segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019


"A poesia é um exercício para condenados. Os poetas transitam pela rua com o rosto e os gestos dos demais transeuntes e só assim sobrevivem; porque se se vestissem com o traje de amianto e fósforo que lhes corresponde, as pessoas fugiriam a seu passo e o pavor reinaria ao seu redor como uma luminosa coroa justiceira. Os poetas entendem esta situação e aceitam a penosa carga deste mimetismo humilhante. Mas resta uma unidade onde esta condição de vida assinalada pelos sete dedos da lucidez, da beleza, da ira, da intemporalidade, do sonho, da morte e do amor, é inocultável. Esta zona a constituem as palavras do poeta, sua visão e seu trato com os demais condenados.

Alvaro Mutis citado por Floriano Martins

in O Hábito do abismo


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