domingo, 7 de abril de 2013

RENÉ CHAR - DOIS POEMAS





FIZESTE BEM EM PARTIR, ARTHUR RIMBAUD!

Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud! Teus dezoito anos refratários à amizade, à malevolência, à bobeira dos poetas de Paris, assim como ao zunzum de abelha estéril de tua família ardenesa um pouco doída, fizeste bem espalhá-los aos quatro ventos, em jogá-los sob a lâmina de sua guilhotina precoce. Tiveste razão em abandonar o bulevar dos preguiçosos, os botequins, os mija-liras, pelo inferno das feras, pelo comércio dos espertos e o bom-dia dos simples.

Este impulso absurdo do corpo e da alma, esta bala de canhão que explode seu alvo, sim, é isso mesmo a vida de um homem! Não se pode, indefinidamente, saindo da infância, estrangular seu próximo. Se os vulcões mudam pouco de lugar, sua lava percorre o grande vazio do mundo levando virtudes que cantam em suas feridas.

Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud! Ainda há quem creia, sem provas, que contigo a felicidade é possível.

TU AS BIEN FAIT DE PARTIR, ARTHUR RIMBAUD!
Tu as bien fait de partir, Arthur Rimbaud! Tes dix-huit ans réfractaires à l'amitié, à la malveillance, à la sottise des poètes de Paris ainsi qu'au ronronnement d'abeille stérile de ta famille ardennaise un peu folle, tu as bien fait de
les éparpiller aux vents du large, de les jeter sous le couteau de leur précoce guillotine. Tu as eu raison d'abandonner le boulevard des paresseux, les estaminets des pisse-lyres, pour
l'enfer des bêtes, pour le commerce des rusés et le bonjour des simples.

Cet élan absurde du corps et de l'âme, ce boulet de canon qui atteint sa cible en la faisant éclater, oui, c'est bien là la vie d'un homme! On ne peut pas, au sortir de l'enfance, indéfiniment étrangler son prochain. Si les volcans changent peu de place, leur lave parcourt le grand vide du monde et lui apporte des vertus qui chantent dans ses plaies.

Tu as bien fait de partir, Arthur Rimbaud! Nous sommes quelques-uns à croire sans preuve le bonheur possible avec toi.

De Fureur et Mystère (1962)



FREQÜÊNCIA

O dia todo servindo ao homem, o ferro aplicou o torso sobre a lama inflamada da forja. Com o tempo, as curvas gêmeas de suas pernas rebentaram a fina noite do metal espremido sob a terra.

Sem pressa, o homem deixa o trabalho. Mergulha uma última vez os braços no flanco sombrio do rio. Agarrará enfim o bordão gelado das algas?

FRÉQUENCE

Tout le jour, assistant l'homme, le fer a appliqué son torse sur la boue enflammée de la forge. A la longue, leus jarrets jumeaux ont fait éclater la mince nuit du métal à la étroit sous la terre.

L'homme sans se hâter quitte le travail. Il plonge une dernière fois ses bras dans le flanc assombri de la rivière. Saura-t-il enfin saisir le bourdon glacé des algues?

De Fureur et Mystère (1962)

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