O golpe de 2016 e o golpe de 1964 também podem ser
explicados pela genealogia institucional da Faculdade de Direito da USP. Sem
uma matriz de pensamento político e jurídico golpista, ainda que dissimulada e
mesmo abertamente tramada nos bastidores, uma cultura golpista não pode surgir
e prosperar. Michel Temer não apresenta genealogia familiar política golpista e
sim uma genealogia institucional política golpista, uma genealogia em parte
derivada da histórica Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, do
Largo São Francisco – a Sanfran. O golpista Temer foi apenas mais um dos
golpistas históricos daquela instituição, ao lado de gente como Luís Antônio da
Gama e Silva, reitor da USP, ministro, redator e locutor do ditatorial Ato
Institucional n° 5, em dezembro de 1968. Um dos primeiros cronistas daquele
mundo jurídico, nas Arcadas, foi o próprio escritor Álvares de Azevedo, um
mundo social desenhado pela pilantragem social e pelo golpismo político. A
faculdade foi criada junto com a Independência e o Estado Nacional Imperial.
Dos seus professores, diretores e pensadores resultam caminhos por algumas das
mais profundas correntezas das famílias da classe dominante tradicional
brasileira, situação observada em qualquer outra instituição brasileira tradicional
de direito, muitas vezes aliando as leis, os privilégios, as falcatruas
legalizadas, com o golpismo político, pelo menos uma vez a cada geração. Como
pensar alguns dos egressos da Sanfran como Aloysio Nunes, Alexandre de Moraes,
Dias Toffoli, Luciano Huck e o próprio Temer sem reconhecer um padrão político,
uma mentalidade baixa, certo “habitus de classe” dentro do Brasil golpista,
reprodutor dos privilégios e desigualdades sociais na nossa atual lama e
miséria política ? Espero que o novo diretor da Faculdade, eleito há poucos
dias, Floriano Peixoto de Azevedo Marques Neto, possa superar um pouco da
cultura político-jurídica do golpismo naquele ambiente. Os diretores
representam, em boa parte, outra aula sobre a genealogia de famílias antigas no
Brasil. Eu sou parente do novo diretor pelo Capitão-Mor Manoel de Azevedo
Marques, meu 6° avô e pela parentela do Visconde de Guaratinguetá, pelo ramo
Oliveira Borges, de São Francisco do Sul. Um dos mais importantes diretores
daquela faculdade foi o meu 4° tio-avô, Carlos Carneiro de Campos, 3° Visconde
de Caravelas, de modo que não podemos pensar e entender essa instituição, sua
cultura política, suas mazelas, que são as mazelas estatais do Brasil, sem o
conhecimento crítico das genealogias.
RCO
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