P. P.
Pasolini
SIBILA
Una
furiosa luna sulle zolle
Non arate, le secche impalcature,
spande
fuoco. Tanto più folle
quanto
più calmo il passo mi conduce
verso
angoscie che furono pure.
Uma
furiosa lua sobre torrões
Não
arados, secos assoalhos,
espalha
fogo. Tanto mais veloz
quanto
mais calmo o passo me conduz
a
angustias que se foram.
*
Nella
notte una precoce pioggia profuma
le
insonni felicità dell’ esistenza.
Na noite
uma precoce chuva perfuma
as
insones felicidades da existência.
*
Bisogna
bruciare per arrivare
consumati
all’ ultimo fuoco.
E preciso
queimar para chegar
consumidos
ao derradeiro fogo.
*
La
conoscenza è nella nostalgia.
Chi non
si è perso non possiede.
O
conhecimento está na nostalgia.
Quem não
se perdeu não se apropria.
XXVI
In sogno
ti ho
sentita gridare
Un grido
similar a
quello che aveva straziato
la notte
all’ inizio del male.
Un grido
d’ ira,
o
creatura,
contro le
figlie, te stessa
e la
morte.
XXVI
Em sonho
te senti
gritar
um grito
similar
àquele que havia dilacerado
a noite
nos
primórdios do mal.
Um grito
de raiva,
ó
criatura,
contra as
filhas, contra ti
e a
morte.
XVII
O dolce
sonno
Ingannala
ancora tu,
un poco.
Consuma
queste ultime ore,
e,
inavvertito,
falle
valicare la soglia.
XVII
Ó doce
sono
a engana
tu, ainda
um pouco
consuma
estas últimas horas
e,
inadvertido,
fá-las
ultrapassar o limiar
*
È Parola
non Carne…
E finché
resterà sospesa,
Io non
entrerò nel destino.
Fui
fanciullo, fui adolescente,
fui
giovane… Tutto minaccia
di
passare, anzi d’ essere passato
— una
leggenda qualunque
alle mie
spalle di morto…
Ed io la
so, la Parola:
e come
non potrei se son io
questo
dato senza cifre,
questo
Indefinito parlante?
Se son io
questo vaso di miseria,
questa
litania del peccato,
dell’
insoddisfazione, dell’ imperfetto,
questa
voce ossessionata?
Non so
far altro che ripetermi,
da anni,
fin da quando
— ansioso
Indiziato —
cominciai
a smantellarmi:
eppure è
RIMASTA PAROLA…
Tutto
minaccia di passare,
non sono mai vissuto!
Son corso intorno al cerchio
del mio destino e non son mai entrato!
E morirò cosi? Parola,
impazzisco di te e tu non vivi.
É Palavra não Carne…
E ate que reste suspensa,
não mergulharei no destino.
Fui criança, adolescente,
jovem… tudo ameaça
passar, ou melhor, de ter passado
— uma lenda qualquer
às minhas costas de morto…
E eu a sei, a Palavra:
e como não poderei se sou eu
este dado sem cifras,
este Indefinido falante?
Se sou eu este vaso de miséria,
esta litania do pecado,
da insatisfação, do imperfeito
esta voz atormentada?
somente sei me repetir
há anos, desde quando
— ansioso Indiciado —
comecei a me desmantelar:
também PERMANECEU PALAVRA
Tudo ameaça passar,
… oh frêmito atroz,
nunca vivi!
Corri ao redor
de meu destino e nunca entrei!
E morrerei assim? Palavra,
Enlouqueço por ti e tu não vives.
O tenero predone di profumi
Con la mano immersa dentro le perle
della sera dai corporei tepori,
attraverso la piazza, giungo al lume
modesto di un negozio, torno…Non ha
prezzo questo tepore scintillante
di freschezza, questa intensa notte
che lascia più aria intorno ai gridi,
più vuoti…
O tenero predone di profumi,
ecco di che morire d’ inquietudine.
Ó terno predador de perfumes
Com a mão imersa em pérolas
da noite da corpórea tepidez
atravesso a praça, alcanço o lume
modesto de uma loja, retorno… Não tem
preço esta tepidez cintilante
de frescor, esta intensa noite
que exala mais ar ao redor dos gritos
mais vazios…
ó terno predador de perfumes
eis porque morrer de inquietude
Tradução: Berenice Sica Lamas
Berenice Sica Lamas (Pelotas – RS) Poeta, escritora, ensaísta, psicóloga e doutora em Letras. Membro da Academia Literária Feminina/RGS. Vários livros publicados. Vive em Bologna (Itália). Ítalo-brasileira, trabalha com traduções. participa de círculos poéticos e de leitura, tem publicado poemas em revistas e em sites italianos e brasileiros. Premiada no concurso literario multicultural “Lune di primavera” do Comitato Internazionale 8 marzo (Perugia).
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