Como vai indo com a outra?
Tão fácil, não? — basta um impulso
no remo — com a orla, a minha
imagem se borra, se afasta,
vira ilha flutuante (no céu,
— na água, não!).
Alma e alma,
irmãs, sim — mas, amantes, não!
Uma é destino; outra — sem fim!
Que tal viver com tal pessoa
comum — vida sem divindades?
Jogou do trono-olimpo a deusa-
rainha, abdicou — e a coroa
de sua vida, como fica?
Ao despertar, como pagar
o preço de imortal banal-
idade — como? Menos rica?
“Chega de susto e suspeita!
Quero um lar!.” Mas... e a vida
só — com uma mulher qualquer —
Você — eleito de uma eleita?
Ah... e a comida? Apetitosa?
Você se queixa quando enjoa?
Depois do topo do Sinai,
ir conviver com uma à-toa
da parte baixa da cidade,
uma coitada? Gostou da anca?
O açoite-vergonha de Zeus
ainda não vincou-lhe a estampa?
Entre viver e ser, dá para
contar? E como encara
o caro amigo a cicatriz
da consciência-meretriz?
Viver com uma boneca de gesso
— de feira!? Você me acha cara?
Depois de um busto de Carrara,
um susto de papier-mâché?
(O deus que eu escavei de um bloco
só me deixou os ocos.) Enleva
viver com uma igual a mil,
quem já teve a Lilit primeva?
Não lhe matou a fome a boa
bisca, que atendeu aos pedidos?
Como viver com a simplória,
que só possui cinco sentidos?
Enfim, por fim... você é feliz,
no sem-fundo dessa mulher?
Pior, melhor, igual a mim,
nos braços de um outro qualquer?
Marina Tsvetaieva
Tradução: Décio Pignatari
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