segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Desnoções e algibeiras
para ser grilo
há que ter algibeiras
onde também caibam silêncios.
ser sorrateiro
espreitando entre dois fios de relva.
saber fazer uma teia invisível
onde o infinito se armadilhe.
encarar o universo com
demasiada intimidade,
a modos que quintal.
[saber que:]
as estrelas encarecem
de carinho
e brilham para mais desanonimato.
sonetar com roncos de garganta
mas desminar rebentamentos no coração.
para ser grilo
há que ter desnoções:
[viver que:]
há só uma distanciaçãozinha
entre apalmilhar um quintal
e acomodar estrelas num abraço.



- Ondjaki, 

em "Materiais para confecção de um espanador de tristezas". Lisboa: Editorial Caminho, 2009.

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