Henrique Bon __________________Longe de ser um expurgo, a migração suíça de 1819, que
resultaria na fundação de Nova Friburgo, representou a resposta radical de uma
população, acicatada ainda pelos ecos tardios das guerras napoleônicas e pela
crise sócio-econômica dos anos de 1816 e 1817. Desta forma, o contingente que
tomaria o rumo do Brasil era heterogêneo a ponto de reunir nos mesmos barcos,
aristocratas, burgueses, trabalhadores braçais e mendicantes. Há, contudo, um
aspecto obscuro na motivação de emigrar experimentada por alguns e para estes a
viagem não teria ocorrido sem a intervenção dos governos cantonais. É o caso
principalmente dos que, por comportamento, condição ou pobreza extrema, feriam
a moral burguesa.Debrucemo-nos, pois, sobre o drama de Constantin e Georges
Gachet, de 11 e 7 anos respectivamente, pequenos imigrantes representativos do
que de mais perverso terá ocorrido no contexto migratório; a exclusão
compulsória dos meios comunais, de menores cuja existência implicasse em
constrangimentos de ordem social ou ônus financeiro. Órfãos e ilegítimos,
seriam eles instados a seguir para o Brasil, sob a guarda do colono Joseph
Castella, este casado com Marie Gachet, irmã ou prima dos menores.Pobres, assim como seus tutores, enfrentariam os pequenos
sérias adversidades no caminho, o que resultaria na morte do menor deles, antes
mesmo do embarque, no litoral holandês. Quanto a Constantin, ainda que resistisse
a penosa travessia, já em 31 de setembro de 1820, menos de um ano após a
chegada, encontraria este imigrante compulsório, túmulo em Nova Friburgo.
Marcio Seixas_____________________ Que se observe que se fertilidade é um
indicativo de melhora de condições materiais, famílias suíças daqui tem mais de
10.000 descendentes enquanto resistem apenas uns 400 na Suíça!
Henrique Bon______________________ Há que se considerar também, Marcio, que a
melhora de condições sócio-econômicas de um povo, tradicionalmente resulta na
queda de natalidade.
Marcio Seixas_______________________ mas nem um cenário diferente do século XIX,
uma sociedade agrária, com frente produtiva e predatória em expansão e com
mão-de-obra reduzida, a prole aumentada e o acesso à terra que foi muito
exclusivo de grupos no Império trouxesse aumento populacional seletivo nos
grupos mais privilegiados. Em outras palavras, o acesso à terra e aos benesses
ligados à ela, garantiram no Brasil uma ampliação da natalidade enquanto numa
Suiça em processo de industrialização traria uma redução dessa.
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