Utopias
são facas
de dois
gumes:
Num dia
dão flores,
noutro
são estrume.
Na travessia
do deserto
as utopias
são miragens.
Mas como
se alimentar
de paisagens?
As utopias
mobilizam.
E a longo prazo
paralisam.
Utopias
são ambíguas:
podem aliviar
no presente
as fadigas,
mas no futuro
levam a um muro
sem saída.
Mais que
dilema
bigume:
estrela
e negrume,
trampolim
e tapume
ou fênix
implume,
nenhuma
imagem
as utopias
resume.
As utopias
são facas
de três gumes.
Affonso Romano de Sant'Anna; in: Intervalos amorosos e
outros poemas escolhidos
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