sexta-feira, 6 de junho de 2014

Azar no Algarve



 Mohammed Hadjab

No Algarve, Almansur, almoxarife da alfândega, armazenava damascos na Alcova do seu alcázar. Sentado numa almofada de algodão bebendo xarope de limão e lendo um almanaque. O xerife chegou e, com ele, o pobre alazão do Alfaiate, cheio de garrafas de álcool. O alazão magrinho deu pena ao xeique que ofereceu ao pobre djinn um pouco de alface com um resto de almôndegas.
Almansur gritou ao xerife: Alferes que me vale a honra da tu visita no amanhecer?
O xerife com as mãos nas algibeiras não se atreveu em responder, mas, finalmente, à noite no seu zênite, respondeu: Eu estava na cidade de Alcobaça, na mesquita com o alfarrabista, bebendo um chá de tâmara, sentado numa almofada de arroz tratando de resolver algoritmos e álgebra, quando ouvi o grito terrível que me fez cair nos azulejos do chão.
Fora da mesquita jazia nos azulejos de cor alfazema, o alfaiate cujo nome era Ibn Almeida, assassinado com haxixe na boca e mãos algemadas, vestido de uma camisa azul.
A pele do pobre era de cor azul e brilhava como o azeite produzido nas azenhas do seu alcázar. Seu corpo açoitado não se mexia mais.
O almoxarife, agora de cor açafrão, vestiu seu Albornoz e foi beber água do chafariz.
E o assassino? Perguntou o xeique.
Chamem o alquimista, por favor!
Ali, meu vizir, me traz um café com cardamomo e muito açúcar!
E música, por favor, quero ouvir alaúde e tambores!
O Alquimista chamado de Alquimarra, Almirante em alquimia, chegou ao alcázar com seus alambiques, seu alcorão debaixo do braço e um jarra de álcool. Ele parecia dormir e seus cabelos levantados o faziam parecer com uma alcachofra.
Ele examinou o moribundo jogando no corpo álcool de flor de laranjeira para dissipar o cheiro da morte enquanto o Almansur jogava xadrez.
Ele examinou o corpo, à hora ajudando-se do seu astrolábio e começou a preparar um elixir afundando os dedos do moribundo nele.
Não ha assassino não. O alfaiate trespassou naturalmente e já está nos jardins de Allah comendo kibe ao escabeche e bebendo xarope de damasco. Com um Amalgame de algodão e de pedra esmeralda consegui ver que ele faleceu do coração!
Xeque-mate! Gritou o Emir Almansur!
Hoje nem usarei da minha matraque para castigar o assassino!
Pra agradecer o nobre alquimista, o xeique organizou um bazar cheio de kibe, de cuscus árabe, de alfajorras e de xarope de caramelo para honrar o alquimista, oferecendo a ele a honra de se deitar no divã do xeique.
O papagaio do vizir cantava no alcázar da Alhambra as lendas do esperto alquimista.

NB: Esse texto é constituído de 433 palavras, cujas 120 são de origem árabe.

Fonte : Presença Árabe no Brasil

Nenhum comentário: