sábado, 14 de dezembro de 2013

A alma das velhas casas


No silencio do pósmeridio grave e ardente
entrei a velha casa onde vivêra outr’ora,
quando, ainda alma em flor e corpo adolescente,
era luz, era ardor, era sonho, era aurora.

A sala ampla e deserta, a varanda silente,
echoam do meu passo ao ruído e, frio agora,
o quarto onde dormia é lúgubre e dolente
e o terreiro ermo e nu de rosas não se enflora.

É sêcco o algibe. Chora uma rola num galho.
Abro o velho portão. Galgo a estéril, maninha
gleba de morro mal vestida de cascalho. . .

E desses que — ai de mim! Outr’ora aqui viveram
resta, pairando no ar, a alma triste e sosinha
das velhas casas cujos donos já morreram!

- José de Mesquita, Matto--Grrosso evoccativo - em "Terra do Berço". Cuiabá: Escolas Profissionais Salesianas, 1927. (grafia original).

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