quinta-feira, 12 de abril de 2012

O malandro arrependido

Georges Brassens

Ela tinha uma cintura bem torneada
cadeiras cheias
e caçava os machos nos arredores da Madeleine.
pelo seu jeito de me dizer: Meu anjo
te apeteço?
eu vi logo que se tratava de uma debutante.

Ela tinha talento, é verdade, eu o confesso.
Ela tinha gênio,
mas sem técnica um dom não é nada.
Certamente não é tão fácil ser puta como ser freira,
pelo menos é o que se reza em latim na Sorbonne.

Sentindo-me cheio de piedade pela donzela
ensinei-lhe os pequenos truques de sua profissão
e ensinei-lhe os meios para fazer logo fortuna
rebolando o lugar onde as costas se assemelham à lua,

Porque na arte de fazer o trottoir, confesso,
o difícil é saber mexer bem a bunda.
Não se mexe a bunda da mesma maneira
para um farmacêutico, um sacristão, um funcionário.

Rapidamente instruída por meus bons ofícios
ela cedeu-me uma parte de seus benefícios.
Ajudavamo-nos mutuamente, como diz o poeta:
ela era o corpo, naturalmente, e eu a cabeça.

Quando a coitada voltava para casa sem nada
dava-lhe umas porradas mais do que com razão.
Será que ela se lembra ainda do bidê com
que lhe rachei o crânio?

Uma noite, por causa de manobras duvidosas
ela caiu vítima de uma doença vergonhosa,
então, amigavelmente, como uma moça honesta
passou-me a metade de seus micróbios.

Depois de dolorosas injeções de antibióticos
desisti da profissão de cornudo sistemático.
Não adiantou que ela chorasse e gritasse feita louca
e, como eu era apenas um canalha, fiz-me honesto.

Privado logo de minha tutela, minha pobre amiga,
correu a suportar as infâmias do bordel.
Dizem que ela se vendeu até aos tiras!
Que decadência!
Já não existe mais moralidade pública
na nossa França!

Georges Brassens, 1952

LE MAUVAIS SUJET REPENTI

Elle avait la taille faite au tour,
Les hanches pleines, Et chassait le mâle aux alentours
De la Madeleine…
A sa façon de me dire: “Mon rat,
Est-ce que je te tente?”
Je vis que j’avais affaire à
Une débutante…

L’avait le don, c’est vrai, j’en conviens,
L’avait le génie,
Mais sans technique, un don n’est rien
Qu’une sale manie…
Certes, on ne se fait pas putain
Comme on se fait nonne.
C’est du moins ce qu’on prêche, en latin,
A la Sorbonne…

Me sentant rempli de pitié
Pour la donzelle,
Je lui enseignai, de son métier,
Les petites ficelles…
Je lui enseignai le moyen de bientôt
Faire fortune,
En bougeant l’endroit où le dos
Ressemble à la lune…

Car, dans l’art de faire le trottoir,
Je le confesse,
Le difficile est de bien savoir
Jouer des fesses…
On ne tortille pas son popotin
De la même manière,
Pour un droguiste, un sacristain,
Un fonctionnaire…

Rapidement instruite par
Mes bons offices,
Elle m’investit d’une part
De ses bénéfices…
On s’aida mutuellement,
Comme dit le poète.
Elle était le corps, naturellement,
Puis moi la tête…

Un soir, à la suite de
Manoeuvres douteuses,
Elle tomba victime d’une
Maladie honteuses…
Lors, en tout bien, toute amitié,
En fille probe,
Elle me passa la moitié
De ses microbes…

Après des injections aiguës
D’antiseptique,
J’abandonnai le métier de cocu
Systématique…
Elle eut beau pousser des sanglots,
Braire à tue-tête,
Comme je n’étais qu’un salaud,
Je me fis honnête…

Sitôt privée de ma tutelle,
Ma pauvre amie
Courut essuyer du bordel
Les infamies…
Paraît qu’elle se vend même à des flics,
Quelle décadence!
Y’a plus de moralité publique
Dans notre France…..

El mal sujeto arrepentido

Tenía la cintura redondeada,
Las caderas llenas,
Y cazaba al varón en los alrededores
De la Madeleine …
Desde su manera de decirme: “Mi ratoncito,
¿Te tiento?”
Vi que tenía que ver con
Una debutante …
Tenía el don, es verdad, estoy de acuerdo,
Tenía el talento,
Pero sin técnica, un don no es nada más
Que una maldita manía …
Claro, una no se hace puta
Como se hace monja.
Por lo menos esto es lo qué se predica, en latín,
A la Sorbona …
Sintiéndome lleno de piedad
Para la doncella,
Le enseñé de su oficio
Los pequeños trucos
Le enseñé la manera de hacer
Pronto fortuna
Sacudiendo el lugar donde la espalda
Parece la luna
Porque, en el arte de hacer la calle,
Lo confieso,
Lo difícil es saber bien
Jugar de nalgas …
No se menea el pompis
De la misma manera.
Por un especiero, un sacristán,
Un funcionario …
Rapidamente instruida por
Mis buenos oficios,
Me invistió de una parte
De sus beneficios …
Nos ayudábamos recíprocamente
Como dice el poeta.
Ella era el cuerpo, por supuesto,
Y yo la cabeza …
Una tarde, a consecuencia de
Maniobras discutibles,
Ella se cayó víctima de una
Enfermedad vergonzosa …
Entonces, en todo bien, en toda amistad,
Siendo una muchacha honesta,
Me pasó la mitad
De sus microbios …
Después de inyecciones agudas,
De antiséptico,
Abandoné el oficio de cornudo
Sistemático …
E aun si ella suspiró mucho,
Y berreó a pleno pulmón.
Ya que yo no era nada más que un cabrón
Me hice honesto …
Apenas privada de mi tutela
Mi pobre amiga
Corrió a padecer del burdel
Las infamias …
Parece que ella se venda incluso a los polis,
¡Qué decadencia…!
No hay más moralidad pública
En nuestra Francia

Me hice chiquito

(Georges Brassens)

Quitarme el sombrero: eso jamás ante una dama.
Hoy le hago piruetas y mucho más cuando me llama.
Fui un perro feroz, me da de comer en su manito
y mis dientes largos los convirtió en dientecitos.

Por una muñeca me hice chiquito
al acostarla cierra los ojos.
Por una muñeca me hice chiquito,
dice mamá cuando la toco.

Yo fui un desalmado y me transformó
esta mosquita, caí calentito doradito en su boquita,
dientes de pequeña al sonreír y cuando canta colmillos
de loba, si se enoja a mí espanta.

Yo acepto su ley y me porto bien bajo su imperio
aunque sea celosa que es de temer y no hay remedio.
Una lolita que me pareció mucho más bella,
la pobre lolita hasta ahí llegó, la mató ella.

Los magos que leen el porvenir, ya me lo han dicho:
sus brazos en cruz serán el altar de mi suplicio.
Mejores las hay, peores tal vez, al fin y al cabo.
Que me cuelgue aquí, que me cuelgue allá, moriré ahorcado.

Fiz-me muito pequeno

Je me suis fait tout petit – Georges Brassens

Je n’avait jamais ôté mon chapeau
Devant personne
Maintenant je rampe et je fait le beau
Quand elle me sonne
J’étais chien méchant elle me fait manger
Dans sa menotte
J’avais des dents de loup, je les ai changées
Pour des quenottes!

Nunca tinha tirado o meu chapéu
para ninguém
Agora rastejo e faço habilidades
quando ela me chama
Era um cão vadio agora ela faz-me comer
com as suas algemas
Tinha dentes de lobo e mudei-os
para dentes de leite
Je me suis fait tout petit devant une poupée
Qui ferme les yeux quand on la couche
Je me suis fait tout petit devant une poupée
Qui fait Maman quand on la touche.

Fiz-me muito pequeno face a uma boneca
Que fecha os olhos quando a deitamos
Fiz-me muito pequeno face a uma boneca
Que diz mamã quando a tocamos

J’étais dur à cuire elle m’a converti
La fine mouche
Et je suis tombé tout chaud, tout rôti
Contre sa bouche
Qui a des dents de lait quand elle sourit
Quand elle chante
Et des dents de loup, quand elle est furie
Qu’elle est méchante.

Eu não era pêra doce mas ela converteu-me
a velha raposa
e caí quente e pronto a comer
contra a sua boca
que tem dentes de leite quando sorri
quando canta
e dentes de lobo quando está furiosa
quando é maldosa

Je subis sa loi, je file tout doux
Sous son empire
Bien qu’elle soit jalouse au-delà de tout
Et même pire
Une jolie pervenche qui m’avait paru
Plus jolie qu’elle
Une jolie pervenche un jour en mourut
A coup d’ombrelle.

