativamente modesto, e não promete nada mais
que libertar de sofrimentos totalmente desnecessários."
ROBERT KURZ
A SERENÍSSIMA REPÚBLICA
(CONFERÊNCIA DO CÔNEGO VARGAS)
Meus senhores,
Antes de comunicar-vos uma descoberta, que reputo de algum
lustre para o nosso país, deixai que vos agradeça a prontidão com que acudistes
ao meu chamado. Sei que um interesse superior vos trouxe aqui; mas não ignoro
também, — e fora ingratidão ignorá-lo, — que um pouco de simpatia pessoal se
mistura à vossa legítima curiosidade científica. Oxalá possa eu corresponder a
ambas.
Minha descoberta não é recente; data do fim do ano de 1876.
Não a divulguei então, — e, a não ser o Globo, interessante diário desta
capital, não a divulgaria ainda agora, — por uma razão que achará fácil entrada
no vosso espírito. Esta obra de que venho falar-vos, carece de retoques
últimos, de verificações e experiências complementares. Mas o Globo noticiou que
um sábio inglês descobriu a linguagem fônica dos insetos, e cita o estudo feito
com as moscas. Escrevi logo para a Europa e aguardo as respostas com ansiedade.
Sendo certo, porém, que pela navegação aérea, invento do padre Bartolomeu, é
glorificado o nome estrangeiro, enquanto o do nosso patrício mal se pode dizer
lembrado dos seus naturais, determinei evitar a sorte do insigne Voador, vindo
a esta tribuna, proclamar alto e bom som, à face do universo, que muito antes
daquele sábio, e fora das ilhas britânicas, um modesto naturalista descobriu
coisa idêntica, e fez com ela obra superior.
Senhores, vou assombrar-vos, como teria assombrado a
Aristóteles, se lhe perguntasse: Credes que se possa dar regímen social às
aranhas? Aristóteles responderia negativamente, como vós todos, porque é
impossível crer que jamais se chegasse a organizar socialmente esse articulado
arisco, solitário, apenas disposto ao trabalho, e dificilmente ao amor. Pois
bem, esse impossível fi-lo eu.
Ouço um riso, no meio do sussurro de curiosidade. Senhores,
cumpre vencer os preconceitos. A aranha parece-vos inferior, justamente porque
não a conheceis. Amais o cão, prezais o gato e a galinha, e não advertis que a
aranha não pula nem ladra como o cão, não mia como o gato, não cacareja como a
galinha, não zune nem morde como o mosquito, não nos leva o sangue e o sono
como a pulga. Todos esses bichos são o modelo acabado da vadiação e do
parasitismo. A mesma formiga, tão gabada por certas qualidades boas, dá no
nosso açúcar e nas nossas plantações, e funda a sua propriedade roubando a
alheia. A aranha, senhores, não nos aflige nem defrauda; apanha as moscas,
nossas inimigas, fia, tece, trabalha e morre. Que melhor exemplo de paciência,
de ordem, de previsão, de respeito e de humanidade? Quanto aos seus talentos,
não há duas opiniões. Desde Plínio até Darwin, os naturalistas do mundo inteiro
formam um só coro de admiração em torno desse bichinho, cuja maravilhosa teia a
vassoura inconsciente do vosso criado destrói em menos de um minuto. Eu repetiria
agora esses juízos, se me sobrasse tempo; a matéria, porém, excede o prazo, sou
constrangido a abreviá-la. Tenho-os aqui, não todos, mas quase todos; tenho,
entre eles, esta excelente monografia de Büchner, que com tanta sutileza
estudou a vida psíquica dos animais. Citando Darwin e Büchner, é claro que me
restrinjo à homenagem cabida a dois sábios de primeira ordem, sem de nenhum
modo absolver (e as minhas vestes o proclamam) as teorias gratuitas e errôneas
do materialismo.
Sim, senhores, descobri uma espécie araneida que dispõe do
uso da fala; coligi alguns, depois muitos dos novos articulados, e organizei-os
socialmente. O primeiro exemplar dessa aranha maravilhosa apareceu-me no dia 15
de dezembro de 1876. Era tão vasta, tão colorida, dorso rubro, com listras
azuis, transversais, tão rápida nos movimentos, e às vezes tão alegre, que de
todo me cativou a atenção. No dia seguinte vieram mais três, e as quatro
tomaram posse de um recanto de minha chácara. Estudei-as longamente; achei-as
admiráveis. Nada, porém, se pode comparar ao pasmo que me causou a descoberta
do idioma araneida, uma língua, senhores, nada menos que uma língua rica e
variada, com a sua estrutura sintática, os seus verbos, conjugações,
declinações, casos latinos e formas onomatopaicas, uma língua que estou
gramaticando para uso das academias, como o fiz sumariamente para meu próprio
uso. E fi-lo, notai bem, vencendo dificuldades aspérrimas com uma paciência
extraordinária. Vinte vezes desanimei; mas o amor da ciência dava-me forças para
arremeter a um trabalho, que hoje declaro, não chegaria a ser feito duas vezes
na vida do mesmo homem.
Guardo para outro recinto a descrição técnica do meu
aracnídeo, e a análise da língua. O objeto desta conferência é, como disse,
ressalvar os direitos da ciência brasileira, por meio de um protesto em tempo;
e, isto feito, dizer-vos a parte em que reputo a minha obra superior à do sábio
de Inglaterra. Devo demonstrá-lo, e para este ponto chamo a vossa atenção.
Dentro de um mês tinha comigo vinte aranhas; no mês seguinte
cinqüenta e cinco; em março de 1877 contava quatrocentas e noventa. Duas forças
serviram principalmente à empresa de as congregar: — o emprego da língua delas,
desde que pude discerni-la um pouco, e o sentimento de terror que lhes infundi.
A minha estatura, as vestes talares, o uso do mesmo idioma, fizeram-lhes crer
que era eu o deus das aranhas, e desde então adoraram-me. E vede o benefício
desta ilusão. Como as acompanhasse com muita atenção e miudeza, lançando em um
livro as observações que fazia, cuidaram que o livro era o registro dos seus
pecados, e fortaleceram-me ainda mais na prática das virtudes. A flauta também
foi um grande auxiliar. Como sabeis, ou deveis saber, elas são doidas por
música.
Não bastava associá-las; era preciso dar-lhes um governo
idôneo. Hesitei na escolha; muitos dos atuais pareciam-me bons, alguns
excelentes, mas todos tinham contra si o existirem. Explico-me. Uma forma
vigente de governo ficava exposta a comparações que poderiam amesquinhá-la.
Era-me preciso, ou achar uma forma nova, ou restaurar alguma outra abandonada.
Naturalmente adotei o segundo alvitre, e nada me pareceu mais acertado do que
uma república, à maneira de Veneza, o mesmo molde, e até o mesmo epíteto.
Obsoleto, sem nenhuma analogia, em suas feições gerais, com qualquer outro
governo vivo, cabia-lhe ainda a vantagem de um mecanismo complicado, — o que
era meter à prova as aptidões políticas da jovem sociedade.
Outro motivo determinou a minha escolha. Entre os diferentes
modos eleitorais da antiga Veneza, figurava o do saco e bolas, iniciação dos
filhos da nobreza no serviço do Estado. Metiam-se as bolas com os nomes dos
candidatos no saco, e extraía-se anualmente um certo número, ficando os eleitos
desde logo aptos para as carreiras públicas. Este sistema fará rir aos doutores
do sufrágio; a mim não. Ele exclui os desvarios da paixão, os desazos da
inépcia, o congresso da corrupção e da cobiça. Mas não foi só por isso que o
aceitei; tratando-se de um povo tão exímio na fiação de suas teias, o uso do
saco eleitoral era de fácil adaptação, quase uma planta indígena.
A proposta foi aceita. Sereníssima República pareceu-lhes um
título magnífico, roçagante, expansivo, próprio a engrandecer a obra popular.
Não direi, senhores, que a obra chegou à perfeição, nem que
lá chegue tão cedo. Os meus pupilos não são os solários de Campanela ou os
utopistas de Morus; formam um povo recente, que não pode trepar de um salto ao
cume das nações seculares. Nem o tempo é operário que ceda a outro a lima ou o
alvião; ele fará mais e melhor do que as teorias do papel, válidas no papel e
mancas na prática. O que posso afirmar-vos é que, não obstante as incertezas da
idade, eles caminham, dispondo de algumas virtudes, que presumo, essenciais à
duração de um Estado. Uma delas, como já disse, é a perseverança, uma longa
paciência de Penélope, segundo vou mostrar-vos.
