No prefácio para “Diário do Exílio”, de Trotski, Alfred
Rosmer escreve sobre as pressões desencadeadas sobre o governo
radical-socialista francês, em 1934:
“Nos primeiros de 1934, o pretexto de uma agitação contra o
ministério radical no poder à época, e contra o parlamentarismo em geral, fora
fornecido por um escândalo financeiro no qual alguns políticos estavam mais ou
menos comprometidos. Esse tipo de escândalo estoura de tempo em tempo em todos
os países e sob todos os regimes (na Inglaterra, até Lloyd George...) e a
guerra e o após-guerra eram tempos favoráveis para essa eclosão. Durante um mês
inteiro, ruidosas manifestações desenrolaram-se todas as noites nos arredores
do Palácio Bourbon. Juventudes patrióticas fascistas, camelôs da Ação francesa
monarquista, Cruz de Fogo, associação nacionalista de antigos combatentes,
ocupavam ruas e avenidas aos gritos de “Abaixo os ladrões!”. A polícia, sob as
ordens do prefeito Chiappe, cúmplice dos manifestantes, os protegia. Houve
muitos, entre aqueles defensores da honestidade, que tinham recebido subsídios
do escroque (o inquérito posterior revelou que o próprio distribuíra dois
milhões, à “grande” e à “pequena” imprensa, jornais de esquerda e de direita
estavam na folha de pagamento); essas demonstrações repetidas encontraram eco
naquela parte do povo que na França é sempre possível arrolar sob a bandeira do
anti-parlamentarismo (...)”
As diferenças são muitas, mas as semelhanças são assombrosas.
Roberto elias Salomão
Anisio Garcez Homem_____________________ Mas este é um lado da equação Salomão o
outro é: em "Aonde Vai a França" Trotsky escreve um capítulo onde
responde à seguinte questão: "é inevitável a passagem das classes médias
ao campo do fascismo?". E ele responde que não, mas tudo depende do
Partido da classe trabalhadora se desembaraçar da aliança e do jogo parlamentar
tutelado com o partido radical (burguês) que não aponta nenhuma saída positiva
às massas e construir uma aliança política real com as classes médias em torno de
um programa de verdadeiras mudanças sociais. É um dilema que temos para o PT
hoje: podemos ganhar os setores médios da sociedade, muitos aliás que já
votaram e confiaram no PT, desde que o partido lhes ofereça uma séria política
anti-imperialista e de salvaguarda dos interesses sociais diante das investidas
regressivas do mercado.
Roberto Elias Salomão___________________ É evidente que à distância de um
continente, um hemisfério e 80 anos, as diferenças sobressaem. Mas o que quis
ressaltar foi, de um lado, a utilização do mesmo discurso moralista de
preferência da burguesia e, de outro, a paralisia do governo.
Anisio Garcez Homem____________________ Salomão, vc tem razão a respeito do
discurso moralista, não quis contestar isso, apenas acrescentei que há um
outra parte da equação e que diz respeito ao papel do partido e das
organizações dos trabalhadores em relação à classe média para não deixar
prosperar, no desespero, este discurso manipulado pelo capital financeiro, que
é quem financia e incentiva o ódio contra a classe trabalhadora insuflando o
fascismo.
Edison Taques___________________________ Em minha humilde opinião, o "partido da
classe trabalhadora" já escolheu seu caminho.
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