segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Não existe o infinito:


Não existe o infinito:
o infinito é a surpresa dos limites.
Alguém constata sua impotência
e logo a prolonga para além da imagem, na ideia,
e nasce o infinito.
O infinito é a dor
da razão que assalta nosso corpo.
Não existe o infinito, mas sim o instante:
aberto, atemporal, intenso, dilatado, sólido;
nele, um gesto se faz eterno.
Um gesto é um trajeto e uma encruzilhada,
um estuário, um delta de corpos que confluem,
mais que trajeto um ponto, um estalido,
um gesto não é início nem fim de nada,
não há vontade no gesto, somente impacto;
um gesto não se faz: acontece.
E quando algo acontece, não há escapatória:
todo olhar tem lugar num lampejo,
toda voz é um signo, toda palavra forma
parte do mesmo texto.

Chantal Maillard, trad. Adriana Lisboa

*descoberta numa publicação da poeta Raquel Gaio



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