Não existe o infinito:
o infinito é a surpresa dos
limites.
Alguém constata sua impotência
e logo a prolonga para além da
imagem, na ideia,
e nasce o infinito.
O infinito é a dor
da razão que assalta nosso
corpo.
Não existe o infinito, mas sim
o instante:
aberto, atemporal, intenso,
dilatado, sólido;
nele, um gesto se faz eterno.
Um gesto é um trajeto e uma
encruzilhada,
um estuário, um delta de corpos
que confluem,
mais que trajeto um ponto, um
estalido,
um gesto não é início nem fim
de nada,
não há vontade no gesto,
somente impacto;
um gesto não se faz: acontece.
E quando algo acontece, não há
escapatória:
todo olhar tem lugar num
lampejo,
toda voz é um signo, toda
palavra forma
parte do mesmo texto.
Chantal Maillard, trad. Adriana
Lisboa
*descoberta numa publicação da
poeta Raquel Gaio
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