Umberto Eco, como se nasce e como se morre de fascismo
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Cultura Pop. Na dobra do óbvio, a emergência de um mundo
complexo
Edição: 545
17 Janeiro 2018
O fascismo é como a tuberculose. A pessoa tem uma aparência
saudável e, de repente, começa a expelir sangue. Isso é o que sabe e o que
conta Umberto Eco em Il Fascismo eterno - La nave di Teseo, (O Fascismo Eterno,
O Navio de Teseu), utilizando materiais de um evento que organizamos juntos na
Columbia University.
Naquela época (1995) eu estava ensinando na universidade e
era o diretor do Instituto Italiano de Cultura. A intenção era celebrar pela
primeira vez, publicamente, a data de 25 de abril nos Estados Unidos (Festa da
Libertação, ndt). Os protagonistas eram, além de Eco, Giorgio Strehler, o
lendário diretor de Brecht no Piccolo Teatro de Milão e Lucianio Rebay,
comandante da resistência na juventude e professor de poesia na Universidade de
Columbia pelo resto de sua vida. Strehler e Rebay falaram sobre resistência e
prisões, traidores e heróis na Milão do último fascismo.
A reportagem é de De Furio Colombo, publicada por Fatto
Quotidiano, 15-01-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
O fascismo é como a tuberculose. A pessoa tem uma aparência
saudável e, de repente, começa a expelir sangue. Isso é o que sabe e o que
conta Umberto Eco em Il Fascismo eterno - La nave di Teseo
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Eco narra neste livro como se nasce e como se morre de
fascismo. Eis aqui o começo: "Em 1942, aos 10 anos, ganhei um prêmio
respondendo a uma pergunta ‘Deveríamos morrer pela glória de Mussolini?’. Minha
resposta foi sim. Eu era um menino esperto".
Eco escolheu um extraordinário fragmento de autobiografia
que, no final, você percebe, torna-se toda a sua autobiografia, claro que do
ponto de vista moral e intelectual: o que entende uma criança de fascismo? Que
legado fica para um adulto depois de um encontro tão assustador? E como você
pode se comprometer para sempre em defender a liberdade, quando percebe que o
pesadelo não acaba?
"O fascismo cresce e busca consenso explorando e
exacerbando o medo natural de diferença”
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Umberto Eco não viu os fascistas de Como, que entraram em
uma casa particular, que circundaram um grupo de voluntários pró-migrantes para
ler sua mensagem. Mas era escritor e filósofo, e sabia que aquele perigo estava
por vir. "Na Itália, algumas pessoas se questionam se a resistência teve
um impacto militar. Para a minha geração a questão era irrelevante: logo
percebemos o significado moral e psicológico da Resistência", Eco escreve
em seu livro, que é imprescindível ter e difundir.
"Que este seja o nosso lema: jamais esquecer”
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Mas reflete sobre essas afirmações, escrevendo no final:
"O fascismo cresce e busca consenso explorando e exacerbando o medo
natural de diferença. O primeiro apelo de um movimento fascista ou
prematuramente fascista é contra os intrusos. Todo fascismo, portanto, é
racista por definição".
Essas poucas páginas são um dos livros mais belos e mais
importantes de Eco. Ele termina com uma maravilhosa poesia de Fortini ("No
parapeito da ponte / as cabeças dos enforcados ....") e com sua
advertência: "Que este seja o nosso lema: jamais esquecer".
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