Morgenstund
hat Gold im Mund
Os alemães e suas rimas, desta vez para dar uma má notícia
aos dorminhocos: "A manhã tem ouro na boca". Trata-se de um ditado
latino, também difundido na variante "Aurora musis amica" – A aurora
é a amiga das musas. De forma menos poética, "Deus ajuda quem cedo
madruga" igualmente encoraja a diligência matinal. Ou, menos apetitoso:
"O pássaro madrugador é que pega a minhoca".
Wie man in
den Wald hineinruft, so schallt es heraus
"Como se grita na floresta, assim virá o eco"
seria a tradução quase literal desse ditado. Ou seja: o que se coloca no mundo
retorna da mesma forma, para o bem ou para o mal. Se o input for negativo,
portanto, é bom ter em mente que "Quem semeia vento, colhe
tempestade".
Der Apfel
fällt nicht weit vom Stamm
Semelhante a "Filho de peixe, peixinho é", "A
maçã não cai longe do tronco" é outro desses provérbios que convidam a um
uso ambivalente ou irônico. A ideia é que qualidades – boas ou más – são
herdadas das gerações anteriores. Portanto, atenção: se for dito como elogio,
ótimo. Se for insulto, é extensivo ao pai, à mãe e a sabe-se lá quantas
gerações.
Gelegenheit macht Diebe
"A ocasião faz o ladrão" – também na Alemanha.
Senão, e o escândalo da Volks? E o da DFB? Outra versão dessa noção é a
famigerada "lei de Gérson" (o jogador): "O importante é levar
vantagem". O provérbio resume uma tendência humana tão lamentável como
incorrigível, por isso nunca perde a atualidade. E, como "Ladrão que rouba
ladrão tem cem anos de perdão", a enxurrada de escândalos nunca terá fim.
Aller guten Dinge sind drei
Na vida e nas máquinas caça-níqueis, "Todas as coisas
boas vêm em três". A atração desse número em praticamente todas as
civilizações dispensa comentários: Três Parcas, Santíssima Trindade, as Três
Joias do budismo. Na China antiga, vencia em votação não a opinião da maioria,
mas a que alcançasse três votos exatos – o número da perfeição. Uma exceção:
"Um é pouco, dois é bom, três é demais".
Jeder ist sein Glückes Schmied
"Cada um é o forjador da própria sorte" é um
estímulo à autodeterminação que lembra a noção do "self-made man"
americano. O provérbio é uma variação de "Quisque faber suae
fortunae", registrado pelo cônsul romano Ápio Cláudio Cego, por volta do
ano 300 a.C.. Numa ironia histórica, o biógrafo Lívio atribuiu a cegueira de
Ápio a uma praga – rogada por outra pessoa, naturalmente.
Auch ein
blindes Huhn findet mal ein Korn
Datado de, no mínimo, 400 anos atrás, o dito "Até uma
galinha cega acaba achando um grão de milho" tem sentido ambivalente – e
também é empregado dessa forma. Pode significar que até o ser mais incapaz pode
obter um sucesso – por sorte ou por pura teimosia, porém sem mérito real. Ou
ser entendido como um incentivo aos menos capacitados, para que não percam a
esperança e continuem persistindo.
Lügen haben kurze Beine
A advertência de que "A mentira tem pernas curtas"
e, portanto, nunca vai muito longe, parece ser quase universal. Uma variante
africana reza: "Você pode comer uma vez com uma mentira, mas não
duas". Também sábia é a inversão de perspectiva contida no dito popular
inglês "Engana-me uma vez, vergonha para ti; engana-me duas, vergonha para
mim".
Einem
geschenkten Gaul schaut man nicht ins Maul
Precisamente "A cavalo dado não se olha os
dentes", só que rimando e com "boca" no lugar de
"dentes". Obviamente data de um tempo em que cavalos eram
considerados uma excelente prenda, e era má educação dar uma de dentista na
presença do presenteador. Pois o exame revelaria a idade e condição da montaria
– e, portanto, seu preço. Algo como, hoje, ir direto conferir no Google o valor
do presente.
Scherben bringen Glück
"Cacos trazem felicidade" lembra a tradição
judaica de quebrar copos de vidro no matrimônio, para simbolizar a destruição
do Templo de Jerusalém e desejar boa sorte ao casal. Na Alemanha, um costume
ligeiramente diferente é mantido até hoje: na "Polterabend", a noite
anterior ao casório, quebra-se tudo o que seja de louça: pratos, xícaras,
travessas – até mesmo um sanitário ou outro.
Kleider machen Leute
Assim como "O hábito faz o monge", trata-se de uma
variante do velho ditado latino "Vestis virus reddit" (As roupas
fazem o homem). Até hoje, a ideia é martelada em outdoors e revistas de moda
para justificar a importância – e o preço – da aparência exterior. Uma variação
genial é atribuída ao espirituoso autor americano Mark Twain: "Gente nua
tem pouca ou nenhuma influência na sociedade".
Viele Köche verderben den Brei
"Cozinheiros demais estragam o mingau" é a
tradução literal deste provérbio. A ideia é que, quando há gente demais dando
opiniões ou ordens, e ninguém para concentrar e filtrar os esforços, o resultado
é um fiasco. Enfim, uma apologia do trabalho organizado e da hierarquia, como
no brasileiro "Muito cacique para pouco índio".
Wer im
Glashaus sitzt, soll nicht mit Steinen werfen
Consta que "Quem tem telhado de vidro não atira pedras
no do vizinho" tem origem na Alemanha, embora não se saibam mais detalhes.
O ditado evoca a frase bíblica "Aquele que não tiver pecado que atire a
primeira pedra", pois sugere que, da mesma forma como, no fundo, ninguém é
sem pecado, de uma maneira ou de outra todos vivemos em casas com telhado de
vidro.
Ein gutes
Gewissen ist ein sanftes Ruhekissen
"Uma consciência livre é um travesseiro macio"
concorre entre os ditos populares mais simpáticos da Alemanha. Não faça o mal,
ele sugere, e você dormirá em paz. Palavras realmente sábias – embora sejam um
fraco consolo para quem sofre de insônia crônica.
Fonte : Deutsche Welle
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