quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O Fim Das Corujas


 De Hans Magnus Enzensber.

Não falo do seu...
Eu falo do fim das corujas.
Eu falo do linguado, da baleia
na sua casa escura,
o séotuplo mar,
dos glaciares,
que hão de parir cedo demais,
de corvos e pombos, testemunhas emplumadas,
de tudo o que vive nos ares,
nas florestas, dos liquens no cascalho,
do eu sem caminho, do Pântano cinzento,
e das montanhas vazias:

luzindo na tela do radar
pela última vez-avaliado
nas mesas de registro-por antenas
mortíferas são tocados os Pãntanos da Flórida
e o gelo da Sibéria; animais
e canaviais e lousas, estrangulados
por correntes detectoras, cercados
pela última manobra, inocentes
sob calotas de fogo que pairam no ar,
no tique-taque do caso fatal.

Já estamos esquecidos
Não se preocupem com os órfãos,
desterrem suas mentes
os sentimentos garantidos pelo Estado,
a glória, os salmos inoxidáveis.
Não falo mais de vocês,
planejadores da ação sem vestígio,
nem de mim, nem de ninguém.
Falo do que não fala,
das testemunhas sem língua,
das lontras e focas,
das velhas corujas da terra.

( Do Livro Eu Falo Dos Que Não Falam. 1985)

Nenhum comentário: