quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O Encontro Marcado

“O homem, quando jovem, é só, apesar de suas
múltiplas experiências. Ele pretende, nessa
época, conformar a realidade com suas mãos,
servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o
mundo, conseguirá ganhar-se a si próprio.
Acontece, entretanto, que nascemos para o
encontro com o outro, e não o seu domínio.
Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo na sua
libérrima existência, é respeitá-lo e amá-lo na
sua total e gratuita inutilidade. O começo da
sabedoria consiste em perceber que temos e
teremos as mãos vazias, na medida em que
tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o
mundo. Neste momento, a solidão nos
atravessa como um dardo. É meio-dia em nossa
vida, e a face do outro nos contempla como um
enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se
percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o
preço do encontro, do possível encontro com o
outro. A construção de tal possibilidade passa
a ser, desde então, o trabalho do homem que
merece o seu nome.”


- de uma carta de Hélio Pellegrino, (in O Encontro Marcado, de Fernando Sabino, editora Record, 79ª edição, 2005, SP/RJ).

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