André Castelo Branco Machado
Entre na política e faça diferente. É a única saída. Não
adianta indignação seletiva, personificação do bem ou do mal e uma surpresa
pueril sobre como as instituições funcionam. É assim e só vai mudar com nossa
participação, através dos partidos políticos, da disputa institucional e da
militância política.
Mesmo que a delação do Delcídio precise ser provada, e a
palavra deste homem não tenha muito valor (opinião que sempre tive), acredito
fundamental a reflexão da Professora do curso de Direito da UFPR,
Eneida
Desiree Salgado:
"A delação de Delcídio e a ovelha de Rodrigo Hilbert
As discussões da semana giram em torno de duas
"revelações": a política brasileira se faz pelo tráfico de interesses
nada republicanos e é preciso matar um animal para que a gente possa comer
carne. Não são exatamente novidades, mas a maioria das pessoas preferia ignorar
esses fatos, apesar de viver da política (de maneira direta ou indireta - como
todos vivemos) e ser carnívoro. Tudo bem consumir os produtos, desde que não se
saiba como eles são produzidos. Junte-se aí uma capacidade impressionante de
negar fatos (de um lado e de outro e principalmente da imprensa), os
admiradores do Rodrigo Hilbert e do PT ("tá, a gente sabia que algumas
pessoas faziam assim, mas até ele?") e estamos diante de um público
estupefato consigo mesmo. Espero que a "surpresa" passe e comece um
debate sério sobre os temas: é possível fazer política de maneira diferente? é
um problema de desenho institucional ou de mau-caratismo dos políticos que
estão aí? a demonização da política e da classe política agrava ou resolve a
questão? devemos esperar um animal morrer sozinho para só então comermos sua
carne? O que não dá é apenas protestar em homenagem à pobre ovelha sacrificada
em um programa de televisão e esquecer de todos os outros animais que são
mortos todos os dias para nos alimentar. Ou achar que é só prender os
"petralhas", tirar o PT do poder, e tudo vai melhorar. Não vai: vai
continuar como antes, só que isso não estará sendo esfregado na nossa cara.
Podemos voltar a ignorar os fatos ou virar vegetariano e entrar na política
para fazer diferente. Para (re)fundar a República, apenas a segunda alternativa
é válida".
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