"É na poesia que se dá a múltipla ação guerrilheira do
Tet, quando, por baixo, o ícone invade o corpo verbal, baratinando-o com som e
música, fala e cor, tato e espaço e impedindo-o de discursar e de afirmar o que
quer que seja fora de si mesmo. A arte, ou melhor, o ícone, é aquele riso
rabelaisiano da praça pública que desierarquisa todas as formas, atraindo-as
para os baixos corporais da linguagem. Não pode pôr-se a serviço de uma
revolução, porque é a revolução; menos ainda a serviço do poder, pois é
antipoder por sua própria natureza: luta em seu próprio seio, perpetuamente,
contra as hipotaxes finalistas. É por isso que a arte não pode fazer discurso
ideológico. Não apenas porque não disponha de predicação lógica, mas por ser um
mundo naturalmente opositivo e sublevado contra o velho tirano logo-ideológico
que conhece desde e pela raiz, já que dá, a ele, nascimento contínuo... Esta, a
verdadeira resistência poética." ::: Décio Pignatari
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