segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

AMANHECER

Meu amor, nos vapores dum café

ao amanhecer, meu amor que inverno

longo e que calafrio estar à tua espera! Cá

aonde o mármore do sangue é gelo, e sabe

a frescura até o olho, agora no ermo

ruído além da geada eu que elétrico

ouço, abrindo e fechando eternamente

as portas desertas?… Amor, está parado

o meu pulso: e se o copo no fragor

subtil tem um tremor nos dentes, talvez

seja o eco dessas rodas. Mas tu, amor,

não me digas que agora em vez de ti está o sol

brotando, não me digas que daquelas portas,

eu cá, com teus passos, já estou a aguardar pela morte.

Giorgio Caproni – Poesia & Lda.






(de «Il passaggio d’Enea», 1956)

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