( Senhor, dá-me a faculdade de jamais rezar, poupa-me a
insanidade de toda adoração, afasta de mim essa tentação de amor que me
entregaria para sempre a Ti. Que o vazio se estenda entre o meu coração e o
céu! Não desejo ver meus desertos povoados com Tua presença, minhas noites
tiranizadas por Tua luz, minhas Sibérias fundidas sob Teu sol. Mais solitário
do que Tu, quero minhas mãos puras, ao contrário das Tuas que sujaram-se para
sempre ao modelar a terra e ao misturar-se nos assuntos do mundo. Só peço à Tua
estúpida onipotência respeito para minha solidão e meus tormentos. Não tenho
nada a fazer com Tuas palavras. Conceda-me o milagre recolhido antes do
primeiro instante, a paz que Tu não pudeste tolerar e que Te incitou a abrir
uma brecha no nada para inaugurar esta feira dos tempos, e para condenar-me
assim ao universo, à humilhação e à vergonha de existir.)
Cioran
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