"A poesia é um exercício
para condenados. Os poetas transitam pela rua com o rosto e os gestos dos
demais transeuntes e só assim sobrevivem; porque se se vestissem com o traje de
amianto e fósforo que lhes corresponde, as pessoas fugiriam a seu passo e o
pavor reinaria ao seu redor como uma luminosa coroa justiceira. Os poetas
entendem esta situação e aceitam a penosa carga deste mimetismo humilhante. Mas
resta uma unidade onde esta condição de vida assinalada pelos sete dedos da
lucidez, da beleza, da ira, da intemporalidade, do sonho, da morte e do amor, é
inocultável. Esta zona a constituem as palavras do poeta, sua visão e seu trato
com os demais condenados.
Alvaro Mutis citado por
Floriano Martins
in O Hábito do abismo
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