"É um silêncio que não dorme: é insone: imóvel mas
insone; e sem fantasmas. É terrível – sem nenhum fantasma. Inútil querer
povoá-lo com a possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina
que se abra e diga alguma coisa. Ele é vazio e sem promessa. Se ao menos
houvesse o vento. Vento é ira, ira é vida. Ou neve, que é muda, mas deixa
rastro – tudo embranquece, as crianças riem, os passos rangem e marcam. Há uma
continuidade que é a vida. Mas este silêncio não deixa provas. Não se pode
falar do silêncio como se fala da neve."
- Clarice Lispector, em “Onde Estivestes de Noite”, 1998.
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