Affonso Romano Santanna
Impossivel (por causa da globalização) escapar deste
atentado em Boston.
Uma bomba, várias bombas, explodem nos EUA e seus estilhaços
chegam em toda parte. Você não estava naquela rua, naquela esquina, naquela
maratona, talvez esteja no interior da Bahia cuidando da sua pacata vida ou
dentro de um taxi em Salvador, mas a nefasta bomba atinge você de qualquer
modo.
A notícia estoura como uma bomba nas redações, ouvidos e
olhos de todo o mundo. Então, estamos numa situação duplamente sem saída.
Qualquer um pode fabricar uma bomba. Como dizem os jornais há inúmeros sites
ensinando detalhadamente isto, e, por outro lado, o sistema de informação
espalha pelos ares pedaços de acontecimentos, que nos perfuram, nos deformam e
tumultuam nosso dia a dia. É a sina do jornalismo. É a sina de viver nestes
tempos atuais.
Quando ocorre um atentado no Afeganistão ou no Iraque e
morrem muitas pessoas, a gente tem um escudo de defesa, pensa: isto lá é comum,
vivem em guerra. É como se a gente dissesse que a vida deles vale menos.
Pensamos e esquecemos.
Quando a tragédia ocorre nos EUA a repercussão é maior : é
como se a casa do vizinho tivesse se incendiado. A gente sente as labaredas
mais de perto.
Os próprios americanos vivem. por isto, uma experiência
muito estranha: tocam a vida normalmente, mas desconfiam que há um atirador ou
terrorista em algum lugar. Pode ser no campus universitário, num cinema ou numa
simples cafeteria. Quando a gente assiste a filmes Americanos ( por causa da
maneira que têm de fazer os roteiros) sente que alguma coisa imprevista,
desagradável pode acontecer a qualquer momento. O roteiro exige isto. Isto
virou um sintoma de algo mais
Isto tem a ver com uma tensão, uma guerra informal que
ocorre dentro da banalidade mais cotidiana. Agora, contudo, a guerra para os
americanos não se dá alhures. Não é do outro lado do oceano, como foi durante a
primeira e segunda guerras mundiais, nem na Coréia, Vietnam, Iraque, etc. O
inimigo internalizou-se. E a noticia globalizou-se, irradia-se na mesma hora em
que explode em algum lugar.
(Radio Metrópole,16.04.2013)
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