"A forma como a lei é aplicada é o mais importante
termômetro do autoritarismo e do golpismo. Na transição para qualquer ditadura,
seja no fascismo italiano, no nazismo alemão, em ditaduras militares
cucarachas, chama a atenção a continuidade dos mesmos juízes, da mesma
magistratura, dos mesmos tribunais, das mesmas leis, agora personificadas e
aplicadas por novas caras de juristas vingadores e oportunistas associados aos
novos regimes golpistas autoritários. Como a história ensina, as democracias
sempre morrem primeiro pela aplicação instrumental e golpista das leis
existentes, retorcidas e desfiguradas para atenderem aos interesses
autoritários dos novos regimes de exceção. Só depois de instalado o regime de
exceção e depois a ditadura é que podem pensar em algumas mudanças
institucionais, caso precisem posteriormente. No caso da Alemanha Nazista, o
arquétipo do jurista autoritário como membro orgânico do partido político de
direita, nem precisaram mudar a Constituição porque os magistrados e os
tribunais já interpretavam e aplicavam as leis como queriam para perseguir
opositores e adversários do regime."
Ricardo Costa de Oliveira
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