domingo, 14 de abril de 2013

Poemas de Paul Eluard


Diz-se do amor


I

Nosso silêncio faz calar a tempestade
Acalmará a folhagem profunda

Carrego duas mãos abandonadas


II

O barco naufragava para sempre na bruma

Longe longe diz o ódio
Perto perto diz o amor


III

Os olhos de um ar vivo soberano inocente
Os seios leves ela ria de tudo

E o mar dispersou a areia de seu trono.


--


Diz-se da forma do amor


I

O sol duro como uma pedra
Razão compacta vinha feroz

E o espaço cruel é um muro que me encerra


II

Neste deserto que me habitava que me vestia

Ela me beijou e ao me beijar
Ela me ordenou que eu visse e escutasse.


III

Com beijos e palavras
Sua boca seguiu o caminho de seus olhos

Ali havia vivos mortos e vivos.



(O difícil desejo de permanecer – 1946)


Paul Eluard – Últimos poemas de amor.
Tradução: Maria Elvira Braga Lopes e Gilson Maurity.
Mais dois poemas de Paul Éluard


A aliança

Definitivamente são duas árvores pequenas
Sozinhas em um campo aberto
Que nunca mais se separarão.


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N


I

Em que pensas
Eu penso no primeiro beijo que te darei.


II

Beijos semelhantes às palavras do sonhador
Estais a serviço de forças inventadas.


III

As ruas dos pequenos amores
Os muros acabam em noite negra

Eu amo
E minhas cortinas são brancas.


IV

Sem esplendor e doce em seu ninho
Ela aparece num sorriso.


V

No dia 21 de Junho de 1906
Ao meio-dia
Tu me deste a vida.


VI

Eu disse fácil o que é fácil
É a fidelidade.


VII

É preciso vê-la sob o sol forte das rochas
inacessíveis
É preciso vê-la em plena noite
É preciso vê-la quando ela está só.


(Uma longa reflexão amorosa – 1945)


Paul Éluard – Últimos poemas de amor.
Tradução: Maria Elvira Braga Lopes e Gilson Maurity.

No exílio

Ela é triste ela faz viver
A dúvida que tem de sua realidade nos olhos de outro
Planta maior no banho
Vegetal trabalhado moreno ou louro
À extrema flor de sua cabeça
Sua nudez contínua

Seus seios de favores recusados
Um riso dos cabelos de ébano

Entre as árvores
A tempestade que defende os seus

Quebra os caules de luz

Ela é também esta tempestade 
Que distribui armas desajeitadas
Às ervas aos insetos
Aos últimos calores
As névoas do outono
As cinzas do inverno
A pérola negra não é mais rara
O desejo e o enfado se irmanam
Manejo de manias
Tudo é esquecido
Nada é sacrificado
O odor dos escombros persiste

Os olhos cerrados é ela toda inteira.


(Uma longa reflexão amorosa – 1945)


*

Corpo ideal

Sob o grande céu aberto o mar dobra suas asas
Nos cantos de teu sorriso um caminho se abre em mim

Sonhadora toda em carne luz toda em fogo
Aumenta meu prazer anula o que se estende

Apressa-te em dissolver e meu sonho e minha vista.


(O difícil desejo de permanecer – 1946)


Paul Éluard – Últimos poemas de amor.
Tradução: Maria Elvira Braga Lopes e Gilson Maurity.


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