URSO PELUDO OU PELADO?
Affonso Romano de Sant’Anna
Esse carnaval trouxe várias novidades.Vou me referir
apenas a uma. O urso. O urso já não é o mesmo. Pelaram ele. Melhor, depilarem o
urso, tiraram os pelos do folião que se fantasiava da urso.
Sou um estudioso das origens do carnaval. Esses
blocos de belos e musculosos rapazes com latinhas de cerveja na mão, são uma
estranha metamorfose do que já foi o primitivo folião que travestido de peles
de urso trazia um tacape em suas mãos.
O urso existe no folclore de muitos países. Ele
hiberna por muitos meses, fica na sua caverna sem comer, só sai na primavera,
pare se alimentar, procriar, viver. Todo mundo sabe que o carnaval é na rua
origem um ritual que marca o início da primavera. Isto, do outro lado do mundo,
Aqui, o carnaval cai mesmo no verão. É duro ser urso nos trópicos, Quando vocês
virem alguém fantasiado de urso por aí, saibam que é uma lembrança dos mitos e
ritos antigos.
Mas virou moda fazer academia e musculação, E no
carnaval a coisa fica mais visivel. As mulheres estão tão musculosas, tão
masculinas, que parecem vindas de outro planeta. E agora criaram blocos de
rapazes que olimpicamente exibem sua musculatura e suas tatuagens como se
estivessem numa passarela grega. Claro que podemos intepretar isto como
fantasia. Fantasia deles, conciente, inconsciente, máscaras cultivadas. Cada um
faz com o seu corpo o que bem entende seguindo as modas de época. Mas o que é
interessante, nisto é que a metamorfose foi total. A brutalidade do primitivo,
a agressividade do urso, foram substituidas por uma aparente delicadeza. O urso
hirsuto versus o rapaz depiladíssimo, lisinho Mas aí um paradoxo esquisito:
essas massas musculosoas tipo Schwarzenegger parecem máquinas amedrontadoras.
Um amigo cruzou por um bloco desses e morreu de medo. O clima era
estranhíssimo.
Enfim, a gente não sabe para quem eles estão se
exibindo, se para outros machos, se para as fêmeas ou se num exercício narcista
diante do espelho de nossa época.
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