Os ecologistas e outros irresponsáveis propõem que por um
dia, no dia de hoje, os automóveis desapareçam do mundo.
Um dias sem automóveis? E se o exemplo se contagia e esse
dia passa a ser todos os dias?
Que Deus não permita, e o Diabo tampouco.
Os hospitais e os cemitérios perderiam sua clientela mais
numerosa.
As ruas se encheriam de ciclistas ridículos e patéticos
pedestres.
Os pulmões já não poderiam respirar o mais saboroso dos
venenos.
As pernas, que tinham se esquecido de caminhar, tropeçariam
em qualquer pedrinha.
O silëncio aturdiria os ouvidos.
As autopistas seriam desertos deprimentes.
As rádios, as televisões, as revistas e os jornais perderiam
seus mais generosos anunciantes.
Os países petroleiros ficariam condenados à miséria.
O milho e a cana-de-açucar, agora transformados em comida de
automóveis, regressariam ao humilde prato humano.
Galeano - 22 de
setembro
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