Com efeito, desde que compreenderam que no ato eleitoral
estava a base da vida pública, trataram de o exercer com a maior atenção. O
fabrico do saco foi uma obra nacional. Era um saco de cinco polegadas de altura
e três de largura, tecido com os melhores fios, obra sólida e espessa. Para
compô-lo foram aclamadas dez damas principais, que receberam o título de mães
da república, além de outros privilégios e foros. Uma obra-prima, podeis
crê-lo. O processo eleitoral é simples. As bolas recebem os nomes dos candidatos,
que provarem certas condições, e são escritas por um oficial público,
denominado “das inscrições”. No dia da eleição, as bolas são metidas no saco e
tiradas pelo oficial das extrações, até perfazer o número dos elegendos. Isto
que era um simples processo inicial na antiga Veneza, serve aqui ao provimento
de todos os cargos.
A eleição fez-se a princípio com muita regularidade; mas,
logo depois, um dos legisladores declarou que ela fora viciada, por terem
entrado no saco duas bolas com o nome do mesmo candidato. A assembléia
verificou a exatidão da denúncia, e decretou que o saco, até ali de três
polegadas de largura, tivesse agora duas; limitando-se a capacidade do saco,
restringia-se o espaço à fraude, era o mesmo que suprimi-la. Aconteceu, porém,
que na eleição seguinte, um candidato deixou de ser inscrito na competente
bola, não se sabe se por descuido ou intenção do oficial público. Este declarou
que não se lembrava de ter visto o ilustre candidato, mas acrescentou
nobremente que não era impossível que ele lhe tivesse dado o nome; neste caso
não houve exclusão, mas distração. A assembléia, diante de um fenômeno
psicológico inelutável, como é a distração, não pôde castigar o oficial; mas,
considerando que a estreiteza do saco podia dar lugar a exclusões odiosas,
revogou a lei anterior e restaurou as três polegadas.
Nesse ínterim, senhores, faleceu o primeiro magistrado, e
três cidadãos apresentaram-se candidatos ao posto, mas só dois importantes,
Hazeroth e Magog, os próprios chefes do partido retilíneo e do partido
curvilíneo. Devo explicar-vos estas denominações. Como eles são principalmente
geômetras, é a geometria que os divide em política. Uns entendem que a aranha
deve fazer as teias com fios retos, é o partido retilíneo; — outros pensam, ao
contrário, que as teias devem ser trabalhadas com fios curvos, — é o partido
curvilíneo. Há ainda um terceiro partido, misto e central, com este postulado:
as teias devem ser urdidas de fios retos e fios curvos; é o partido
reto-curvilíneo; e finalmente, uma quarta divisão política, o partido
anti-reto-curvilíneo, que fez tábua rasa de todos os princípios litigantes, e
propõe o uso de umas teias urdidas de ar, obra transparente e leve, em que não
há linhas de espécie alguma. Como a geometria apenas poderia dividi-los, sem
chegar a apaixoná-los, adotaram uma simbólica. Para uns, a linha reta exprime
os bons sentimentos, a justiça, a probidade, a inteireza, a constância, etc.,
ao passo que os sentimentos ruins ou inferiores, como a bajulação, a fraude, a
deslealdade, a perfídia, são perfeitamente curvos. Os adversários respondem que
não, que a linha curva é a da virtude e do saber, porque é a expressão da
modéstia e da humildade; ao contrário, a ignorância, a presunção, a toleima, a
parlapatice, são retas, duramente retas. O terceiro partido, menos anguloso,
menos exclusivista, desbastou a exageração de uns e outros, combinou os
contrastes, e proclamou a simultaneidade das linhas como a exata cópia do mundo
físico e moral. O quarto limita-se a negar tudo.
Nem Hazeroth nem Magog foram eleitos. As suas bolas saíram
do saco, é verdade, mas foram inutilizadas, a do primeiro por faltar a primeira
letra do nome, a do segundo por lhe faltar a última. O nome restante e
triunfante era o de um argentário ambicioso, político obscuro, que subiu logo à
poltrona ducal, com espanto geral da república. Mas os vencidos não se
contentaram de dormir sobre os louros do vencedor; requereram uma devassa. A
devassa mostrou que o oficial das inscrições intencionalmente viciara a
ortografia de seus nomes. O oficial confessou o defeito e a intenção; mas
explicou-os dizendo que se tratava de uma simples elipse; delito, se o era,
puramente literário. Não sendo possível perseguir ninguém por defeitos de
ortografia ou figuras de retórica, pareceu acertado rever a lei. Nesse mesmo
dia ficou decretado que o saco seria feito de um tecido de malhas, através das
quais as bolas pudessem ser lidas pelo público, e, ipso facto, pelos mesmos
candidatos, que assim teriam tempo de corrigir as inscrições.
Infelizmente, senhores, o comentário da lei é a eterna
malícia. A mesma porta aberta à lealdade serviu à astúcia de um certo Nabiga,
que se conchavou com o oficial das extrações, para haver um lugar na
assembléia. A vaga era uma, os candidatos três; o oficial extraiu as bolas com
os olhos no cúmplice, que só deixou de abanar negativamente a cabeça, quando a
bola pegada foi a sua. Não era preciso mais para condenar a idéia das malhas. A
assembléia, com exemplar paciência, restaurou o tecido espesso do regímen anterior;
mas, para evitar outras elipses, decretou a validação das bolas cuja inscrição
estivesse incorreta, uma vez que cinco pessoas jurassem ser o nome inscrito o
próprio nome do candidato.
Este novo estatuto deu lugar a um caso novo e imprevisto,
como ides ver. Tratou-se de eleger um coletor de espórtulas, funcionário
encarregado de cobrar as rendas públicas, sob a forma de espórtulas
voluntárias. Eram candidatos, entre outros, um certo Caneca e um certo
Nebraska. A bola extraída foi a de Nebraska. Estava errada, é certo, por lhe
faltar a última letra; mas, cinco testemunhas juraram, nos termos da lei, que o
eleito era o próprio e único Nebraska da república. Tudo parecia findo, quando
o candidato Caneca requereu provar que a bola extraída não trazia o nome de
Nebraska, mas o dele. O juiz de paz deferiu ao peticionário. Veio então um
grande filólogo, — talvez o primeiro da república, além de bom metafísico, e
não vulgar matemático, — o qual provou a coisa nestes termos:
— Em primeiro lugar, disse ele, deveis notar que não é
fortuita a ausência da última letra do nome Nebraska. Por que motivo foi ele
inscrito incompletamente? Não se pode dizer que por fadiga ou amor da
brevidade, pois só falta a última letra, um simples a. Carência de espaço?
Também não; vede; há ainda espaço para duas ou três sílabas. Logo, a falta é
intencional, e a intenção não pode ser outra senão chamar a atenção do leitor
para a letra k, última escrita, desamparada, solteira, sem sentido. Ora, por um
efeito mental, que nenhuma lei destruiu, a letra reproduz-se no cérebro de dois
modos, a forma gráfica e a forma sônica; k e ca. O defeito, pois, no nome
escrito, chamando os olhos para a letra final, incrusta desde logo no cérebro
esta primeira sílaba: Ca. Isto posto, o movimento natural do espírito é ler o
nome todo; volta-se ao princípio, à inicial ne, do nome Nebrask. — Cane. —
Resta a sílaba do meio, bras, cuja redução a esta outra sílaba ca, última do
nome Caneca, é a coisa mais demonstrável do mundo. E, todavia, não a
demonstrarei, visto faltar-vos o preparo necessário ao entendimento da
significação espiritual ou filosófica da sílaba, suas origens e efeitos, fases,
modificações, conseqüências lógicas e sintáxicas, dedutivas ou indutivas,
simbólicas e outras. Mas, suposta a demonstração, aí fica a última prova,
evidente, clara, da minha afirmação primeira pela anexação da sílaba ca às duas
Cane, dando este nome Caneca.
A lei emendou-se, senhores, ficando abolida a faculdade da
prova testemunhal e interpretativa dos textos, e introduzindo-se uma inovação,
o corte simultâneo de meia polegada na altura e outra meia na largura do saco.
Esta emenda não evitou um pequeno abuso na eleição dos alcaides, e o saco foi
restituído às dimensões primitivas, dando-se-lhe, todavia, a forma triangular.
Compreendeis que esta forma trazia consigo uma conseqüência: ficavam muitas
bolas no fundo. Daí a mudança para a forma cilíndrica; mais tarde deu-se-lhe o
aspecto de uma ampulheta, cujo inconveniente se reconheceu ser igual ao
triângulo, e então adotou-se a forma de um crescente, etc. Muitos abusos,
descuidos e lacunas tendem a desaparecer, e o restante terá igual destino, não
inteiramente, decerto, pois a perfeição não é deste mundo, mas na medida e nos
termos do conselho de um dos mais circunspetos cidadãos da minha república,
Erasmus, cujo último discurso sinto não poder dar-vos integralmente.
Encarregado de notificar a última resolução legislativa às dez damas,
incumbidas de urdir o saco eleitoral, Erasmus contou-lhes a fábula de Penélope,
que fazia e desfazia a famosa teia, à espera do esposo Ulisses.
— Vós sois a Penélope da nossa república, disse ele ao
terminar; tendes a mesma castidade, paciência e talentos. Refazei o saco,
amigas minhas, refazei o saco, até que Ulisses, cansado de dar às pernas, venha
tomar entre nós o lugar que lhe cabe. Ulisses é a Sapiência.
- Machado de Assis, em "Papéis avulsos". Rio de
Janeiro: Lombaerts & Cia, 1882 | Obra Completa, de Machado de Assis, vol.
II, Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
Fonte : http://poemario-prosaeverso.blogspot.com.br/2016/06/a-serenissima-republica-machado-de-assis.html
quarta-feira, 27 de julho de 2016
CÍRIOS
Os dias do futuro se erguem à nossa frente
como círios acesos, em fileira -
círios dourados, cálidos e vivos.
Os dias idos ficaram para trás,
triste fila de círios apagados;
os mais próximos ainda fumaceiam,
círios pensos e frios e derretidos.
Não quero vê-los, que me aflige o seu aspecto.
Aflige-me lembrar a luz de outrora.
Contemplo, adiante, meus círios acesos.
Não quero olhar pra trás e, trêmulo, notar
como se alonga depressa a fileira sombria,
como crescem depressa os círios apagados.
Konstantinos Kaváfis
(tradução de José Paulo Paes)
“Cedo me dei conta deste estranho mimetismo: os homens se
assemelhando, em tudo, aos caranguejos, arrastando-se, agachando-se como
caranguejos para poderem sobreviver. Parados com os caranguejos na beira d’água
ou caminhando para trás como caminham os caranguejos”
.
- Josué de Castro, in 'Homens e Caranguejos'.
Una mano sobre las aguas
William Faulkner
I
Los dos hombres siguieron el sendero que corría entre el río
y la espesa cortina de cipreses, cañaverales, gomeros y zarzas. Uno de ellos
llevaba una bolsa de arpillera que había sido aparentemente lavada y planchada.
El otro era un joven de menos de veinte años, a juzgar por su rostro. El río
estaba bajo, con el nivel propio de mediados de julio.
-Tendría que haber estado pescando, con este nivel de agua
-observó el joven.
-Siempre que quisiera pescar en este momento -repuso el
mayor-. Él y Joe tienden la línea solo cuando Lonnie tiene ganas, no cuando los
peces pican.
-De todos modos estarán junto a la línea -dijo el joven-. No
creo que a Lonnie le importe quién los retire.
A corta distancia el suelo se elevaba ligeramente, formando
una punta que se proyectaba, casi como una península. Sobre ella había una
choza cónica, de techo puntiagudo, hecha en parte con lonas enmohecidas y
tablones, en parte con latas de querosén aplanadas a martillazos. Sobre ella se
elevaba fantásticamente una herrumbrada chimenea de cocina; cerca de la choza
había una pequeña pila de leña y un hacha, y, apoyadas contra aquella, unas
cañas. Luego vieron sobre el suelo, frente a la puerta abierta, una docena más
o menos de trozos de cuerda recién cortados de su carretel, y una lata
herrumbrada llena de anzuelos grandes, algunos de los cuales habían sido ya
unidos a las cuerdas. Pero no había nadie.
-El bote no está -dijo el hombre que llevaba la bolsa-, de
modo que no ha ido a la tienda.
En ese instante descubrió que el joven había seguido
avanzando, y luego de aspirar profundamente estaba ya por gritar, cuando de
pronto salió corriendo un hombre de entre la maleza y se detuvo junto a él,
emitiendo un sonido insistente, semejante al llanto de un niño pequeño: era un
muchacho no muy alto, pero con tremendos brazos y hombros; un adulto, pero, al
mismo tiempo, con algo infantil en su aspecto, en la forma de moverse; estaba
descalzo, tenía el mameluco deshecho, y los ojos expresivos de los sordomudos.
-¡Hola, Joe! -dijo el hombre de la bolsa, levantando la voz
como se acostumbra hacerlo con quienes no nos entienden-. ¿Dónde está Lonnie?
-y levantando la bolsa, añadió-: ¿Hay pescado?
Pero el otro lo miró, simplemente, haciendo aquel ruido
rápido, como un lloriqueo. Luego se volvió y tomó el sendero por donde había
desaparecido el muchacho, quien en aquel instante gritó:
-¡Pero miren esa línea!
El mayor los siguió. El joven estaba inclinado
peligrosamente sobre el agua, junto a un árbol desde el cual pendía, en tirante
línea oblicua hacia el medio del río, una delgada cuerda de algodón. El
sordomudo se detuvo junto a él, siempre emitiendo sus sonidos quejumbrosos y
levantando uno y otro pie alternativamente; pero cuando el otro llegó hasta él,
dio media vuelta y salió corriendo en dirección a la choza. Dada la altura del
río, la cuerda debía haber estado totalmente fuera del agua, extendida de una
orilla a la otra, entre los dos árboles, con solo los anzuelos de las líneas
secundarias sumergidos. Estaba, en cambio, curvada hacia el centro, con una
profunda desviación río abajo, y hasta el hombre de mayor edad pudo advertir su
movimiento.
-¡Es tan grande como un hombre! -gritó el muchacho.
-Y allá está el bote -comentó el mayor. El joven lo vio a su
vez, del otro lado del río, enganchado en un tronco de sauce, contra una
saliente-. Cruza y tráelo, y veremos de qué tamaño es el pez.
El muchacho se quitó los zapatos, el mameluco y la camisa; y
luego de vadear un trecho, comenzó a nadar, manteniendo una dirección
transversal para que la corriente lo llevara hasta el bote; luego se metió en
él y lo trajo remando, de pie en la embarcación, mientras miraba atentamente la
curva descendente de la línea, cerca de cuyo centro el agua se arremolinaba
rítmicamente contra el movimiento del objeto sumergido. Trajo el bote a la
altura donde estaba su compañero, quien en aquel instante advirtió que el
sordomudo estaba nuevamente a su lado, siempre emitiendo sus extraños sonidos
guturales, y ahora tratando de subir al bote.
-¡Vete! -le dijo, empujándolo con el brazo-. ¡Vete, Joe!
-Apúrate -dijo el muchacho, escudriñando la línea sumergida,
donde, mientras miraba, algo subió lentamente a la superficie y luego se hundió
una vez más- ¡Allí hay algo, como que hay cerdos en Georgia! ¡Y es grande como
un hombre!
Su compañero subió al bote. Sirviéndose de la línea, lo
desplazó a lo largo de ella, tomándola alternativamente con ambas manos.
De pronto, en la orilla, a sus espaldas, el sordomudo dejó
oír un fuerte alarido gutural.
II
-¿Indagación? -preguntó Stevens.
-Lonnie Grinnup -el médico forense era un viejo médico
rural-. Dos individuos lo encontraron ahogado esta mañana, enredado en su
propia línea de pesca.
-¡No! -dijo Stevens-. ¡Pobre tonto! Lo acompañaré, doctor.
Como fiscal del distrito no tenía nada que hacer allí, aun
cuando no se hubiera tratado de un accidente. Él lo sabía, pero deseaba
contemplar el rostro del muerto por una razón sentimental. Lo que era ahora el
distrito de Yoknapatawpha había sido fundado, no por un colonizador, sino por
tres simultáneamente. Llegaron juntos a caballo, a través del Paso de
Cumberland, desde las Carolinas, cuando Jefferson era todavía un puesto de la
Agencia Chickasaw; compraron tierras a los indios, establecieron familias,
prosperaron y desaparecieron; de modo que ahora, cien años más tarde, quedaba
en todo el distrito que contribuyeran a fundar un solo representante de los
tres apellidos.
Este era Stevens, porque el último descendiente de la
familia Holston había muerto a fines del siglo pasado, y Louis Grenier -y era
para contemplar su rostro sin vida que Stevens se disponía a recorrer ocho
millas en automóvil en medio del calor de una tarde de julio- nunca supo que
era Louis Grenier. Ni siquiera sabía escribir el Lonnie Grinnup con que se
llamaba a sí mismo. Huérfano también, como Stevens, era un hombre de unos
treinta y cinco años de edad, de estatura inferior a la común, a quien todo el
distrito conocía: tenía un rostro que, al contemplarlo por segunda vez,
revelaba ser casi delicado, pacífico, sereno, siempre alegre, con la eterna
pelusa de una suave barba dorada que nunca conociera una navaja, y ojos
límpidos y tranquilos. "Tocado", decían, pero sea lo que fuere,
tocado muy suavemente, sin quitarle mucho de lo que fuera lamentable perder.
Año tras año Lonnie vivía en la cueva que él mismo había construido con lonas
de una carpa vieja, tablas desiguales y latas de querosén aplanadas; lo
acompañaba el huérfano sordomudo que había recogido diez años atrás, y que no
había crecido mentalmente ni siquiera como él.
En realidad su choza y su línea de pesca estaban en el
centro mismo de los mil acres o más que poseyeran sus antepasados en otra
época. Pero Lonnie nunca lo supo.
Stevens creía que no le habría importado, y que nunca habría
aceptado que ningún hombre pudiera o debiera poseer tanto, de la tierra que es
de todos, de todos los hombres para su uso y placer; en su propio caso, en los
treinta o cuarenta pies cuadrados donde se levantaba su choza y en el trecho de
río sobre el cual se tendía su línea, todos eran bienvenidos en cualquier
momento, estuviese él presente o no, y podían usar sus aparejos y compartir la
comida que hubiera.
A veces solía asegurar su puerta contra los animales
vagabundos y aparecer sin aviso previo con su compañero sordomudo en casas o
cabañas a diez y quince millas de distancia; se quedaba en ellas varias
semanas, afable, tranquilo, sin exigir nada y sin servilismo; dormía donde
fuera conveniente para sus huéspedes, en la paja de los silos, o en camas, en
las habitaciones de la familia o de los huéspedes, mientras el sordomudo dormía
en el corredor o en el suelo, afuera, pero lo más cerca posible, donde pudiese
percibir la respiración de quien era para él padre y hermano a la vez. Aquel
era el único sonido que percibía en medio de un vasto mundo silencioso.
Infaliblemente lo percibía.
Eran las primeras horas de la tarde. Los espacios aparecían
azulados de calor. Luego, a través del largo terreno llano donde la carretera
comenzaba a correr como el lecho de un río, Stevens vio el almacén de ramos
generales. Habitualmente estaba desierto a esta hora, pero ahora pudo ver,
amontonados frente al edificio, los automóviles arruinados y sin capotas, los
caballos y mulas ensillados y los carros, los jinetes y los conductores a
quienes conocía por su nombre de pila. Y lo que es mejor, lo conocían a él,
votaban por él año tras año y lo llamaban familiarmente, a pesar de que no
comprendían el significado de la insignia, la Phi Beta Kappa, máxima
condecoración académica de las universidades del país, que pendía de la cadena
de su reloj. Stevens detuvo su automóvil junto al del médico forense.
Aparentemente la indagación no tendría lugar en el almacén,
sino en el molino harinero contiguo, delante de cuya puerta, con los mamelucos
limpios y las camisas domingueras, las cabezas descubiertas, y los cuellos
curtidos por el sol y surcados por las líneas blancas de las prolijas afeitadas
del sábado, había grupos más densos y silenciosos. Le abrieron paso cuando
entró. En el interior había una mesa y tres sillas, donde estaban sentados el
médico forense y dos testigos.
Stevens vio a un hombre de unos cuarenta años, con una bolsa
de arpillera sumamente limpia, doblada y vuelta a doblar tantas veces que
parecía un libro, y un muchacho cuyo rostro tenía una expresión de asombro
fatigado pero indomable. El cadáver yacía bajo un acolchado, sobre la baja
plataforma a la cual estaba fijada la muela, ahora silenciosa. Stevens se
aproximó, levantó una esquina del acolchado, miró el rostro, y bajando
nuevamente el acolchado se volvió, dispuesto a seguir su viaje al pueblo. Pero
de pronto decidió quedarse. Se movió entre los hombres apoyados contra las
paredes, con los sombreros en la mano, y escuchó a los dos testigos. Fue causa
de su decisión la declaración del muchacho, con su voz asombrada, fatigada,
incrédula, mientras terminaba de describir el hallazgo del cadáver. Vio cómo el
médico firmaba el certificado de defunción y guardaba su lapicera en el
bolsillo; entonces supo que no iría al pueblo aquella tarde.
-Creo que eso es todo -dijo el médico, mirando en dirección
a la puerta-. Muy bien, Ike, puedes llevártelo.
Stevens se apartó del resto y contempló a los cuatro hombres
que se dirigían hacia el acolchado.
-¿Lo llevarás tú, Ike? -dijo.
El mayor de los cuatro lo miró un instante.
-Sí. Le había dejado el dinero para el entierro a Mitchell,
en el almacén.
-Tú, y
Pose, y Matthew, y Jim Blake -murmuró Stevens.
Esta vez el otro lo observó con extrañeza, con impaciencia.
-Podemos pagar la diferencia entre todos -dijo.
-Quisiera contribuir -dijo Stevens.
-Gracias -repuso el otro-. Tenemos bastante.
A continuación el médico se acercó al grupo rezongando.
-Bueno, muchachos. Abran paso.
Con los otros, Stevens salió al aire libre, al calor de la
tarde. Había ahora un carro muy cerca de la puerta, que no había estado allí
antes. La puerta trasera estaba baja, el piso cubierto de paja, y Stevens
permaneció descubierto como todos, contemplando a los cuatro hombres salir del
molino, cargados con el bulto envuelto en el acolchado, y dirigirse al carro.
Tres o cuatro se adelantaron para ayudar, y Stevens se movió a su vez y tocó el
hombro del muchacho; vio nuevamente en el rostro de este aquella expresión de
asombro intrigado e incrédulo.
-Fuiste a traer el bote antes de saber que ocurría algo
-dijo.
-Es verdad -dijo el muchacho. Al principio habló
tranquilamente-. Nadé hasta el bote y luego lo traje remando. Yo sabía que
había algo en esa línea. Estaba tirando...
-Querrás decir que lo trajiste nadando -dijo Stevens.
-... hacia el fondo de... ¿Cómo, señor?
-Que trajiste el bote nadando. Nadaste hasta él, lo asiste y
lo trajiste nadando.
-¡No, señor! Lo traje remando. Remando desde la otra orilla.
Y vi esos peces...
-¿Con qué? -dijo Stevens. El muchacho lo miró ofendido-.
¿Con qué remabas?
-¡Con el remo! Recogí el remo y traje el bote remando, y
todo el tiempo los veía moverse en el agua. ¡No querían dejarlo! ¡Estaban
adheridos a él aun después de sacarlo del agua, comiéndolo! ¡Los peces, digo!
¡Yo sabía que las tortugas comen gente, pero estos eran peces! ¡Comiéndolo!
¡Por supuesto, creímos que eran peces lo que había allí! ¡Sí que eran peces!
¡No comeré pescado nunca más! ¡Nunca!
Aparentemente no había transcurrido mucho tiempo, pero, con
todo, la tarde había llegado a su fin, llevándose consigo parte del calor. Una
vez más en su automóvil, con la mano en el arranque, Stevens contemplaba el
carro, listo para ponerse en marcha. "Algo anda mal", pensó.
"Algo no coincide. Algo más que no advertí, que no vi. O bien, algo que no
ha ocurrido todavía."
El carro había partido ya, y cruzaba el polvoriento terreno
llano en dirección a la carretera, con dos hombres en el pescante y los otros
dos a su lado montados en mulas. La mano de Stevens dio vuelta a la llave. El
vehículo se puso en marcha y en seguida pasó al carro a regular velocidad.
Al cabo de una milla, Stevens dobló por un camino de tierra,
y se dirigió hacia las colinas. El terreno se elevaba, y el sol era
intermitente ahora; pues en ciertos puntos de las estribaciones montañosas se
estaba poniendo ya. A poco el camino se bifurcaba, y en el vértice de esta
bifurcación había una iglesia sin torre, pintada de blanco, junto a un grupo
desordenado y sin cerco de losas de mármol barato y otras tumbas señaladas solo
por hileras de cascos de botellas, fragmentos de loza y ladrillos enterrados en
la tierra.
Sin vacilar se detuvo frente a la iglesia, luego de ubicar
el automóvil frente a la V formada por las carreteras y al camino que acababa
de recorrer, el cual era visible hasta la curva, donde desaparecía. Debido a
esa curva pudo oír el rumor del carro antes de verlo, y en aquel momento oyó,
asimismo, el camión. Estaba descendiendo velozmente la colina a sus espaldas, y
luego de pasar rápidamente junto a él, disminuyó la marcha. Era un automóvil
convertido en una especie de furgón, con un depósito de poca profundidad
cubierto por una lona.
Al llegar al vértice se detuvo, una vez más se oyó el rumor
del carro, y luego Stevens lo vio con los dos jinetes, doblando la curva en la
penumbra; ahora había un hombre de pie junto al camión, y Stevens lo reconoció:
Tyler Ballenbaugh, un chacarero, casado y con familia, con fama de arrogante y
violento, que había nacido en el distrito, partido hacia el oeste y regresado,
trayendo consigo, a manera de lastre, rumores de sumas ganadas en el juego. Se
había casado, adquirido tierras, y no jugaba ya; pero en determinados años,
hipotecaba su cosecha para comprar o vender cosechas futuras de algodón con el
dinero. Ballenbaugh, de pie en el camino, junto al carro, conversaba con los
hombres sin levantar la voz ni hacer un gesto. Había otro hombre con él, un hombre
con camisa blanca, a quien Stevens no reconoció ni miró dos veces.
Su mano oprimió el botón del arranque, y una vez más el
automóvil se puso en marcha. Encendió los faros, salió rápidamente del
cementerio, descendió hasta llegar a la carretera y colocarse detrás del
camión; en aquel momento el hombre de la camisa blanca saltó sobre el
guardabarros y le gritó algo, y Stevens lo reconoció: era un hermano menor de
Ballenbaugh que se había ido a Memphis años atrás, donde se decía que había
actuado como guardia armado durante una huelga textil; en los tres años últimos
se estaba ocultando en casa del hermano, según decían, no de la policía, sino
de algunos de sus amigos y relaciones comerciales de Memphis. De tiempo en
tiempo, su nombre aparecía en grescas y riñas registradas en bailes y fiestas
campestres. En una oportunidad fue sujetado y detenido por dos agentes
policiales en Jefferson, donde los sábados, ebrio, solía jactarse de sus
hazañas pasadas o bien maldecía su situación actual y al hermano mayor que lo
obligaba a trabajar en la chacra.
-¿A quién diablos está espiando? -dijo.
-Boyd -dijo
el otro Ballenbaugh. No levantó la voz, siquiera-. Sube al camión.
Él no se había movido: era un hombre grande, de rostro
sombrío, que miró a Stevens con ojos claros, fríos, sin la menor expresión.
-¿Cómo estás, Gavin? -dijo.
-Bien, ¿y tú, Tyler? ¿Te llevas a Lonnie?
-¿Alguien se opone?
-Yo no -dijo Stevens, bajando del automóvil-. Te ayudaré a
trasladarlo.
Luego subió nuevamente al vehículo. El carro reanudó la
marcha. El camión retrocedió y viró, cobrando en seguida velocidad; los dos
rostros pasaron fugazmente, y el que vio Stevens ahora no era belicoso, sino
asustado; el otro no expresaba nada, con sus ojos fijos, fríos, claros. La
lámpara, que estaba rajada, desapareció tras la colina. "El número de la
chapa es del distrito de Okatoba", pensó Stevens.
Enterraron a Lonnie Grinnup al día siguiente por la tarde,
partiendo el cortejo fúnebre de casa de Tyler Ballenbaugh.
Stevens no estuvo presente.
-Tampoco estaría allí Joe, supongo -comentó-. El mudo de
Lonnie.
-No, tampoco estaba allí. Los que fueron al campamento de
Lonnie el domingo por la mañana, para examinar la línea de pesca, dijeron que
todavía merodeaba por el campamento, buscando a Lonnie. Cuando lo encuentre,
esta vez, podrá acostarse a su lado, pero no percibirá su respiración.
-No -dijo Stevens.
III
Estaba en Mottstown, capital del distrito de Okatoba,
aquella tarde. Y aunque era domingo, y aunque no sabía, hasta que lo encontró,
qué estaba buscando, lo encontró antes de la noche: era el agente de la
compañía de seguros que, once años atrás, vendió una póliza por cinco mil
dólares, con doble indemnización por muerte accidental; Tyler Ballenbaugh era
el beneficiario de esa póliza.
Todo estaba en regla. El médico examinador nunca había visto
a Lonnie Grinnup, pero conocía a Tyler Ballenbaugh desde hacía años; Lonnie
había hecho una cruz en la solicitud; Ballenbaugh abonó la cuota inicial, y
efectuó todos los pagos desde entonces.
No se había mantenido mayor secreto acerca de ello, salvo el
de realizar la transacción en otro pueblo; y Stevens comprendía que tampoco eso
era muy extraño.
El distrito de Okatoba estaba en la orilla opuesta del río,
a tres millas del domicilio de Ballenbaugh, y Stevens sabía de otros hombres,
además de Ballenbaugh, que poseían tierras en un distrito y adquirían sus
camiones y automóviles y depositaban su dinero en otro, obedeciendo quizás a
una sutil desconfianza atávica, inherente al hombre de campo, no tanto frente a
los hombres de cuello duro como frente a las calles asfaltadas y la
electricidad.
-¿Entonces no deberé certificar la póliza, por ahora?
-preguntó el agente de seguros.
-No. Quiero que acepte la solicitud cuando él venga a
presentarla, que le explique que necesitará una semana aproximadamente para
arreglarlo todo, y luego espere tres o cuatro días antes de comunicarle que
pase a verlo en esta oficina a las nueve o diez de la mañana siguiente. No le
diga por qué ni para qué. Luego telefonéeme a Jefferson, cuando sepa que ha
recibido el mensaje.
A la mañana siguiente muy temprano, casi al amanecer, cedió
la ola de calor. Stevens estaba acostado, contemplando los resplandores y
escuchando los rugidos de la tormenta eléctrica y la ruidosa furia de la
lluvia; pensaba en su implacable golpeteo y en los profundos surcos de agua
color de arcilla que debían formarse sobre la árida y solitaria tumba de Lonnie
Grinnup, junto a la iglesia sin torre, sobre aquella colina desnuda; también
pensaba en el ruido que debía hacer sobre el torbellino del creciente caudal
del río, y al golpear la choza de latas y lona donde el sordomudo seguía
esperando, probablemente, que él volviese a casa, sabiendo que algo había
ocurrido, pero sin saber cómo, ni por qué. "No sabe cómo", pensó
Stevens. "De alguna manera lo engañaron. Ni siquiera se molestaron en
atarlo. Lo engañaron, simplemente."
El miércoles por la noche recibió el aviso telefónico del
agente de Mottstown: Tyler Ballenbaugh había presentado su solicitud.
-Muy bien -dijo Stevens-. Envíele el mensaje el lunes, para
que vaya a su oficina el martes; quiero que me avise cuando sepa que lo ha
recibido. "Estoy jugando al póker con un hombre que ha demostrado ser un
jugador, en tanto que yo no lo soy", pensó. "Pero por lo menos le he
obligado a arrojar su carta. Y sabe quién está en el pozo con él."
Así, pues, cuando llegó el segundo mensaje el lunes por la
tarde, solo sabía lo que él, Stevens, pensaba hacer. Durante un momento se le
ocurrió pedir un empleado al sheriff, o bien llevar a un amigo. "Pero ni
un amigo creerá que lo que tengo entre manos es una carta marcada", se dijo,
"a pesar de que yo estoy seguro de ello: es decir, que un hombre, aun
tratándose de un aficionado en materia de asesinatos, tendría que haber borrado
las huellas, luego de cometer el hecho. Pero cuando se trata de dos asesinos,
ninguno de los dos está seguro de que el otro no ha dejado huellas."
Por fin Stevens fue solo. Tenía una pistola. Pero luego de
haberla sacado, la guardó nuevamente en el cajón. "Por lo menos, nadie
disparará contra mí con esta pistola", se dijo. Salió del pueblo al
oscurecer.
Esta vez pasó junto al almacén de ramos generales, oscuro
junto a la carretera. Cuando llegó al camino de tierra, que siguió nueve días
atrás, tomó esta vez a la derecha y siguió manejando un cuarto de milla más,
hasta desembocar en un potrero muy sucio, y alumbró con los faros una cabaña
oscura. No los apagó, sino que avanzó a pie en medio del haz luminoso, en
dirección a la cabaña, gritando: "¡Nate! ¡Nate!"
Al cabo de un rato oyó la voz de un negro, si bien no vio
luz alguna.
-Voy al campo de Lonnie Grinnup. Si no he regresado antes
del amanecer, es mejor que vayas hasta el almacén y les avises.
No hubo respuesta. Luego una voz de mujer dijo:
-¡Apártate de esa puerta!
La voz del hombre murmuró algo.
-¡No me importa! -exclamó la mujer-. Sal de ahí y deja a los
blancos tranquilos.
"De modo que hay otros, además de mí", pensó
Stevens, recordando cuán a menudo, casi siempre, hay en los negros un instinto,
no para el mal, sino para intuirlo inmediatamente cuando está cerca. Volvió al
automóvil, apagó los faros y sacó su linterna del asiento.
Encontró el camión. Bajo el tenue haz de luz leyó una vez
más el número de la patente que vio alejarse nueve días atrás colina abajo.
Apagó la linterna y la guardó en el bolsillo.
Veinte minutos más tarde advirtió que no debió haberse
preocupado por la luz. Estaba en el sendero, entre la negra pared de monte y el
río; veía el leve resplandor detrás de la pared de lona de la choza, y oía ya
las dos voces: una fría, monótona y firme; la otra, alta y áspera. Tropezó con
la pila de leña y luego con algo más; halló la puerta, la abrió rápidamente y
se encontró frente a la devastación de la casa del muerto: los colchones de
chala retirados de las tarimas de madera, la cocina volcada y los utensilios de
cocina desparramados, y, en medio de todo ello, Tyler Ballenbaugh enfrentándolo
con una pistola, y su hermano menor, arqueado como si fuera a saltar, junto a
un cajón volcado.
-¡Atrás, Gavin! -gritó Ballenbaugh.
-Retrocede tú, Tyler -dijo Stevens-. Has llegado tarde.
