sábado, 17 de junho de 2017

1773: O Edito da Tolerância da czarina russa


A tolerância a todas as religiões, prevista pelo edito de 17 de junho de 1773, na Rússia, é a imagem de uma monarquia esclarecida e moderna.


Catarina II, a Grande, considerada símbolo do despotismo esclarecido
Catarina 2ª influenciou os rumos da história russa como ninguém. Levando à frente a política expansionista de Pedro, o Grande, esta filha de príncipes alemães transformou a Rússia na maior potência da Europa Oriental. Influenciada pelos pensadores iluministas da Revolução Francesa, Catarina, "a déspota esclarecida", conduziu uma série de reformas na política interna russa.

A 17 de junho de 1773, tornou público seu Edito da Tolerância, que instituiu a liberdade religiosa. Leitora de Montesquieu e Voltaire, a monarca procurava passar uma imagem moderna. Catarina reformou o sistema de educação, dinamizou a vida cultural e atraiu colonos alemães para a região próxima ao Rio Volga. Durante seu reinado, São Petersburgo transformou-se numa das cidades mais bonitas da Europa.

A imperatriz ficou conhecida pela sua perspicácia política e extrema ganância pelo poder. Vários de seus amantes, pertencentes aos círculos nobres russos, tentaram influenciá-la. Em 1762, Catarina conspirou contra seu próprio marido, Pedro 3º, tendo assumido o trono a seguir. O assassinato do czar não foi ordenado por ela, embora nada conste que Catarina tenha feito algo para impedir o fato. Após a morte de Pedro, nenhum obstáculo impediu o domínio absoluto da monarca.

Discípula dos iluministas franceses

Catarina conduziu duas guerras vitoriosas contra o Império Otomano e anexou parte da Polônia à Rússia, que cresceu assustadoramente durante seu reinado.

Ao contrário do que pregava sua imagem de discípula dos iluministas franceses, Catarina governou com punhos de ferro. Apesar de alguns sinais de modernização, suas reformas não trouxeram mudanças essenciais para o conjunto da sociedade russa. Sob seu domínio, as desigualdades sociais tornaram-se ainda mais gritantes.

O regime de servidão foi expandido até a Ucrânia e a política oficial deixou os servos à mercê da nobreza. A rebelião dos agricultores, em protesto contra as condições de miséria absoluta em que viviam, foi sufocada por Catarina no ano de 1774, à custa de muito sangue. O líder da revolta foi executado em praça pública. Além disso, os propósitos da czarina de descentralizar a administração não foram levados à frente.
Voltaire, no entanto, persistiu como um dos grandes admiradores da monarca, alimentando a ilusão de que ela seria a grande defensora dos direitos dos súditos, em nome do Iluminismo. A intenção da imperatriz de realizar uma reforma na legislação foi suficiente para o filósofo francês acreditar que Catarina promovia uma verdadeira revolução iluminista na Rússia.

Um reinado contraditório

A czarina usou de suas boas relações com Voltaire, que se tornou um aliado para seus planos e feitos, enquanto Diderot, que Catarina tentava também convencer de suas boas intenções, não se deixou levar.
O reinado de Catarina foi, em suma, bastante contraditório. Seu Edito da Tolerância, que proibia perseguições religiosas, foi aplicado apenas à parte da Igreja russa ortodoxa, que em meados do século 17 havia se separado oficialmente da Igreja estatal.

Enquanto isso, sob os domínios de Catarina, os judeus foram confinados à parte ocidental do território russo, na distante anexada Polônia. Ritos religiosos judaicos passaram a ser aceitos somente dentro das fronteiras deste território demarcado. A partir de 1791, formaram-se verdadeiros guetos na região.

Também a política expansionista e a ganância pelo poder absoluto da czarina eram contrárias às ideias de Voltaire e do Iluminismo francês. Mas foi exatamente por sua personalidade extremamente ambígua que Catarina, a Grande, tornou-se uma das figuras mais importantes da política mundial.

Autoria Barbara Fischer (am)


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