A utopia capitalista realizou-se no tempo dos seus decisores. Como não hão-de eles regozijar-se disso? É uma satisfação justificada, humana. Demasiado? O problema não é deles, que se limitam aos negócios. De resto, nem têm tempo para se deter no assunto, demasiado preocupados que estão em obter sempre cada vez mais lucro, o que, na sua perspectiva, faça-se-lhes justiça, tem sobretudo e mais exactamente o sentido de “sucesso”.
O seu mundo é apaixonante, têm dele uma visão inebriante e que, graças à sua redução despótica, funciona. Funesto, nem por isso deixa de ter sentido para quem nele participa. Mas as suas lógicas, a sua inteligência segura conduzem fatalmente ao desastre da sua hegemonia. Quaisquer que sejam as demonstrações sabiamente hipócritas, o seu poderio está posto em proveito próprio, em proveito dessa arrogância que faz considerar bom para todos aquilo que a si dá proveito. Natural é, pois, que um mundo subalterno seja sacrificado.
Estão agora de novo cheios de razão, e é seu dever explorar uma situação e uma época abençoadas, as nossas, em que nenhuma teoria, nenhum grupo credível, nenhuma forma de pensamento, nenhuma acção séria já se lhes opõem.
Isso dá-nos oportunidade de assistir a essas obras-primas de estratégia persuasiva que conseguem convencer-nos de que as políticas conducentes ou que aceleram a bancarrota social e a pauperização em detrimento da imensa maioria, não só são as únicas possíveis, como também as únicas desejáveis, em primeiro lugar... para esta maioria. [...]»
Viviane Forrester
[in O Horror Económico: Lisboa, trad. Ana Barradas, Terramar, 1997]
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