'Para além da
“cobertura adversária” que desqualifica permanentemente a política e os
políticos, identificada pela socióloga Maria do Carmo Campello de Souza há
quase trinta anos, a grande mídia brasileira historicamente atribui a si mesma
o duplo papel de formadora e de representante da opinião pública. Ela
reivindica a legitimidade que disfarçadamente não reconhece nas instituições
políticas tradicionais da democracia representativa, vale dizer, políticos,
partidos políticos, parlamentos nos seus diferentes níveis e, no limite, no
presidente da República, eleito dentro das regras do Estado de Direito.
O exemplo emblemático
desse comportamento foi a “rede da democracia”, movimento liderado pelo Globo,
Diários Associados e Jornal do Brasil que antecedeu ao golpe de 1964 (cf. A
Rede da Democracia, Aloysio Castelo de Carvalho, Editora da UFF/Nitpress,
2010). As “entrevistas” de 2014 parecem, todavia, indicar um passo adiante
neste comportamento histórico.
Para além da
“cobertura adversária” e de formadora/representante da opinião pública, a TV
Globo se apresenta como um superpoder, que paira soberano acima dos poderes
institucionalizados pelo processo eleitoral da democracia representativa.
Poder soberano ao qual
todos os outros poderes – institucionalizados ou não – devem,
incondicionalmente, explicações públicas.
O que representa
simbolicamente o enfrentamento público assimétrico de dois jornalistas com
candidatos ao mais alto cargo da democracia brasileira, inclusive com a
candidata/presidente da República?
Quais grupos se
fortalecem com o enfraquecimento e o desafio público a candidatos à Presidência
da República e a ocupantes das mais altas posições na hierarquia das
instituições democráticas?
Se uma candidata, no
exercício da Presidência da República, pode ser destratada de forma agressiva e
descortês publicamente em uma rede de televisão, por que não pode fazer o mesmo
um cidadão comum?'
--por Venício Lima,
via Observatório da Imprensa / Viomundo
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