O calor cola. A tarde arde e arqueja.
Ela arfa, sem querer, nas leves vestes
e num é tudo enérgico despeja
a impaciência por algo que está prestes
a acontecer: hoje, amanhã, quem sabe
agora mesmo, oculto, do seu lado;
da janela, onde um mundo inteiro cabe,
ela percebe o parque arrebicado.
Desiste, enfim, o olhar distante; cruza
as mãos; desejaria um livro; sente
o aroma dos jasmins, mas o recusa
num gesto brusco. Acha que á faz doente.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas II" (1908).
In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São
Paulo: Perspectiva, 2013, p. 276-277.
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