creio que existe um certo glamour em ser de esquerda, um
romantismo goliardo que remonta a noites frias em alguma silenciosa estalagem
da europa oriental, ou, quem sabe, a associação a um tropicalismo selvagem de
charutão na boca e cabelos ao vento - evidentemente, ao som de um bolero.
contudo, o tesão mesmo, deve estar na conspiração, claro, não há graça nenhuma
em ser revolucionário sem conspirar e ser conspirado, isso sem falar, na
possibilidade do exílio, já pensou, ser alçado à categoria de exilado, fazer
obras proibidas, impublicáveis e geniais? o contato ontológico com a própria
cultura, insulado numa terra estrangeira? mas, também há um certo glamour em
ser de direita. grandes festas, viagens, mulheres, carrões, aquele élan dos
filmes sobre a guerra fria - ao som de bizet ou puccini, tomando vinhos caros,
porque de ferro só a cortina e a margaret thatcher. isso sem falar na
espionagem e contraespionagem, claro, que graça há em ser de direita sem
espionar e ser espionado? e quem sabe terminar numa embaixada em praga ou paris
ou londres, com a sensação cosmopolita de ser de todo lugar e de lugar nenhum.
William Teca
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