fosses tu um grande espaço e eu tacteasse
com todo o meu corpo sôfrego e cego
***
já não tenho tempo para ganhar o amor, a glória ou a
Abissínia,
talvez me reste um tiro na cabeça,
e é tão cinematográfico e tão sem número o número dos
efeitos especiais,
mas não quero complicar coisas tão simples da terra,
bom seria entrar no sono como num saco maior que o meu
tamanho,
e que uns dedos inexplicáveis lhe dessem um nó rude,
e eu de dentro o não pudesse desfazer:
um saco sem qualquer explicação,
que ficasse para ali num sítio ele mesmo num sítio bem
amarrado
- não um destino à Rimbaud,
apenas longe, sem barras de ouro, sem amputação de pernas,
esquecido de mim mesmo num saco atado cegamente,
num recanto pela idade fora,
e lá dentro os dias eram à noite bem no fundo,
um saco sem qualquer salvação nos armazéns obscuros
***
rosa esquerda, plantei eu num antigo poema virgem,
e logo ma roubaram,
logo me perderam o pequeno achado,
mas ninguém me rouba a alma,
roubam-me um erro apenas que acertava só comigo,
um umbigo, um nó,
um nome que só em mim era floral e único
Herberto Helder
Tem novo livro de poesia - Artes - DN
'Morte Sem Mestre' tem a chancela da Porto Editora e terá, como
habitualmente, apenas uma edição.
DN.PT|POR CONTROLINVESTE
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