"As imagens do poeta têm sentido em diversos níveis. Em
primeiro lugar, possuem autenticidade: o poeta as viu ou ouviu, são uma
expressão genuína de sua visão e experiência do mundo. Trata-se, então, de uma
verdade de ordem psicológica, que evidentemente nada tem a ver com o problema
que nos preocupa. Em segundo lugar, essas imagens constituem uma realidade
objetiva, válida em si mesma: são obras. Uma paisagem de Góngora não é o mesmo
que uma paisagem natural, mas ambas têm realidade e consistência, embora vivam
em esferas diferentes. São duas ordens de realidade paralelas e autônomas.
Nesse caso, o poeta faz algo mais que dizer a verdade; ele cria realidades
possuidoras de uma verdade: as da sua própria existência. As imagens poéticas
têm sua própria lógica e ninguém se escandaliza se o poeta diz que a água é
cristal ou que “el pirú es primo del sauce” (Carlos Pellicer). Mas essa verdade
estética da imagem só vale dentro do seu próprio universo. Por fim, o poeta
afirma que as suas imagens nos dizem algo sobre o mundo e sobre nós mesmos e
que esse algo, embora pareça um disparate, nos revela o que somos de verdade.
Terá algum fundamento objetivo essa pretensão das imagens poéticas? O aparente
contrassenso ou sem-sentido do dizer poético conterá algum sentido?"
[Octavio Paz. “O arco e a lira”. Tradução de Ari Roitman e
Paulina Watch. São Paulo: Cosac Naify, 2012. Pgs. 113 e 114 /
Nenhum comentário:
Postar um comentário