O menino cantava; sua mãe, no leito, agonizava,
Extenuada, a sua fronte na sombra pendia;
E sobre ela, a morte numa nuvem vagueava;
E eu ouvia a canção e escutava a agonia.
Tinha cinco anos o menino, e junto à janela,
Um claro som de riso e de jogos se erguia;
E a mãe, ao lado da criança doce e bela
Que todo o dia cantava, toda noite tossia,
A mãe sob as lajes do claustro foi dormir;
E o menino voltou a cantar…
A dor é um fruto que Deus não faz surgir
Num ramo frágil demais para o suportar.
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L’enfance
L’enfant
chantait; la mère au lit, exténuée,
Agonisait,
beau front dans l’ombre se penchant;
La mort
au-dessus d’elle errait dans la nuée;
Et j’écoutais ce râle, et j’entendais ce chant.
L’enfant avait cinq ans, et près de la fenêtre
Ses rires
et ses jeux faisaient un charmant bruit;
Et la mère, à côté de ce pauvre doux être
Qui
chantait tout le jour, toussait toute la nuit.
La mère
alla dormir sous les dalles du cloître;
Et le petit
enfant se remit à chanter… —
La douleur
est un fruit ; Dieu ne le fait pas croître
Sur la branche trop faible encor pour le porter.
(Paris, Janeiro de 1835).
– Victor Hugo, em “Poemas: Victor Hugo”. [seleção e tradução
Manuela Parreira da Silva]. Lisboa: Editora Assirio & Alvim, 2002.
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