“Existem alturas da
alma, de onde o mesmo a tragédia deixa de ser trágica; e, se as dores do mundo
fossem juntadas numa só, quem poderia ousar dizer que a visão dela nos iria
necessariamente seduzir e obrigar a compaixão, e desse modo à compaixão, e
desse modo à duplicação da dor?… O que serve de alimento ou de bálsamo para o
tipo superior de homem, deve ser quase veneno para um tipo bem diverso e menor.
As virtudes de um homem vulgar talvez significassem fraqueza e vício num
filósofo; é possível que um homem de alta linhagem, acontecendo ele degenerar e
sucumbir, só então adquirisse as qualidades que o levariam a ser venerado como
um santo, no mundo inferior a que teria descido. Há livros que têm valor
inverso para a alma e a saúde, a depender de quem os utiliza, se uma alma
ignóbil, uma baixa força vital, ou uma superior e mais potente; no primeiro
caso são livros perigosos, desagregadores, dissolventes, no outro são gritos de
arauto, que incitam os mais valentes a mostrar o seu valor. Livros de todo
mundo sempre são livros malcheirosos: o odor da gente pequena adere a eles. Ali
onde o povo come e bebe, e mesmo onde venera, o ar costuma feder. Não se deve
frequentar igrejas, quando se deseja respirar ar puro.”
— Friedrich Nietzsche.
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