quinta-feira, 17 de março de 2016

A delação de Delcídio e a ovelha de Rodrigo Hilbert

André Castelo Branco Machado

Entre na política e faça diferente. É a única saída. Não adianta indignação seletiva, personificação do bem ou do mal e uma surpresa pueril sobre como as instituições funcionam. É assim e só vai mudar com nossa participação, através dos partidos políticos, da disputa institucional e da militância política.
Mesmo que a delação do Delcídio precise ser provada, e a palavra deste homem não tenha muito valor (opinião que sempre tive), acredito fundamental a reflexão da Professora do curso de Direito da UFPR, 
Eneida Desiree Salgado:

"A delação de Delcídio e a ovelha de Rodrigo Hilbert


As discussões da semana giram em torno de duas "revelações": a política brasileira se faz pelo tráfico de interesses nada republicanos e é preciso matar um animal para que a gente possa comer carne. Não são exatamente novidades, mas a maioria das pessoas preferia ignorar esses fatos, apesar de viver da política (de maneira direta ou indireta - como todos vivemos) e ser carnívoro. Tudo bem consumir os produtos, desde que não se saiba como eles são produzidos. Junte-se aí uma capacidade impressionante de negar fatos (de um lado e de outro e principalmente da imprensa), os admiradores do Rodrigo Hilbert e do PT ("tá, a gente sabia que algumas pessoas faziam assim, mas até ele?") e estamos diante de um público estupefato consigo mesmo. Espero que a "surpresa" passe e comece um debate sério sobre os temas: é possível fazer política de maneira diferente? é um problema de desenho institucional ou de mau-caratismo dos políticos que estão aí? a demonização da política e da classe política agrava ou resolve a questão? devemos esperar um animal morrer sozinho para só então comermos sua carne? O que não dá é apenas protestar em homenagem à pobre ovelha sacrificada em um programa de televisão e esquecer de todos os outros animais que são mortos todos os dias para nos alimentar. Ou achar que é só prender os "petralhas", tirar o PT do poder, e tudo vai melhorar. Não vai: vai continuar como antes, só que isso não estará sendo esfregado na nossa cara. Podemos voltar a ignorar os fatos ou virar vegetariano e entrar na política para fazer diferente. Para (re)fundar a República, apenas a segunda alternativa é válida".

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