Respeito as suas leis, sou cordeiro manso
sobre as suas ordens
Mesmo que ela seja ciumenta acima de tudo
e mesmo pior
Uma bela murta que me havia parecido
mais bela que ela
Uma bela murta um dia morreu
a golpes de guarda-chuva

Tous les somnambules, tous les mages m’ont
Dit sans malice
Qu’en ses bras en croix, je subirais mon
Dernier supplice
Il en est de pires il en est de meilleures
Mais à tout prendre
Qu’on se pende ici, qu’on se pende ailleurs
S’il faut se pendre.

Todos os sonâmbulos, todos os mágicos
disseram-me sem malícia
que nos seus braços em cruz
passarei meu ultimo suplício
Há piores, Há melhores
mas já que é preciso
que nos enforquemos aqui, melhor aqui que ali
se é mesmo necessária a forca

terça-feira, 10 de abril de 2012

Que deslize

Onde seus olhos estão
as lupas desistem.
O túnel corre, interminável
pouco negro sem quebra
de estações.
Os passageiros nada adivinham.
Deixam correr
Não ficam negros
Deslizam na borracha
carinho discreto
pelo cansaço
que apenas se recosta
contra a transparente
escuridão.

Ana Cristina Cesar

A teus pés, Editora Brasiliense, 1997 – São Paulo, Brasil

domingo, 8 de abril de 2012

Vorstellung(alemão ) : disfarce, dissimulação, fingimento; a representação no sentido psicológico como teatral.
"O medo é um sentimento que nos inspira a possibilidade real de sermos afetados por um mal real, por um mal que conhecemos pela experiência . "

Thomas Hobbes

sábado, 7 de abril de 2012

Atento às linhas do horizonte
ao alfabeto casual das árvores
o camponês lê as ovelhas
arrancando vírgulas da tarde
Um pássaro de papel
Sofre no canto do quintal
Malfeitas as dobraduras
asas não levam a nada
A lavadeira aproveita
a tarde vagarosa e triste
com as mãos na água
lava suas mágoas.

Fernando Paixão . Portugal
Hoje um flato mal disfarçado, amanhã um ligeiro transbordamento de humor bilioso, em seguida uma cólica desmoralizadora, e em breve o marido já não se esforça por esconder os seus calos e a sua dispepsia.

Aluísio de Azevedo.
O Livro de uma sogra
"Um homem com um espelho
enterrado no corpo
na verdade não dorme:reflete
um voo.
Enfim, esse homem
não pode falar alto demais
porque os espelhos só guardam
(em seu abismo)
imagens sem barulho. "

Ferreira Gullar
O Espelho do Guarda Roupa.
Gift(Dinamarquês): Casamento, veneno.

Amor e Morte

Guiei meu orgasmo contra todos os silêncios
e ressuscitei nos altos de uma encantação explodida
nos meus inumeráveis túmulos abertos
entre as abertas coxas da mulher amada.

Moacir Felix
Penúltimos Poemas
"Os anciães morrem porque já não são amados."
Montherlant
Anoitecida usina, protelada fissão
das liberdades urbi et orbi proibidas,
o grande som , o som que este tempo impede
comprime, esmaga, pulveriza e dissolve
com o seu peso global entre os meus ossos
a brancura melancólica
dos mortos, os meus mortos , silenciosamente me vestindo
com os buracos do não -ser , ainda sem nomes.

Moacir Félix
Penúltimos Poemas

Autocrítica Construtiva

A minha fraqueza
era
o meu sentimento
de superioridade
já consegui
superar isso
Agora sou
Perfeito.

Erich Fried
"O grande triunfo do adversário é fazer-nos crer o que diz de nós."

Paul Valery
Você deve notar que não tem mais tutu
E dizer que não está mais preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
E dizer que está recompensado.
Você deve estampar um ar de alegria
E dizer : tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão
E esquecer que está desempregado.

Gonzaguinha. (1972)

As enchentes

A água é a mãe da vida.Os homens rogam aos deuses que a mande, desde os tempos imemoriais.As rezas para que a chuva interrompa as estiagens constam até do Missal Romano . No Nordeste se fazem procissões implorando chuva desde os tempos coloniais.Entoam-se os benditos:"Rainha de eterna glória, Mãe de Deus, doce e clemente,dai-nos água que nos molhe, dai-nos pão que nos sustente."Talvez por temermos a escassez das águas é que o seu excesso nos pareça uma vingança da natureza.

Márcio Moreira Alves

sexta-feira, 6 de abril de 2012

En una tempestad

Huracán, huracán, venir te siento,
Y en tu soplo abrasado
Respiro entusiasmado
Del señor de los aires el aliento.

En las alas del viento suspendido
Vedle rodar por el espacio inmenso,
Silencioso, tremendo, irresistible
En su curso veloz. La tierra en calma
Siniestra; misteriosa,
Contempla con pavor su faz terrible.
¿Al toro no miráis? El suelo escarban,
De insoportable ardor sus pies heridos:
La frente poderosa levantando,
Y en la hinchada nariz fuego aspirando,
Llama la tempestad con sus bramidos.

¡Qué nubes! ¡qué furor! El sol temblando
Vela en triste vapor su faz gloriosa,
Y su disco nublado sólo vierte
Luz fúnebre y sombría,
Que no es noche ni día…
¡Pavoroso calor, velo de muerte!
Los pajarillos tiemblan y se esconden
Al acercarse el huracán bramando,
Y en los lejanos montes retumbando
Le oyen los bosques, y a su voz responden.

Llega ya… ¿No le veis? ¡Cuál desenvuelve
Su manto aterrador y majestuoso…!
¡Gigante de los aires, te saludo…!
En fiera confusión el viento agita
Las orlas de su parda vestidura…
¡Ved…! ¡En el horizonte
Los brazos rapidísimos enarca,
Y con ellos abarca
Cuanto alcanzó a mirar de monte a monte!

¡Oscuridad universal!… ¡Su soplo
Levanta en torbellinos
El polvo de los campos agitado…!
En las nubes retumba despeñado
El carro del Señor, y de sus ruedas
Brota el rayo veloz, se precipita,
Hiere y aterra a suelo,
Y su lívida luz inunda el cielo.

¿Qué rumor? ¿Es la lluvia…? Desatada
Cae a torrentes, oscurece el mundo,
Y todo es confusión, horror profundo.
Cielo, nubes, colinas, caro bosque,
¿Dó estáis…? Os busco en vano:
Desparecisteis… La tormenta umbría
En los aires revuelve un oceano
Que todo lo sepulta…
Al fin, mundo fatal, nos separamos:
El huracán y yo solos estamos.

¡Sublime tempestad! ¡Cómo en tu seno,
De tu solemne inspiración henchido,
Al mundo vil y miserable olvido,
Y alzo la frente, de delicia lleno!
¿Dó está el alma cobarde
Que teme tu rugir…? Yo en ti me elevo
Al trono del Señor: oigo en las nubes
El eco de su voz; siento a la tierra
Escucharle y temblar. Ferviente lloro
Desciende por mis pálidas mejillas,
Y su alta majestad trémulo adoro.

José María Heredia

fonte Clepsidra

http://luz-clepsidra.blogspot.com.br/

Sete luas

Há noites que são feitas dos meus braços
e um silêncio comum às violetas
e há sete luas que são sete traços
de sete noites que nunca foram feitas

Há noites que levamos à cintura
como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
duma espada à bainha de um cometa.

Há noites que nos deixam para trás
enrolados no nosso desencanto
e cisnes brancos que só são iguais
à mais longínqua onda de seu canto.

Há noites que nos levam para onde
o fantasma de nós fica mais perto:
e é sempre a nossa voz que nos responde
e só o nosso nome estava certo.

Natália Correia

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Nublando

Acordei!
A casa estava quente como o meu corpo.
No silêncio do quarto a percepção
De que o amanhã havia acabado de despertar.
Entre olhos sonolentos,
O corpo arrepiado,
Transformou a superfície lisa em leves ondas.
Todos os músculos foram esticados.
Cada fibra estendida ao extremo.
A boca abriu-se…
Na frente o espelho revelava a silhueta,
Que dengosa percebeu suas formas delicadas
Nas curvas acentuadas. Sorri…
O tempo nublado percorreu e penetrou no aposento.
Intrometido!
Transformou a quietude com o suave zumbir dos ventos.
Trocou a cor pálida das paredes.
Deu vontade de cobrir, ficar encolhida, quieta.
Era hora da partida que não pode deixar
para amanhã o adeus de todos os dias.
Deixei que os minutos passassem,
não fiz questão de segurá-los.
Que o tempo nublado chegasse,
penetrasse todos os meus poros.
Que as horas permitissem aos minutos serem donos do tempo.
No peito arfante os dois elementos se
misturaram, nublando
Meus pensamentos.
Fizeram do corpo moradia.

Tereza Cristina Fraga