sábado, 16 de março de 2013

Ordem n°2 ao Exército das Artes




 Vladimir Maiakóvski/ tradução Augusto de Campos


A vós
- barítonos redondos -
cuja voz
desde Adão até à nossa era
nos atros buracos chamados teatros
estronda o ribombo líricos das árias.

A vós
- pintores -
cavalos cevados,
rumino-relinchante galardão eslavo,
no fundo dos estúdios, cediços como dragos,
pintando anatomias e quadros de flores.

A vós
rugas na testa entre fólios de mística
- micro-futuristas
-imagistas,
-acmeístas,
emaranhados no aranhol das rimas.

A vós -
descabelando cabelos bem penteados,
barganhando scarpins por solados,
vates do Proletcult,
remendões do fraque velho de Púchkin.

A vós -
bailadores, sopradores de flauta,
amolecendo às claras
ou em furtivas faltas,
e figurando o futuro nos termos
de um imenso quinhão acadêmico.
A vós todos
eu -
que acabei com berloques e dou duro na Rosta -
gênio ou não gênio, tenho
a dizer: basta!
Abaixo com isso,
antes que vos abata o coice dos fuzis.


Basta!
Abaixo,
cuspi
no rimário,
nas árias,
nos róses açafates
e mais minincolias
do arsenal das artes.
Quem se interessa
por ninharias
como estas: "Ah pobre coitado!
Quanto amou sem ter sido amado..."?
Artífices,
é o que tempo exige
e não sermonistas de juba.
Ouvi
o gemido das locomotivas,
que lufa das frinchas, do chão:
"Dai-nos, companheiros,
carvão do Don!
Ao depósito, vamos,
serralheiros,
mecânicos!"

À nascente dos rios,
deitados com furos nas costas,
- "Petróleo de Baku!" - pedem navios
uivando das docas.

Perdidos em disputas monótonas,
buscamos o sentido secreto,
quando um clamor sacode os objetos:
"Dai-nos novas formas!"

Não há mais tolos boquiabertos
esperando a palavra do "mestre".
Dai-nos, camaradas, uma arte nova
- nova -
que arranque a República da escória.

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