Havia um homem que escrevia em fragmentos até o próprio
nome. Assinava com metade da caneta, com metade da tinta e escrevia metade das
letras. Mas havia outro homem, porque há sempre dois homens. Era um homem que
escrevia em fragmentos que se multiplicavam como se entre eles estivesse a
operação multiplicação.
Há quem escreva como num testamento: é uma linguagem que
separa e deixa apenas parte a cada um. E há depois quem escreva com mão de
agricultor: deixa mais do que acabou de deixar.
Ver duas vezes no mesmo dia um cego é torturar um cego.
Porque o cego nesse dia nem uma vez te viu.
Gonçalo M. Tavares
em Biblioteca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário