A tolerância a todas as religiões, prevista pelo edito de 17
de junho de 1773, na Rússia, é a imagem de uma monarquia esclarecida e moderna.
Catarina II, a Grande, considerada símbolo do despotismo
esclarecido
Catarina 2ª influenciou os rumos da história russa como
ninguém. Levando à frente a política expansionista de Pedro, o Grande, esta
filha de príncipes alemães transformou a Rússia na maior potência da Europa
Oriental. Influenciada pelos pensadores iluministas da Revolução Francesa,
Catarina, "a déspota esclarecida", conduziu uma série de reformas na
política interna russa.
A 17 de junho de 1773, tornou público seu Edito da
Tolerância, que instituiu a liberdade religiosa. Leitora de Montesquieu e
Voltaire, a monarca procurava passar uma imagem moderna. Catarina reformou o
sistema de educação, dinamizou a vida cultural e atraiu colonos alemães para a
região próxima ao Rio Volga. Durante seu reinado, São Petersburgo
transformou-se numa das cidades mais bonitas da Europa.
A imperatriz ficou conhecida pela sua perspicácia política e
extrema ganância pelo poder. Vários de seus amantes, pertencentes aos círculos
nobres russos, tentaram influenciá-la. Em 1762, Catarina conspirou contra seu
próprio marido, Pedro 3º, tendo assumido o trono a seguir. O assassinato do
czar não foi ordenado por ela, embora nada conste que Catarina tenha feito algo
para impedir o fato. Após a morte de Pedro, nenhum obstáculo impediu o domínio
absoluto da monarca.
Discípula dos iluministas franceses
Catarina conduziu duas guerras vitoriosas contra o Império
Otomano e anexou parte da Polônia à Rússia, que cresceu assustadoramente
durante seu reinado.
Ao contrário do que pregava sua imagem de discípula dos
iluministas franceses, Catarina governou com punhos de ferro. Apesar de alguns
sinais de modernização, suas reformas não trouxeram mudanças essenciais para o
conjunto da sociedade russa. Sob seu domínio, as desigualdades sociais
tornaram-se ainda mais gritantes.
O regime de servidão foi expandido até a Ucrânia e a
política oficial deixou os servos à mercê da nobreza. A rebelião dos
agricultores, em protesto contra as condições de miséria absoluta em que viviam,
foi sufocada por Catarina no ano de 1774, à custa de muito sangue. O líder da
revolta foi executado em praça pública. Além disso, os propósitos da czarina de
descentralizar a administração não foram levados à frente.
Voltaire, no entanto, persistiu como um dos grandes
admiradores da monarca, alimentando a ilusão de que ela seria a grande
defensora dos direitos dos súditos, em nome do Iluminismo. A intenção da
imperatriz de realizar uma reforma na legislação foi suficiente para o filósofo
francês acreditar que Catarina promovia uma verdadeira revolução iluminista na
Rússia.
Um reinado contraditório
A czarina usou de suas boas relações com Voltaire, que se
tornou um aliado para seus planos e feitos, enquanto Diderot, que Catarina
tentava também convencer de suas boas intenções, não se deixou levar.
O reinado de Catarina foi, em suma, bastante contraditório.
Seu Edito da Tolerância, que proibia perseguições religiosas, foi aplicado
apenas à parte da Igreja russa ortodoxa, que em meados do século 17 havia se
separado oficialmente da Igreja estatal.
Enquanto isso, sob os domínios de Catarina, os judeus foram
confinados à parte ocidental do território russo, na distante anexada Polônia.
Ritos religiosos judaicos passaram a ser aceitos somente dentro das fronteiras
deste território demarcado. A partir de 1791, formaram-se verdadeiros guetos na
região.
Também a política expansionista e a ganância pelo poder
absoluto da czarina eram contrárias às ideias de Voltaire e do Iluminismo
francês. Mas foi exatamente por sua personalidade extremamente ambígua que Catarina,
a Grande, tornou-se uma das figuras mais importantes da política mundial.
Autoria Barbara Fischer (am)
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