El joven se enderezó. Stevens advirtió que lo había
reconocido.
-¡Pero, por...! -exclamó.
-¿No hay salida, Gavin? -dijo Ballenbaugh-. Dime la verdad.
-Creo que no. Baja esa pistola.
-¿Quién más está contigo?
-Los suficientes. Baja esa pistola, Tyler.
-¡Miente! -dijo el más joven. Empezó a moverse. Stevens vio
que sus ojos se dirigían hacia la puerta a sus espaldas-. ¡Miente, te digo! No
hay nadie más. Está espiando, como el otro día, metiendo la nariz donde muy
pronto lamentará haberla metido. Porque esta vez se la vamos a cortar.
Avanzaba ahora hacia Stevens, algo inclinado, los brazos
separados del cuerpo.
-¡Boyd! -dijo Tyler. El otro siguió avanzando, sin sonreír,
pero con una expresión extraña, una especie de brillo o fulgor en el rostro-.
¡Boyd! -repitió Tyler, y a su vez se movió con sorprendente rapidez, y
alcanzando a su hermano, con un solo movimiento del brazo lo hizo caer
trastabillando sobre uno de los camastros. Ambos se miraron: el uno, frío, inmóvil,
sin expresión, con la pistola apuntando al vacío; el otro, arqueado, gruñendo.
-¿Qué diablos pretendes hacer? ¿Dejar que nos lleve al
pueblo como dos corderos?
-Eso lo decidiré yo -dijo Tyler. Y luego, mirando a
Stevens-: Nunca pensé en esto, Gavin. Yo aseguré su vida, pagué las primas, sí.
Pero era un buen negocio: si él hubiese vivido más que yo, el dinero no me
habría servido, de todos modos; en caso contrario, yo me habría beneficiado al
morir él. No había ningún secreto. Lo hicimos a la luz del día. Cualquiera
habría podido saberlo. Quizás él habló de ello. Yo nunca se lo prohibí. ¿Y
quién podía criticarlo, de todos modos? Siempre le daba de comer cuando venía a
casa, se quedaba tanto como quería, y venía cuando tenía ganas. Pero yo no
planeé esto.
De pronto el muchacho empezó a reír, reclinado a medias en
el camastro donde lo empujara el otro.
-¡Ah! ¡Conque ese es el asunto, ahora! ¡Conque así andan las
cosas! -y entonces no hubo más risa, si bien la transición fue leve,
imperceptible. Estaba de pie, frente a su hermano-. Yo no aseguré su vida en
cinco mil dólares -dijo-. A mí no iban a tocarme...
-Calla -dijo Tyler.
-... cinco mil dólares cuando lo hallasen muerto en esa...
Tyler avanzó firmemente y lo abofeteó dos veces, con la
palma y el dorso de la mano, sin dejar la pistola que sostenía en la otra.
-Te digo que te calles, Boyd -dijo. Miró a Stevens una vez
más-. Nunca preví esto. Ahora no quiero el dinero, aunque me lo paguen, porque
nunca planeé obtenerlo de esa manera. Yo no juego así. ¿Qué piensas hacer?
-¿Me lo preguntas? Quiero hacer una denuncia por asesinato.
-¡Y luego probarlo! -gritó el otro-. ¡Trate de probarlo! Yo
no aseguré su vida por...
-¡Calla! -repitió Tyler, casi con suavidad, mirando a
Stevens con aquellos ojos en los que no se reflejaba absolutamente nada-. No
puedes hacer eso, Stevens. Tenemos un nombre limpio. Lo ha sido. Quizás nadie
haya hecho nada por engrandecerlo todavía, pero hasta ahora nadie lo dañó
mucho. Nunca he debido nada a nadie, ni tomado lo que no es mío. No debes hacer
eso, Gavin.
-No debo hacer otra cosa, Tyler.
El otro lo miró. Stevens oyó que aspiraba y espiraba
profundamente. Pero su expresión no cambió.
-De modo que lo que quieres es ojo por ojo y diente por
diente.
-Lo quiere la justicia. Tal vez, Lonnie. ¿No lo querrías tú?
El otro lo miró un instante más. Luego se volvió e hizo un
gesto a su hermano y otro a Stevens, los dos firmes y perentorios.
En seguida se encontraron fuera de la choza, alumbrados por
la luz que pasaba por la puerta abierta. Arriba, una leve ráfaga se agitó entre
el follaje y luego cesó. Al principio Stevens no comprendió la intención de
Ballenbaugh. Vio que se volvía hacia su hermano, con la mano extendida,
hablándole con un tono severo:
-Este es el fin del escándalo. Lo temí desde la noche que
llegaste a casa y me lo dijiste. Debí criarte mejor, pero no lo hice. Ven.
Decídete de una vez.
-¡Cuidado, Tyler! ¡No hagas eso! -dijo Stevens.
-No intervengas, Gavin. Si quieres una vida por una vida, la
tendrás.
Seguía mirando a su hermano, sin reparar siquiera en
Stevens.
-Ven. Tómala y acaba de una vez.
Entonces fue demasiado tarde. Stevens vio que el muchacho
saltaba hacia atrás, que Tyler avanzaba un paso, y percibió en la voz de este
la sorpresa, la incredulidad, y por fin la comprensión súbita del error
cometido.
-¡Deja esa pistola, Boyd! ¡Déjala!
-Conque la quieres, ¿eh? -dijo Boyd-. Cuando aquella noche
te dije que tendrías cinco mil dólares en el momento en que alguien descubriese
la línea de pesca, y te pedí diez, rehusaste. Diez dólares, y me los negaste.
Sí que te la daré. ¡Aquí la tienes! El fogonazo partió desde muy abajo, y el
fuego rojizo trazó un surco descendente al caer el otro. "Ahora me toca a
mí", pensó Stevens. Estaban frente a frente; una vez más se sintió la
ráfaga que agitaba el follaje sobre su cabeza.
-¡Corre mientras puedas, Boyd! -dijo-. Ya has hecho
bastante. ¡Corre!
-Sí que correré. Preocúpese por mí, ahora, porque dentro de
un minuto ya no tendrá preocupaciones. Sí que correré, después de decir algo a
estos señores que meten la nariz donde se lamentarán...
"Ahora tirará", pensó Stevens, y saltó. Por un
segundo tuvo la ilusión óptica de verse a sí mismo saltando, en el aire, sobre
la cabeza de Boyd Ballenbaugh, reflejado de alguna manera por la tenue luz del
río, por esa luminosidad que devuelve el río a las tinieblas. Y entonces
advirtió que no era él mismo a quien veía; no, no había sido una ráfaga lo que
percibió, cuando la criatura, la forma que no tenía lengua ni la necesitaba,
que durante nueve días había esperado el regreso de Lonnie Grinnup, se dejó
caer sobre las espaldas del asesino, las manos crispadas y el cuerpo rígido y
curvado, con silenciosa y mortal determinación.
"Estaba en el árbol", pensó Stevens. La pistola
relució en la oscuridad. Vio el fogonazo, pero no oyó nada.
IV
Estaba sentado en el corredor con su aseado vendaje
quirúrgico, después de la comida, cuando llegó el sheriff por el sendero del
jardín: era un hombre muy alto, agradable, afable, con ojos más pálidos, más
fríos y más inexpresivos aun que los de Tyler Ballenbaugh.
-No llevará más de unos minutos -dijo-. De lo contrario, no
te habría molestado.
-¿Cómo, molestarme? -dijo Stevens.
El sheriff apoyó un muslo sobre la barandilla del corredor.
-¿Cómo va tu cabeza?
-Muy bien.
-Me alegro. Creo que oíste decir dónde hallamos a Boyd.
Stevens lo miró con la misma expresión impasible.
-No he recordado nada en todo el día, salvo mi dolor de
cabeza.
-Tú nos dijiste dónde debíamos buscar. Cuando llegué ahí,
estabas consciente todavía, y tratando de dar agua a Tyler. Nos dijiste que
miráramos la línea de pesca.
-¿Sí? ¡Bueno, bueno! ¿Qué no dice un borracho, o un loco? Y
a veces dice la verdad.
-La dijiste. Examinamos la línea y allí estaba Boyd muerto,
colgado de uno de los anzuelos, exactamente como Lonnie Grinnup. Y Tyler
Ballenbaugh, con una pierna rota y otro balazo en el hombro; y tú con una
herida en la cabeza, en la cual podría haber escondido un cigarro. ¿Cómo quedó
colgado en la línea, Gavin?
-No lo sé.
-Muy bien. Supongamos que en este momento no soy el sheriff.
¿Cómo apareció Boyd en esa línea?
-No lo sé.
El otro lo miró; se miraron mutuamente.
-¿Es eso lo que contestas a un amigo cuando te pregunta
algo?
-Sí. Yo estaba herido, como bien sabes. No lo sé.
El sheriff sacó un cigarro del bolsillo y lo estudió un
rato.
