Quero chegar em tudo ao cerne,
ao mais oculto.
Buscando a rota, no afazer, no
peito em tumulto.
Ao bojo dos dias de outrora,
ao próprio centro,
justo às raízes e às escoras,
medula adentro.
Sempre agarrando toda a série
de sinas, fatos,
sentir, pensar, amar, viver e
fazer achados.
E escreveria, ah, se o lograsse,
sobre os diversos
dons da paixão, de todo ou quase,
em oito versos.
Seus crimes, fugas e caçadas,
seus atropelos
acidentais, mãos espalmadas
e cotovelos.
Deduziria a essência inata
e as suas leis,
diria a inicial de cada
nome outra vez.
Dispondo cantos em canteiros,
com veias tensas,
veria as tílias: o horto inteiro
posto em seqüência.
E verteria, em verso, aromas
de rosa e menta,
prado, flor, feno e quanto assoma
numa tormenta.
Assim Chopin verteu – portento
vivo – seu mundo,
sítios, jazigos, bosques, dentro
de seus estudos.
O jogo e o suplício do afã de
vencer de fato –
a corda retesa e vibrante
do arco dobrado.
Boris Pasternak
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