Vamos colher as uvas molhadas pelo orvalho
e tapetar de folhas o ingênuo samburá.
Em cada cacho maduro há uma pupila.
Quem será que ensina a estas aranhas
a tecer o fio frágil do aranhol,
e movimenta à sombra escura da parreira
a dança loura do sol?
Vamos colher as uvas.
Vamos cortar os cachos de efêmero sabor.
As tuas mãos morenas são ágeis como aranhas
e têm carícias gulosas para os frutos.
Prova o sumo sanguíneo.
Tinge os teus lábios no sangue da videira.
No teu cabelo o sol floresce uma coroa.
mergulhando os braços na folhagem,
és uma árvore moça,
és uma vinha selvagem que oferece
cachos de beijos para a minha fome!
- Augusto Meyer, em “Giraluz”, Porto Alegre: Globo, 1928.
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