-Joe, el sordomudo que crió Lonnie... se ha ido,
aparentemente. El domingo pasado todavía andaba merodeando, pero nadie lo ha
visto desde entonces. Podría haberse quedado. Nadie lo molestaría.
-Quizás extrañaba a Lonnie demasiado para quedarse.
-Quizás lo extrañaba -murmuró el sheriff, poniéndose de pie.
Luego cortó el extremo del cigarro con los dientes y lo encendió-. ¿Ese balazo
te hizo olvidar también esto? ¿Qué te hizo sospechar que algo andaba mal? ¿Qué
era lo que el resto de nosotros no había advertido?
-El remo -repuso Stevens.
-¿El remo?
-¿Nunca tendiste una línea de pesca, una línea en tu propio
campamento? No se usa el remo, sino que se empuja el bote con las manos,
alternativamente, a lo largo de la línea, desde un anzuelo hasta el otro.
Lonnie nunca usaba el remo; dejaba el bote atado al mismo árbol del que partía
la línea, y el remo quedaba siempre en la choza. Si alguna vez hubieses ido
allí, lo habrías observado. Pero el remo estaba en el bote cuando el muchacho
lo encontró.
FIN
"Hand
Upon the Waters" (1939),
publicado en Knight’s Gambit, 1949
Biblioteca Digital Ciudad Seva
terça-feira, 26 de julho de 2016
ORDEM, NA SENZALA, & PROGRESSO, NA CASA GRANDE
Do título ao fechamento, este artigo resume o panorama nessa
nossa pobre república bananeira:
por
O governo provisório de Michel Temer é analógico, rodando um
filme branco e preto de piratas pilhadores, que tentam a qualquer custo
restaurar as pontes com o passado mais atrasado do Brasil e reestruturar as
bases de poder oligárquico para os negócios com as metrópoles.
Depois do período colonial, as nações centrais mantiveram
profundos vínculos econômico-financeiros com as nações periféricas por meio de
suas corporações empresariais e, com seus liames políticos, impuseram a
arquitetura do Estado e do poder.
Foi assim no Império e na República que resultou do golpe
militar do Marechal Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Benjamim Constant,
logo após a proibição da escravidão pela Lei Áurea.
Os militares não se aliaram aos republicanos abolicionistas,
mas aos proprietários das terras, das minas, das empresas e dos bancos que se
estabeleciam no país.
As forças armadas e policiais brasileiras, por serem
originárias historicamente dos reinados e mantidas por eles, para defenderem o
patrimônio da Coroa e dos proprietários das terras e das empresas, têm se
comportado, no Brasil, salvo raras exceções, como combatentes de inimigos
internos, respaldadas por “Juízes de Pelourinho”, autoridades forjadas na
cultura colonial do açoite, da degola, do esquartejamento e salgamento de
corpos de líderes populares. Sempre foi assim em Pindorama e a história tem os
fatos emoldurados e pendurados na parede da memória.
Por ter manifestado sentimento nativista e desejo de
independência do Brasil, Felipe dos Santos foi amarrado a uma junta de cavalos
bravios e arrastado pelas ruas de Vila Rica, em Minas Gerais, até o corpo
partir em pedaços. As partes foram salgadas e penduradas nas árvores da entrada
da cidade. Tiradentes foi enforcado, esquartejado, as partes do corpo também
salgadas e amarradas em postes de Vila Rica. A cabeça ficou exposta no paço da
cidade.
Zumbi teve a cabeça cortada, levada ao governador de
Pernambuco, Melo de Castro, e exposta no paço da cidade do Recife. Antônio
Conselheiro, Lampião e muitos dos seus seguidores também tiveram as cabeças
cortadas e expostas em praças públicas. Assim se comportam as forças armadas e
policiais do Brasil, em nome da ordem e do progresso ditadas pelos de cima.
A violência policial-militar está entranhada nos corações e mentes
das autoridades inimigas da democracia que servem a proprietários e rentistas.
Nos períodos recentes das ditaduras civil-militares torturaram com requinte de
crueldade, aniquilaram pessoas, fizeram-nas mortas-vivas, tamanha a violência
dos facínoras, nos porões dos cárceres.
A Presidenta Dilma foi uma das vítimas da tortura. Na sessão
da Câmara dos Deputados que a afastou da Presidência da República e deu posse a
Michel Temer, o deputado Jair Bolsonaro homenageou o torturador Brilhante Ustra
com seu voto a favor do golpe.
A República brasileira é fruto de um golpe militar,
manobrado politicamente por gerentes de interesse estrangeiros. Por incrível
que pareça, o Brasil não consegue se livrar da sombra do passado, do atraso
organizado, e se firmar como uma República democrática, livre e soberana.
O lema dos golpistas da República colonial, inscrito na
bandeira brasileira, “Ordem e Progresso”, é o mesmo do golpista Michel Temer e
seu governo provisório, que se adianta na tentativa de subtração de direitos
conquistados pela população trabalhadora e na entrega a empresas
multinacionais, de suas riquezas, como as jazidas de petróleo do pré-sal, a
maior jóia de Pindorama, de empresas estatais estratégicas para o
desenvolvimento, como as do setor elétrico e outros bens públicos.
Os golpes militares que se seguiram na história do Brasil,
nos ciclos de vigência do Estado democrático de direito, foram dados por
militares em parceria com gerentes de interesses externos, para realinhar o
Brasil aos vínculos econômico-financeiros das nações centrais impostos pelas
corporações empresariais.
Nos momentos de crise, como o que o mundo atravessa, com
efeitos extremamente perversos sobre as economias mais dependentes e
vulneráveis, as nações centrais buscam nas nações periféricas compensações de
suas perdas.
O afastamento da Presidenta Dilma e a imposição de Michel
Temer, com um golpe tramado pelo Congresso, setores do Judiciário e da mídia, é
resultado de uma sofisticada conspiração que atende a essa finalidade.
Desde os tempos coloniais, as nações periféricas contam com
categorias nativas, não proprietárias, de gerentes de interesses estrangeiros
que vivem a pregar uma ideologia que só serve a eles e a seus negócios.
São tipos que transitam na política e no mercado, e estão
sempre participando de governos, principalmente no comando de áreas
estratégicas, com as grandes corporações de mídia à disposição, onde formam a
opinião pública e comandam a massa.
Não gostam de pagar impostos. Costumam ser sonegadores
contumazes. Se dizem inimigos do Estado, mas sempre contam com a proteção e a
salvação dos seus negócios pelo Estado.
Não têm compromisso com a cidadania, com as populações
desfavorecidas. O negócio deles é negócio.
Bancam golpes, repassam para os trabalhadores os prejuízos
decorrentes das crises e defendem com unhas e dentes as margens de lucro de
suas empresas.
Para os golpistas de sempre, nada de política externa que
proporcione autonomia, independência. Nada de falar grosso com as nações
centrais
Para eles, “Ordem e Progresso ” quer dizer: baixem as
cabeças, trabalhem, produzam, consumam, não questionem, e deixem os destinos
nas mãos deles. Deixem os piratas explorarem Pindorama.
http://laurezcerqueira.com.br/…/ordem-na-senzala-progresso-…
"O impeachment trouxe a galope e sem filtro a velha
pauta ultraconservadora e entreguista, perseguida nos anos FHC e derrotada nas
últimas quatro eleições. Privatizações, cortes profundos em educação e saúde,
desmanche de conquistas trabalhistas, ataque a direitos.
O objetivo é elevar a extração de mais valia, esmagar os
pobres, derrubar empresas nacionais, extinguir ideias de independência. Em
suma, transferir riqueza da sociedade para poucos, numa regressão fulminante.
Previdência, Petrobras, SUS, tudo é implodido com a conversa de que não há
dinheiro. Para os juros, contudo, sempre há."
Eleonora de Lucena, certeira, na Folha de São Paulo
O Ocidente anda pra trás.
"A Era Obama está terminando. E, ao contrário do quase
unânime repúdio a Bush Filho, há muita confusão, divergência e falta de análise
factual sobre o que se passou nos oito últimos anos nos EUA -- e por tabela no
mundo. Obama, contudo, não falhou. Ele se prestou a executar um outro projeto.
Se sua política externa foi uma continuidade do horror de sempre, a política
interna não foi diferente: nem mesmo a questão racial ou a questão do
saneamento da política interna -- nem que fosse do seu próprio partido --,
Obama conseguiu ou quis melhorar. Hoje, neste exato instante, um jovem
professor universitário negro não conseguiria ser candidato à presidência dos
EUA. Há oito anos atrás, isso ainda era possível."
Hugo Albuquerque
A parábola do algodão e do pão
A parábola do algodão e do pão
se uma mordida num chumaço
de algodão/um arrepio.
se uma mordida num pedaço
de pão/um não vazio.
se o chumaço
no ouvido de um faminto
:um som sentido.
se um sem sentido
do faminto
:um pedaço não mordido.
se o não vazio de um pedaço
de pão/um bem mordido.
se o bom macio de um chumaço
de algodão/um mal sentido.
o mal sentido do faminto
de pão vazio:
com o sem sentido do vazio
num algodão mordido.
- Mário Chamie, em "Sábado na hora da escuta: antologia
poética". São Paulo: Summus Editorial, 1978.
fonte : Frau Kurten
Goulash húngaro
Ingredientes
1 kg de carne bovina (pode ser coxão duro)
250 g de cebola
50 g de banha de porco (ou óleo)
3 dentes de alho
3 colheres (chá) de páprica doce em pó
2 colheres (chá) de páprica picante em pó
sal
1 colher (chá) de kümmel (cominho ou alcarávia)
5 colheres (sopa) de polpa de tomate
200 ml de vinho tinto seco
3 pimentões vermelhos
açúcar
Modo de preparo
Corte a carne em cubos de 3 centímetros. Pique a cebola.
Aqueça o óleo ou banha numa panela larga e refogue a cebola no fogo médio.
Acrescente o alho finamente picado.
Misture as duas pápricas e refogue rapidamente com a cebola
e o alho na panela. Acrescente a carne e deixe cozinhar em fogo médio durante 5
minutos, mexendo sempre. Tempere com sal e kümmel. Misture a polpa de tomate
com 250 ml de água fervente e com o vinho. Acrescente a mistura à carne, tampe
a panela e deixe cozinhar no fogo médio de 2 horas a 2 horas e meia.
Picar três pimentões em cubos de 3 centímetros, acrescentar
à carne e deixar cozinha por mais 30 minutos. Temperar com sal a gosto e uma
pitada de açúcar. Servir acompanhado de batatas cozidas.
* adaptação de receita publicada no site da revista alemã
Essen und Trinken
Luisa Frey/DW
tratado de Lisboa
http://www.fd.uc.pt/CI/CEE/pm/Tratados/Lisboa/tratados-TUE-TFUE-V-Lisboa.html
sobre o tratado de Lisboa . Artigo 50 desligamento de um
país membro da União Européia
Artigo 50.º
1. Qualquer Estado-Membro pode decidir, em conformidade com
as respectivas normas constitucionais, retirar-se da União.
2. Qualquer Estado-Membro que decida retirar-se da União
notifica a sua intenção ao Conselho Europeu. Em função das orientações do Conselho
Europeu, a União negocia e celebra com esse Estado um acordo que estabeleça as
condições da sua saída, tendo em conta o quadro das suas futuras relações com a
União. Esse acordo é negociado nos termos do n.º 3 do artigo 218.º do Tratado
sobre o Funcionamento da União Europeia. O acordo é celebrado em nome da União
pelo Conselho, deliberando por maioria qualificada, após aprovação do
Parlamento Europeu.
3. Os Tratados deixam de ser aplicáveis ao Estado em causa a
partir da data de entrada em vigor do acordo de saída ou, na falta deste, dois
anos após a notificação referida no n.º 2, a menos que o Conselho Europeu, com
o acordo do Estado-Membro em causa, decida, por unanimidade, prorrogar esse
prazo.
4. Para efeitos dos n.ºs 2 e 3, o membro do Conselho Europeu
e do Conselho que representa o Estado-Membro que pretende retirar-se da União
não participa nas deliberações nem nas decisões do Conselho Europeu e do
Conselho que lhe digam respeito.
A maioria qualificada é definida nos termos da alínea b) do
n.º 3 do artigo 238.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia.( 3. A
Comissão, ou o Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a
Política de Segurança nos casos em que o acordo projectado incida exclusiva ou
principalmente sobre a política externa e de segurança comum, apresenta
recomendações ao Conselho, que adopta uma decisão que autoriza a abertura das
negociações e que designa, em função da matéria do acordo projectado, o
negociador ou o chefe da equipa de negociação da União.)
5. Se um Estado que se tenha retirado da União voltar a
pedir a adesão, é aplicável a esse pedido o processo referido no artigo 49.º.
Artigo 218 n 3. A Comissão, ou o Alto Representante da União
para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança nos casos em que o
acordo projectado incida exclusiva ou principalmente sobre a política externa e
de segurança comum, apresenta recomendações ao Conselho, que adopta uma decisão
que autoriza a abertura das negociações e que designa, em função da matéria do
acordo projectado, o negociador ou o chefe da equipa de negociação da União.)
Antes de ti
Antes de ti
yo ya existía,
antes de ti
¿no lo sabías?
yo ya cantaba,
yo ya mentía,
yo ya soñaba,
antes de ti
yo ya jugaba,
yo ya reía,
ya suspiraba
si me quitaban
la ilusión,
claro que sí,
¿quién lo diría?
antes de ti
ya estaba yo.
Antes de mí
tú ya vivías,
antes de mí
¿no lo sabías?
tú ya besabas,
tú ya crecías,
tú ya apostabas,
antes de mí
tú ya ganabas,
tú ya perdías,
tú ya pensabas
que te estorbaba
la virtud,
claro que sí
¿quién lo diría?
antes de mí
ya estabas tú...
✍ Joaquín Sabina
segunda-feira, 25 de julho de 2016
Teoría de la acción comunicativa I
JÜRGEN HABERMAS.
Enlace:
http://www.olimon.org/…/habermas-teoria-de-la-accion-comuni…
Habermas propone un modelo que permite analizar la sociedad
como dos formas de racionalidad que están en juego simultáneamente: la
racionalidad sustantiva del mundo de la vida y la racionalidad formal del
sistema, pero donde el mundo de la vida representa una perspectiva interna como
el punto de vista de los sujetos que actúan sobre la sociedad, mientras que el
Sistema representa la perspectiva externa, como la estructura sistémica (la
racionalidad técnica, burocratizada-weberiana, de las instituciones).
Habermas estudia a la sociedad como un conglomerado de
sistemas complejos, estructurados, donde el actor desaparece transformado en
procesos (sistema-racional-burocrático), y por otro lado, también incluye el
análisis sociológico que da primacía al actor, como creador. Habermas en Teoría
de la Acción Comunicativa, refiere que al elegir un determinado concepto
sociológico de acción, nos comprometemos con determinadas presuposiciones
ontológicas.
A piedade
Roberto Piva
Eu urrava nos poliedros da Justiça meu momento
abatido na extrema paliçada
os professores falavam da vontade de dominar e da
luta pela vida
as senhoras católicas são piedosas
os comunistas são piedosos
os comerciantes são piedosos
só eu não sou piedoso
se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria
aos sábados à noite
eu seria um bom filho meus colegas me chamariam
cu-de-ferro e me fariam perguntas: por que navio
boia? por que prego afunda?
eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as
estátuas de fortes dentaduras
iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos
pederastas ou barbudos
eu me universalizaria no senso comum e eles diriam
que tenho todas as virtudes
eu não sou piedoso
eu nunca poderei ser piedoso
meus olhos retinem e tingem-se de verde
Os arranha-céus de carniça se decompõem nos pavimentos
os adolescentes nas escolas bufam como cadelas asfixiadas
arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através
dos meus sonhos
A origem
Konstantínos Kaváfis
Consumara-se o prazer ilícito.
Ergueram-se ambos do catre humilde.
À pressa se vestiram, sem falar.
Saíram separados, furtivamente;
e, ao caminhar inquietos pela rua,
como que receavam que algo neles traísse
em que espécie de amor há pouco se deitavam.
Mas quanto assim ganhou a vida do poeta!
Amanhã, depois, anos depois, serão
escritos os versos de que é esta a origem.
(tradução de Jorge de Sena)
[Com vinho, dizendo que é vinho, enche-me a taça]
Abū Nuwās al-Ḥasan ibn Hānī al-Ḥakamī
Com vinho, dizendo que é vinho, enche-me a taça,
Pois beber furtivamente não há quem me faça.
Pobre e maldito é o tempo em que sóbrio fico,
Mas quando trôpego pelo vinho torno-me rico.
Não escondas por temor o nome do bem-amado;
O prazer verdadeiro nunca deve ser ocultado.
(tradução de Paulo Azevedo Chaves)
Eros
fragmento de Safo de Lesbos
[queima-nos]
#
Poema 99
Caio Valério Catulo
Um selinho mais doce que doce ambrosia,
Juvêncio, te roubei quando brincavas.
Mas não impunemente: pois da cruz mais alta
me vejo, há uma hora ou mais, pendido
pedindo-te perdão, e sem que minhas lágrimas
consigam aplacar a tua ira.
Assim que te beijei, teus dedos delicados
te lavaram o lábio com gotículas,
de modo que do meu no teu não resta nada,
pois julgaste ser mijo, não saliva.
Desde então me castigas com um amor negado,
e de tantas maneiras me excrucias,
que vejo, então, mudado o beijo de ambrosia
em amargor pior que o mesmo amargo;
por um selinho amor assim me castigou:
o que faria, ai, ai, se fossem dois?
(tradução de Érico Nogueira)
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