" Essa 'reforma da Previdência' (sempre
entre aspas porque não é reforma nem será Previdência) é cruel sob vários
aspectos, mas um deles me chama mais atenção: sob a falsa aparência de que as
novas regras correspondem a critérios técnicos, cálculos precisos e medidas
urgentes para salvar, no presente, o futuro da Previdência, vende-se a ilusão
de que as instituições deste país (todo o Estado e, dentro dele, o INSS)
estarão de pé, sadias e cumprindo os compromissos hoje assumidos daqui a 20,
40, 60 anos. Quem dorme nesse papo? Eu, por exemplo, se der tudo certo no caminho,
completarei 65 anos em 3 de dezembro de 2041. Se der tudo muito certo mesmo,
daqui até lá terei contribuído cerca de 45 anos para minha aposentadoria. Eu
não consigo imaginar como estarei aos 65 anos, mas não ligo para isso. Perco o
sono, no entanto, ao pensar sobre o que chamaremos de 'país' e 'mundo' em 2041.
Na verdade, já me desespera pensar sobre que país e que mundo teremos em 2020
(ou hoje mesmo!). É um luxo sonhar com 2041, fazer planos daqui até lá, no país
em que não se pode sequer dormir -- literal e figurativamente. O atual
'governo' nos mostra, em todos os seus atos, que estamos cercados pela morte
(dos agrotóxicos às armas de fogo nas mãos dos nossos vizinhos, da truculência
oficial ao agravamento das injustiças sociais). É o último 'governo' que pode
prometer algo (bom) para o nosso futuro, nem para hoje ou amanhã."
Tarso de Melo
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