De onde venho, não saberia dizê-lo: nos templos, permaneço
sem crença; nas cidades, sem ardor; junto a meus semelhantes, sem curiosidade;
sobre a terra, sem certezas. Dê-me um desejo preciso e destruirei o mundo.
Livre-me desta vergonha dos atos que me faz interpretar, cada manhã, a comédia
da ressurreição e cada tarde a do enterro; no intervalo, nada além deste
suplício no sudário do tédio... Sonho com querer e tudo o que quero me parece
sem valor. Como um vândalo corroído pela melancolia, dirijo-me sem fim, eu sem
eu, na direção de já não sei que canto... para descobrir um deus abandonado, um
deus que fosse ele próprio ateu, e adormecer à sombra de suas últimas dúvidas e
de seus últimos milagres.
(Emil Cioran, "Breviário de Decomposição")
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