As questões sociais e culturais são fundamentais para
entendermos a lógica dos votos. Lembro do choque cultural quando entrei pela
primeira vez em uma mesquita islâmica durante uma viagem a Istambul. Também
lembro da única vez em que eu entrei em uma igreja evangélica em um casamento
de uma pessoa distante relacionada com a minha esposa. Para falar a verdade eu
nunca assisti um programa do Ratinho por mais de um minuto e nem nenhum
programa popular de violência e assuntos policias inteiro. Os meus canais de
rádio e de mídias são diferentes dos radialistas, jornalistas e atores eleitos
na lista dos mais votados. Surpreendo-me quando descubro cantores, artistas,
atores, páginas, circuitos sociais e políticos na internet, nas redes sociais,
com centenas de milhares de curtidas nas quais eu nem sabia que existiam. Há
vídeos e clips de fake news no WhatsApp que eu quase não consigo enxergar e que
tem gigantescas visualizações. Para entender a lógica cultural e política dos
estranhos mais votados é preciso entender outros mundos e circuitos sociais
completamente diferentes e distantes dos nossos. Da mesma maneira temos muitas
pessoas que nunca tiveram a oportunidade de frequentar uma instituição
educacional crítica e de qualidade na sua vida, que nunca entraram e ficaram
mais do que cinco minutos em uma biblioteca ou livraria, que nunca leram livros
completos com mais densidade e complexidade, enfim, vítimas de uma sociedade
extremamente desigual, violenta e alienante para a grande maioria. Os pontos de
contato devem passar pelas ameaças aos direitos ainda existentes nas questões
do mundo do trabalho, na regulação, salário e nos direitos trabalhistas, na
luta pela educação pública, gratuita e de qualidade, na luta pela saúde social
e coletiva, na previdência e ter direitos de aposentadoria, ser contra as
privatizações do que é social como agenda dos lucros privados dos mais ricos, a
necessidade do debate sobre políticas sociais e tributárias para a distribuição
de renda, saber que a verdadeira segurança é a social da cidadania, tudo de
modo a alertar e conscientizar as pessoas mais simples e desinformadas sobre o
grave desastre que os candidatos de extrema direita e os mais ricos trarão para
a imensa maioria.
RCO
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