O cão puxa para a frente e o homem para trás
É uma luta tenaz
O cão re-intenta
O homem agüenta
O cão repuxa
O homem quer matar o cão
Mas não pode
Há sempre uma testemunha de cão na proximidade
O cão ladra uma ordem
O homem não ouve
O cão re-ladra
O homem pragueja por entre os bigodes cozidos
O cão enrabicha os pés do ancião
E com ar de quem não quer a coisa
Olhando para um lado que não é lado algum
Mija-lhe nos sapatos abertos e sem meia
O homem re-pragueja e o cão re-ladra
O homem quer re-matar o cão
Mas há sempre uma testemunha de cão que espreita
O homem continua com o cão na ponta da corda
Sem ter tempo de tirar uma fumaça dum três-vintes moderno
O cão puxa pelo homem e o homem puxa pelo cão
Entre os dois só uma distância, uma corda que era pequena
quando saíram de casa
Uma corda que se esticou, esticou; e tanto esticou e re-esticou
Que o homem não viu mais cão no fim da corda
O cão tinha virado á esquerda e o homem à direita
Um carro tinha cortado a agulha magnética
Ouvia-se ao longe um cão chorar com saudades do dono
Via-se de perto o velhote finalmente tirar uma fumaceira do
cigarro diário; e rir-se dos estragos do seu estranho cão
Entretanto uma moto com alguém em cima matou o cão
Os bombeiros levaram o ex-cão para o cemitério dos cães.
Alguém seguiu a corda que estava no pescoço do cão; e
encontraram o velho que se extasiava com a mínima nuvem de nicotina
Um policia levou o ancião para o asilo dos velhotes
Ele seguiu a autoridade mas pediu que deixa-se levar a corda
na mão
O policia perguntou o porquê!
O velho retorquiu um, porque não!
Mesmo assim foi para o asilo-prisão
No dia seguinte foi encontrado pendurado na corda
E na ponta estava o cão silenciosamente olhando para o dono
Era um jovem cão que amou um velho dono
Que partiu para a eternidade com ele
Como se fosse um porta-chaves.
Antanho Esteve Calado
Nenhum comentário:
Postar um comentário